Viseu: Jornadas Teológicas identificam as raízes cristãs do individualismo moderno

O primeiro dia das Jornadas Teológicas de Viseu, 22 de Novembro, ficou marcado pela discussão sobre o individualismo moderno e a forma como este fenómeno está relacionado com o cristianismo.

Numa conferência realizada no Auditório do SeminárioMaior de Viseu, João Duque, da Faculdade de Teologia de Braga, abordou esta temática ao falar sobre os desafios postos à Igreja, na sociedade actual. O teólogo falou das questões do individualismo, do relativismo, do subjectivismo e do ressurgimento do religioso “selvagem” que exigem da Igreja uma exposição clara dos valores que dão dignidade à pessoa humana, na sua relação com Deus, valor absoluto.

Segundo o orador, a cultura, em todos os tempos, foi sempre um espaço de oportunidades para a Igreja cumprir a sua missão evangelizadora. A dignidade da pessoa humana e o valor intrínseco do indivíduo têm raízes cristãs. O individualismo só se torna negativo quando, na afirmação da pessoa, a absolutiza, sem relação com Deus, que é O Absoluto.

Encontrar o equilíbrio entre o subjectivo e a obediência absoluta ao institucional é o desafio que é posto à Igreja, para que a dignidade da pessoa humana seja verdadeiramente valorizada e respeitada, neste mundo, ao mesmo tempo, altamente individualista e massificado, onde os sistemas de comunicação apostam na manipulação, “matando” a liberdade de escolha.

O desafio coloca-se igualmente a cada pessoa, no exercício da sua liberdade, condição de afirmação e realização da sua dignidade.

Divinizar sistemas ou instituições leva facilmente ao esmagamento da pessoa. E a Igreja não pode ter apenas o papel de “tratar os esmagados”, tem de ser voz profética de denúncia e gerar alternativas, para que outros não sejam esmagados. A Igreja não pode deixar-se instrumentalizar como “apaziguadora” dos oprimidos, ao socorrê-los; deve provocar a mudança.

As novas formas de expressão do religioso, desde a sacralização da ciência às “religiões” científicas e misticismos de inspiração oriental, constituem um novo mundo de deuses a que as pessoas aderem, numa espécie de “pronto a vestir” para a resolução imediata dos problemas do quotidiano pessoal.

A Igreja tem que oferecer o que lhe é específico – razões de vida, que dão à pessoa humana uma relação com Deus, valorizando o indivíduo, na sua relação com os outros, tal como a relação no mistério da Santíssima Trindade, onde a afirmação da individualidade contribui para a unidade.

As Jornadas Teológicas, que terminam esta Quarta-feira, são organizadas pelo Instituto Superior de Teologia de Viseu, e tem como tema “Dar esperança à sociedade em mudança”.

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