Uma equipa de três elementos dos Leigos Missionários da Boa Nova (LMBN) encontra-se retida na cidade de Maputo, para se proteger dos tumultos que se estão a desenrolar na região desde ontem, dia 1.
O grupo chegou no dia 29 de Agosto, vindo de Malema e está retido em casa, no Bairro do Aeroporto.
Diana Salgado está a coordenar as actividades dos LMBN em Moçambique, que tinha como objectivo, esta semana, perceber o tipo de trabalho que poderia ser feito em Maputo.
“Desde ontem que estamos aqui fechados. Temos aqui ao pé de casa uma estrada principal, mas as pessoas que aqui nos conhecem não nos deixam ir mais longe” avança a missionária.
Hoje, dia 2, a situação parece estar mais calma, “mas as ruas continuam cheias de gente, ninguém foi trabalhar”, refere ainda aquela responsável.
Mesmo as escolas pertencentes aos missionários estão todas fechadas. “Com o fim-de-semana a chegar, diz a missionária, “queremos acreditar que tudo se vai normalizar. Nós vamos embora na terça-feira, e queríamos ao menos perceber o tipo de trabalho que podemos desenvolver aqui”.
Ontem foi o dia pior, de acordo com a coordenadora dos Leigos da Boa Nova, porque “se ouviu muitos tiros, durante todo o dia e uma parte da noite viu-se muito fumo, por causa dos pneus a arder pelas ruas”.
Houve uma falha de electricidade até ao início da noite, “onde houve um aproveitamento muito grande, para a realização de actos de vandalismo”, lamenta a coordenadora dos LMBN.
Por agora, o grupo vai continuar fechado em casa – “por muito trabalho que quiséssemos desenvolver, é praticamente impossível” conclui Diana Salgado.
O padre Anastácio Jorge acompanha a Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN) e está a acompanhar este grupo.
“Éramos para ir ter ao Chibuto, para estar com colegas nossos que estão lá a trabalhar também, mas as estradas estão todas barricadas e os carros não circulam e, por razões de segurança. A cidade está completamente parada, parece uma cidade fantasma” conta o sacerdote.
O padre Anastácio Jorge diz que “ninguém ficou surpreendido com isto, nem o próprio governo, nem a polícia, já se previa, analistas políticos aqui em Moçambique já diziam que isto ia acontecer”
Os aumentos de preços em Moçambique são vertiginosos, em áreas muito sensíveis como o pão, a água e a energia. Segundo o sacerdote, “com este último aumento, a energia em Moçambique ficou altamente cara e as pessoas não aguentam. O salário mínimo é à volta de 50 euros mensais, mas grande parte não ganha esse salário, e os preços da água e da energia já são comparáveis aos de Portugal, o que dá para perceber aquilo que custa às pessoas manterem-se vivas”.
Daquilo que consegue descrever, da situação do país, o missionário fala dos bairros cheios de gente desempregada, famílias muito grandes, de 11 a 15 elementos.
“Há um descontentamento generalizado entre a população, porque vêem que há uma classe mais rica, que vive bem, que suporta as coisas, e há cada vez um espectro de pobreza maior, sem fim à vista”.
O padre Anastácio Jorge lamenta ainda “a violência e o oportunismo que se gerou, e o facto de, em vez do povo protestar de forma organizada, tudo descambar em clima de caos, onde os inocentes acabam por pagar”.
O conselho de ministros já anunciou uma decisão, em que mostrou a inflexibilidade do governo face à baixa de preços pretendida pela população. O governo vai tentar manter a ordem pública e que os aumentos previstos vão continuar, porque há uma situação aflitiva para a economia do país.
“Vamos ver como é que a população vai reagir, porque começa a haver muitas pessoas com dificuldade para sobreviver. Depois, o governo tem ainda que lidar com uma realidade nova, que é a pobreza urbana” explica o responsável pelos Missionários da Boa Nova.
A instituição tem actualmente 12 missionários leigos a colaborar nos trabalhos, divididos em grupos de 3 pelas regiões de Maputo, Chibuto, Malema e Pemba. Há neste momento uma equipa da ARM, antigos alunos da sociedade missionária, que está retida em Chiibuto.
Os responsáveis esperam que amanhã ou Sábado consigam trazê-los para Maputo em segurança, para depois os levarem ao aeroporto.