Bento XVI assegura vontade de diálogo com os judeus

Papa defende figura de Pio XII e precisa alterações realizadas na liturgia católica

Bento XVI manifestou a sua vontade de manter o diálogo com os judeus, numa rara entrevista que vai ser publicada a 23 de Novembro.

Nas declarações ao jornalista alemão Peter Seewald, antecipadas pelo jornal do Vaticano, «L’Osservatore Romano», o Papa recorda os seus estudos teológicos e a experiência do regime nazi, que o levaram a “olhar o povo de Israel com humidade, vergonha e amor”.

Para Bento XVI, “em absoluta continuidade com João Paulo II”, é essencial anunciar a fé cristã atendendo ao “entrelaçar de Israel e a Igreja, baseado no modo de ser de cada um e a sua respectiva missão”.

Nesse contexto, o Papa explicou as alterações que promoveu na oração de Sexta-feira Santa pelos judeus do Missal de 1962 (anterior ao Concílio Vaticano II), pedindo que o Senhor “ilumine o seu coração” para que reconheçam em Jesus “o salvador de todos os homens” e todo o povo de Israel “seja salvo”.

A oração, precisa, foi modificada de forma a que ficasse expressa a fé cristã de que “Cristo é salvação para todos” e é, por isso, “salvador dos judeus”, sem, no entanto, se rezar “directamente pela conversão dos judeus em sentido missionário”.

Nesse contexto, o Papa lamentou “argumentos utilizados polemicamente” por alguns teólogos, contra si, que considera “não fazer justiça” ao que realizou.

Outra questão delicada no que diz respeito ao diálogo judaico-católico é a avaliação do pontificado de Pio XII (1876-1958), Papa que guiou a Igreja durante a II Guerra Mundial (foi eleito a 1 de Março de 1939).

Para Bento XVI, Pio XII foi “um dos grandes justos, e salvou, mais do que ninguém, muitos e muitos judeus” e fez “todos os possíveis para salvar as pessoas”.

“Naturalmente, é sempre possível perguntar: ‘Por que não protestou de maneira mais explícita?’ Acredito que percebeu quais seriam as consequências que um protesto público poderia gerar”, diz o Papa.

“Pessoalmente, sofreu muitíssimo por causa desta situação, sabemos disso. Sabia (Pio XII) dentro dele que deveria ter falado, no entanto, a situação impedia-o”, acrescenta.

Alguns, afirma o Papa, “admitem que Pio XII salvou muitas vidas, mas sustentam que tinha ideias antiquadas sobre os judeus e que não estava à altura do Concílio Vaticano II. O problema, contudo, não é esse”.

“O importante é o que fez e o que procurou fazer, acredito que é preciso reconhecer, de facto, que foi um dos grandes justos”, declarou.

A 19 de Dezembro de 2009, Bento XVI proclamou Pio XII “venerável”, última etapa antes da beatificação, suscitando protestos de diversas comunidades judaicas.

 

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Agência ECCLESIA

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