Europa não sabe «dividir o mínimo necessário» para a sobrevivência dos imigrantes, denuncia arcebispo de Salvador

D. Geraldo Agnelo, que preside à Peregrinação Internacional de Outubro a Fátima, expressou «veneração» por Portugal, elogiou herança do Padre António Vieira e analisou momento político no Brasil

O arcebispo de São Salvador da Bahia, D. Geraldo Agnelo, pediu a Portugal para não ser um “povo fechado”, recusando a tendência dos restantes estados da União Europeia no que respeita ao acolhimento dos estrangeiros.

O prelado recordou que os europeus foram sempre “muito bem recebidos” quando emigravam mas agora os seus países de origem “não sabem receber os de fora nem dividir o mínimo necessário para a sua sobrevivência”.

Na conferência de imprensa realizada esta Terça-feira, antes do início oficial do programa da peregrinação de 13 de Outubro a Fátima, o cardeal declarou que a mensagem deste santuário mariano “é uma voz para o mundo” e “um apelo à conversão”, dirigido “não só aos católicos” mas a “todas as gentes”.

O arcebispo da diocese mais antiga do Brasil manifestou a sua “veneração” por Portugal e evocou o padre António Vieira (1608-1697), que aos seis anos de idade chegou a Salvador, cidade onde concluiu os estudos, desde a iniciação até à Teologia.

Para D. Geraldo Agnelo, que preside a esta peregrinação, o sacerdote jesuíta foi “um grande dom” concedido por Deus ao Brasil, e a sua herança mantém-se viva: “Os sermões dele podiam ser hoje repetidos, sem nenhuma dúvida, porque são aplicáveis aos nossos tempos”, referiu.

“Podemos dizer, como Fernando Pessoa, que ele é o imperador da língua portuguesa”, acrescentou.

Referindo-se às eleições presidenciais no Brasil, cuja segunda volta está marcada para o último dia deste mês, o prelado recusou indicar a preferência da Igreja Católica em relação aos dois candidatos, Dilma Roussef, a mais votada a 3 de Outubro, e José Serra.

“Não queremos dizer quem deve ser eleito, mas em consciência não podemos escolher alguém que seja contra a vida, e portanto a favor do aborto”, sublinhou o cardeal, aludindo a um dos principais temas da segunda volta das eleições.

Segundo D. Geraldo Agnelo, o papel da Igreja é contribuir para que os eleitores não pensem que “a política é uma troca de favores entre aqueles que se apresentam [ao cargo de presidente da República] e o povo, mas a escolha de alguém que representa cada pessoa na busca de uma política para o bem comum”.

Cada eleitor deve procurar “examinar” os candidatos, optando por quem tenha “um passado sem mancha e no qual se possa confiar”, frisou.

Ao avaliar o trabalho realizado pelo actual presidente, Lula da Silva, o cardeal considerou que “há muita coisa que ainda deve ser feita”: “Por mais boa vontade que ele tivesse, é claro que não poderia ter tocado em todos os pontos, ainda que os quisesse resolver”.

Uma das questões que levantou mais críticas durante os dois mandatos de Lula da Silva foi a protecção da população indígena, estimada em 6 milhões de habitantes ao tempo da chegada dos navegadores portugueses, mas que hoje é pouco superior a 400 mil, número que ainda assim é o dobro do mínimo já registado.

“É preciso um trabalho grande para preservar aqueles que jamais aceitaram uma condição de escravos”, afirmou.

D. Geraldo Agnelo apelou também à concretização de uma política “que dê trabalho para todos”, a uma reforma agrária “justa” e à preservação ecológica, nomeadamente dos grandes rios.

O arcebispo de São Salvador da Bahia também lamentou a degradação da parte antiga da cidade sede da arquidiocese, o que se reflecte na degradação do património religioso.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top