Cristãos são «não-cidadãos» no Médio Oriente

Relator do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente descreve realidade da Igreja Católica na região

“Em geral, os muçulmanos não distinguem entre religião e política”, sendo esta a principal causa de atritos com os cristãos, afirmou hoje o relator do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente.

Na alocução proferida no segundo dia daquela assembleia, que decorre no Vaticano até 24 de Outubro, o Patriarca de Alexandria dos Coptas (Egipto), Antonios Naguib afirmou que os cristãos “se sentem numa situação de não-cidadãos, ainda que se encontrem na sua pátria, nos seus países muito antes do Islão”.

“O Ocidente é identificado com o cristianismo e as decisões dos seus Estados são atribuídas à Igreja”, quando na verdade “os seus governos são laicos e cada vez mais se opõem aos princípios da fé cristã”, disse o prelado, que realçou a importância de “explicar esta realidade e o sentido de uma laicidade positiva que distingue o político do religioso”.

Perante o Papa Bento XVI, que presidiu à sessão, D. Antonios Naguib apelou a “um reconhecimento que passe da tolerância à justiça e à igualdade, baseado na cidadania, liberdade religiosa e direitos humanos”.

O Patriarca de Alexandria recordou que a posição dos cristãos árabes “é muito delicada”, tendo-se referido à sua situação nos territórios palestinos, onde “a vida é muito difícil, às vezes insustentável”.

D. Antonios Naguib também denunciou a indiferença da “política mundial” ao não ter “em suficiente consideração a situação trágica dos cristãos no Iraque, que são as “vítimas principais da guerra e das suas consequências”.

A liberdade de culto está constitucionalmente garantida na maior parte dos países do Médio Oriente, mas o prelado denunciou a existência de leis e práticas limitadoras da liberdade de consciência.

Sublinhando que a “Igreja Católica condena com firmeza todo o proselitismo”, o patriarca lamentou a existência de obstáculos, em alguns países, a quem deseja aderir ao Evangelho “por temor de represálias”.

O relator do Sínodo dos Bispos reconheceu que o conflito israelo-palestiniano tem consequências negativas na relação entre cristãos e judeus, mas salientou a recusa do anti-semitismo: “Distinguimos a realidade religiosa da realidade política”, disse.

Para o Patriarca de Alexandria, a presença dos cristãos no Médio Oriente deve distinguir-se pelo “serviço aos demais” e não pela “pertença confessional”: “A nossa tarefa primordial é viver a fé, deixar que as nossas acções falem por si, ver a verdade e proclamá-la na caridade, com coragem”.

Os “numerosos” estabelecimentos de ensino, os centros médicos e as instituições de apoio social da Igreja “constituem um testemunho eloquente do amor ao próximo, sem distinção nem discriminação alguma”, assinalou o prelado.

O Sínodo pode ser definido, genericamente, como uma assembleia consultiva de bispos que representam o episcopado católico, convocados para ajudar o Papa no governo da Igreja, dando o seu próprio conselho.

A sessão especial do Sínodo dos Bispos, dedicada ao Médio Oriente é a 24ª desde 1967, somando-se a 12 assembleias gerais ordinárias, duas extraordinárias (1969 e 1985) e outras nove assembleias especiais: duas para a Europa; duas para a África; uma para a Ásia, América e Oceânia; uma para os Países Baixos e outra para o Líbano.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top