Pobreza: compromissos falhados e avanços

Cimeira das Nações Unidas sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio conta com o envolvimento da Igreja Católica

“Provavelmente os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODC) não vão ser alcançados” em 2015 mas tem havido “um esforço grande e inovador” a nível mundial para os concretizar.

A perspectiva de Margarida Alvim, responsável da Rede Fé e Desenvolvimento, da Igreja Católica, foi transmitida à Agência ECCLESIA esta Segunda-feira, primeiro dia da cimeira de líderes mundiais convocada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

O encontro, que decorre em Nova Iorque até Quarta-feira, será uma oportunidade para redobrar os esforços com vista à realização dos oito objectivos definidos em Setembro de 2000 pelos líderes mundiais, depois de uma década de conferências e reuniões.

Para Margarida Alvim, 36 anos, é preciso “perceber em que prisma é que se avalia o sucesso ou insucesso” das metas concertadas para 2015, que incluem a redução para metade da pobreza extrema, o acesso universal à educação básica, a melhoria da saúde nas crianças e mães, o combate à SIDA, a garantia da igualdade de género, a sustentabilidade ambiental e a criação de parcerias mundiais para o desenvolvimento.

“Se olharmos para as metas quantificáveis que foram assumidas, provavelmente não vão ser atingidas. Mas se fizermos uma análise mais fina dos resultados alcançados nos últimos 10 anos, há muitas experiências positivas a aproveitar e que significaram avanços”, salienta a coordenadora.

A verificação dos resultados globais deixa antever um falhanço daqui a cinco anos, mas segundo Margarida Alvim é preciso olhar para os sinais positivos observados a nível local, onde se verificaram melhorias significativas, designadamente a nível da saúde e da educação.

“Se resulta ali, porque não há-de resultar noutras regiões?”, pergunta a responsável, que está consciente da dificuldade de sensibilizar os portugueses para a pobreza noutros países.

Redistribuir

Margarida Alvim reconhece que em Portugal “há condições de vida muito difíceis”, mas “mesmo assim o nosso país é um dos mais ricos do mundo”, pelo que “é importante irmos mostrando esta comparação de realidades: sim, aqui temos problemas graves, mas noutros lugares essas dificuldades são muito mais complicadas”.

De acordo com o mais recente relatório AidWatch, Portugal será incapaz de cumprir o objectivo de destinar 0,51% do seu Produto Interno Bruto para a ajuda pública ao desenvolvimento em 2010.

O documento, citado pela Tese, refere que em 2009 as contribuições fixaram-se em 0,23% do PIB, em comparação com os 0,27% de 2008, fazendo com que Portugal se afaste cada vez mais da meta de 0,7% para 2015 e se torne um dos três piores países da União Europeia (a 15 Estados) naquele índice.

Os compromissos assumidos são para cumprir, frisa Margarida Alvim, embora a responsável admita que “os tempos são complicados” e “pedir mais dinheiro é um pouco utópico”.

Face à escassez de recursos, é preciso aplicá-los com “criatividade” e “inovação”, por exemplo através do lançamento de um imposto sobre as transacções financeiras, maior combate à evasão fiscal e vigilância sobre a corrupção, propõe.

“O problema não é a falta de dinheiro mas o modo como está a ser gerido e investido. Não se trata de dar mais mas gastar melhor”, assinala Margarida Alvim.

No entender da coordenadora, o “Objectivo do Milénio” mais urgente continua a ser o de eliminar a fome e a pobreza, “sobretudo depois desta crise, que veio atrasar os avanços que já tinham sido dados”.

As três metas que as Nações Unidas estabeleceram para chegar a esta finalidade – reduzir para metade a população cujo rendimento é inferior a um dólar por dia e as pessoas que passam fome, além de conseguir trabalho para todos” – exigem melhorar a agricultura e os mercados nos países mais pobres, o que, para Margarida Alvim, “implica regras comerciais mais justas a nível global”.

Entre as maiores preocupações da responsável estão também as consequências das alterações climáticas – cheias e tempestades, por exemplo – nos países mais pobres, que são quem menos contribui para o desequilíbrio ambiental.

A igualdade de género completa as prioridades da coordenadora: “A pobreza tem um rosto feminino”, diz, acrescentando que o acesso à educação e saúde por parte da mulher é uma aposta com “repercussões muito positivas no desenvolvimento”.

O programa da Igreja Católica na Antena 1 do último Domingo foi dedicado ao envolvimento de organizações eclesiais na concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

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