Crise deve mobilizar católicos portugueses

D. Manuel Clemente apela à prática dos valores consagrados pela Doutrina Social da Igreja

Numa altura em os partidos políticos discutem a o Orçamento de Estado (OE) para 2011, D. Manuel Clemente considera que o papel dos cristãos, nesta altura decisiva para o país, passa muito pela aplicação da Doutrina Social da Igreja.

“O melhor contributo que as comunidades cristãs podem dar para a crise, quer a nível local quer internacional, é que se motivem, para estar com critérios evangélicos, em todas estas situações”, defende o bispo do Porto, em declarações à ECCLESIA.

Ressalvando que grande parte das decisões cabe ao poder político, “porque a Igreja em si não tem a peritagem técnica”, o prelado não deixa de apontar que os responsáveis eclesiais têm de fazer o seu trabalho, consciencializando as comunidades de que há valores, transmitidos pelo Evangelho, que têm de estar presentes na sociedade.

Valores como “o bem comum, a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, a subsidiariedade, são coisas concretas”, explica D. Manuel Clemente, reforçando que o cristão, esteja onde estiver, “tem critérios para ajuizar as situações e depois encarreirar iniciativas”.

Recorde-se que as delegações do Governo e do PSD vão prosseguir hoje, ao final da manhã, no Parlamento, as negociações sobre o OE para 2011.

Para Zita Seabra, ex-deputada, a actual proposta de orçamento “é inevitável, tendo o pais chegado ao caos a que chegou neste momento”.

No entanto, a actual presidente da Alêtheia Editores não deixa apontar falhas às linhas de acção traçadas pelo Governo, referindo, em declarações à Agência ECCLESIA, a falta de “uma política clara de apoio às empresas, para que elas resistam à conjuntura e até se fortaleçam”.

A antiga vice-presidente da Comissão Política do PSD aproveita para sublinhar que “são as empresas que criam empregos” e medidas como a subida dos impostos e taxas de juro só contribuem para o agravar da situação.

Numa sociedade “quase sem valores, onde apenas se olha para o próprio umbigo”, Zita Seabra defende que os empresários cristãos podem contribuir para a mudança através do seu exemplo ético e da defesa de regras mais claras.

“Exige-se da parte dos empresários cristãos um grande bom senso e realismo, sabendo que são pessoas que estão por detrás de muitos dos dramas sociais com que a sociedade portuguesa se vai inevitavelmente enfrentar e se está já a enfrentar”, conclui a política e editora portuguesa.

Francisco Sarsfield Cabral considera, por seu lado, considera que “a austeridade em Portugal é inevitável”, frisando que “os portugueses gastam 10% acima daquilo que produzem”.

Para este especialista, a crise “coloca um enorme desafio aos católicos portugueses”, o de “mostrar que são capazes de a viver de forma positiva, mobilizando os outros, não para se lamentarem ou insultarem os políticos, mas para redobrar os esforços de solidariedade que já estão em marcha por parte de inúmeras instituições”.

Num texto escrito para o semanário Agência ECCLESIA, Sarsfield Cabral defende que, se o Orçamento passar, haverá “severas medidas de aumento de impostos e cortes na despesa pública, nomeadamente nos apoios sociais”.

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