Os desafios do Leste para a Igreja Católica

O cardeal Walter Kasper, responsável do Vaticano pelo diálogo com as Igrejas cristãs, manifestou-se satisfeito pelos resultados obtidos na sua visita a Moscovo O cardeal Walter Kasper, responsável do Vaticano pelo diálogo com as Igrejas cristãs, manifestou-se satisfeito pelos resultados obtidos na sua visita a Moscovo. O cardeal alemão foi recebido ontem pelo Patriarca Ortodoxo de Moscovo e de todas as Rússias, Alexis II, naquele que constituiu o primeiro encontro do género nos últimos dois anos. “Estou muito satisfeito com o balanço desta visita. O diálogo continua”, declarou o cardeal Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Além da reunião de ontem, há a assinalar a criação de comissão conjunta Católico-Ortodoxa, encarregada de abordar os muitos problemas ainda não solucionados, no diálogo ecuménico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa da Rússia, como um dos resultados de monta desta visita, que decorreu entre 17 e 22 de Fevereiro. Alexis II e o cardeal Kasper falaram de “objectivos comuns” às duas Igrejas, mas nem por isso o Patriarca de Moscovo evitou as tradicionais acusações de “proselitismo”, dirigidas à presença dos católicos nos territórios da antiga União Soviética. Talvez por isso mesmo, o representante do Vaticano considere prematura uma visita de João Paulo II à Rússia. “O Papa tem muito vontade de vir à Rússia, mas não o podemos fazer contra a vontade da Igreja Ortodoxa Russa”, assegurou. Alexis II exprimiu igualmente o seu descontentamento pela criação de 4 dioceses católicas na Rússia, há dois anos, e exigiu que cessem imediatamente todas as actividades missionárias na Rússia. “Trata-se de proselitismo directo, algo que não pode existir entre duas Igrejas irmãs”, disse. Neste caso o cardeal alemão tentou colocar alguma água na fervura, indicando que “a Rússia não é um país pagão” e avisando os católicos locais em relação a uma atitude missionária. No discurso que proferiu no Conselho Pastoral da Igreja Católica local, na Catedral “Maria Imaculada”, de Moscovo, o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos lembrou que “os Católicos e os Ortodoxos rezam o mesmo Pai-nosso” e que a sua separação “é contrária à vontade de Jesus”. A polémica com a Igreja Orotodoxa Russa passa também pela possibilidade de criação de uma Patriarcado greco-católico na Ucrânia. O compromisso católico em conservar “as relações com as Igrejas Ortodoxas” deverá passar pelo não cumprimento desse anseio dos católicos na Ucrânia, dado que o cardeal Kasper já o tinha deixado adivinhar e que manifestou claramente Patriarca Alexis II que “a opinião unânime das Igrejas Ortodoxas foi objecto de uma séria consideração por parte da direcção da Igreja Católica”. Apesar de todas as boas indicações que os primeiros dias de visita têm deixado, o cardeal Kasper mostra-se realista e vinca aos católicos da região que “não tenho ilusões, sei que esta tarefa não é fácil: conheço as reservas e os preconceitos de parte a parte, os obstáculos, as dificuldades, a longa história de divisão e tudo o que a caracterizou”. “O caminho para a plena unidade ainda é longo”, concluiu.

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