Cinema: O Mundo é Grande e a Salvação Espreita ao Virar da Esquina

Estreou no passado dia 25, mas poucos poderão ter dado por ele. Além de ocupar um só dos milhares de ecrãs nacionais, teve nenhuma ou quase nenhuma divulgação nos media, partindo do próprio distribuidor. Uma pena, pois a única obra de Stephan Komandarev a estrear até hoje em Portugal merece bem ser vista e a sua mensagem propagada.

 

Tudo começa numa aldeia da Bulgária no despertar dos anos oitenta. Ao celebrar o seu sétimo aniversário, entre os pais e avós, Sashko, filho único, recebe das mãos do Avô uma bela caixa de madeira. Mais que uma caixa, é um jogo. Mais que um jogo, o firmar de uma aliança de amor que perdurará para além do tempo e da distância.

 

Um terrível desastre vem de súbito pôr fim a este idílio. O tempo passou. Sashko perdeu os pais num acidente de viação e está internado num hospital algures na Alemanha. Cabe agora ao Avô resgatá-lo das profundezas da sua amnésia e do seu trauma e ajudá-lo a descobrir quem é… ou pode vir a ser.

 

Está feito o convite de Komandarev para uma irresistível viagem no tempo, ou melhor, a dois tempos, passado e presente, que nos transporta pela história de um par de pessoas, que é ao mesmo tempo a história de duas gerações e, quase inevitavelmente, a de um país. Todos eles caminhos entrecruzados e por vezes formando um só: um caminho de dor; um caminho de esperança.

 

Sem lugar a excessos trágicos, a obra consegue uma envolvência permanente graças à delicadeza com que os temas da morte, do amor ou da amizade são explorados. Com igual e manifesta sensibilidade e clareza, do argumento à sua transposição, passando por trabalho fotográfico e desempenho dos actores, é gerida a relação entre avô e neto: quanto mais aberta para o espectador, mais se estreita entre ambos.       

 

Obra escolhida para atribuição do prestigiado Prémio Signis, entre as 190 que constaram do cartaz do Festroia em Setembro passado, “O Mundo é grande e a Salvação Espreita ao Virar da Esquina” comporta, além de um grande título, uma grande mensagem que aponta directamente no sentido da renovação e transcendência!  

 

Uma belíssima proposta para o tempo de Advento!

 

Margarida Ataíde

 

 

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