Cáritas de Braga critica corte de prestações sociais

Não há dinheiro para comida nem medicamentos. Desemprego, doença e ausência de retaguarda familiar aumentam número de pedidos de ajuda

A Cáritas diocesana de Braga critica o corte das prestações sociais previsto na proposta do Governo para o Orçamento do Estado, numa altura em que aumenta diariamente o número de pedidos de ajuda.

“As pessoas nem dinheiro têm para o pagamento das despesas básicas – renda de casa, água, luz –, quanto mais para a compra de medicação, que é fundamental quando estamos a falar de doenças crónicas graves como o cancro”, refere à Agência ECCLESIA a secretária de direcção da Cáritas bracarense, Eva Ferreira.

A proposta do Orçamento do Estado para 2011 apresentada pelo Governo assegura que uma das prioridades é “manter o apoio aos cidadãos e famílias mais carenciados”, ao mesmo tempo que reduz as prestações sociais em 0,6% do Produto Interno Bruto.

“Parecem-me medidas incoerentes”, afirma a responsável, que também critica o corte da comparticipação em alguns medicamentos e a eliminação da verba anual, em complemento à prestação mensal, atribuída aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção: “Havendo alguma despesa extra, está fora de questão pagá-la”.

“Nas últimas semanas, o número de casos encaminhados pelas equipas da Segurança Social para a Cáritas quase que duplicou, e vai aumentar ainda mais”, assinala Eva Ferreira, para quem os tempos mais difíceis ainda estão para vir: “Isto é só o princípio. Temos a consciência que não vai ser fácil”.

As situações mais graves verificam-se quando ao desemprego se juntam necessidades relacionadas com a saúde, especialmente em pessoas sem retaguarda familiar, explica a psicóloga de 30 anos, que é especialmente sensível às mães sem recursos para alimentar os filhos: “Não ter sequer dinheiro para comprar leite para um bebé é uma situação que, para nós, é difícil de gerir em termos emocionais”.

Acompanhamento social, balneário, refeitório, roupeiro, apoio a vítimas de violência doméstica, banco de equipamento médico-hospitalar e gestão de uma residência partilhada, resultante de um protocolo com a empresa municipal de habitação, são alguns dos serviços disponibilizados pela Cáritas.

O total de atendimentos nos primeiros dez meses deste ano aproxima-se do registo atingido em 2009, e “não é só o número que cresce, é também a gravidade das situações”, realça Eva Ferreira.

O acréscimo na procura de géneros alimentares vai obrigar à realização de uma campanha de recolha a 30 e 31 de Outubro, no hipermercado Continente de Braga, dado que “o apoio do Banco contra a Fome não tem sido suficiente, nem de perto nem de longe, para dar resposta aos pedidos”, explica a responsável.

A acção da Cáritas centra-se igualmente na reformulação dos projectos de vida e no tratamento dos sintomas depressivos: “Muitas vezes as pessoas não acreditam que seja possível arranjar um emprego e mudar a sua situação”, constata a técnica.

Depois de trabalhar a estabilidade emocional, é preciso resolver o “défice de competências pessoais e sociais”, dado que, no entender da psicóloga, “não adianta inserir as pessoas em cursos profissionais quando lhes faltam capacidades mais básicas”.

O apoio concedido aos mais de cinco mil utentes é garantido por três funcionários, além de um corpo técnico afecto a projectos financiados pelo Estado, composto por sete pessoas, embora apenas duas a tempo inteiro.

A acção da Cáritas seria menos abrangente se não fossem os 25 voluntários que semanalmente oferecem parte do seu tempo: “Sem eles, seria quase impossível manter algumas das valências. O seu contributo é fundamental”, garante a responsável.

Igualmente essenciais são os donativos, com os quais a Cáritas dá a mão a quem precisa: “As pessoas, empresas e escolas têm sido muito generosas com a nossa instituição”, reconhece Eva Ferreira, que no entanto teme a diminuição das doações.

“Temos consciência que, nesta fase, as pessoas vão cortar todas as despesas. Por mais solidárias que sejam, o seu apoio vai diminuir, o que vai dificultar ainda mais a nossa acção”, conclui.

As alterações ao abono de família no âmbito das novas medidas de austeridade foram hoje publicadas em Diário da República.

Segundo o decreto-lei, a partir de 1 de Novembro, é eliminada a atribuição do abono de família aos escalões mais elevados. Assim, cessa a atribuição do abono correspondente aos 4.º e 5.º escalões, que correspondem a rendimentos brutos anuais superiores a 8803,63 euros.

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