Audiência geral dedicada à teóloga, poeta e compositora Santa Hildegarda lembrou importância das mulheres nas estruturas eclesiais
Bento XVI salientou hoje a necessidade de as visões místicas terem de ser submetidas à Igreja Católica e validadas pelos seus responsáveis antes de serem difundidas pelos fiéis.
Na audiência geral realizada esta Quarta-feira na residência pontificia de Castel Gandolfo, perto de Roma, o Papa frisou que “a pessoa depositária dos dons sobrenaturais” não os ostenta e, “sobretudo, mostra total obediência à autoridade eclesiástica”.
As palavras de Bento XVI foram proferidas a propósito da catequese que dedicou a Santa Hildegarda de Bingen, que nasceu no ano de 1098, em Bermersheim, actual Alemanha, e morreu em 1179.
“Como sempre sucede na vida dos verdadeiros místicos”, afirmou o Papa, também Hildegarda quis submeter as suas revelações à “autoridade de pessoas sábias para discernir a origem das suas visões, temendo que fossem fruto de ilusões e que não viessem de Deus”.
Em 1147, o Papa Eugénio III autorizou a mística a divulgar publicamente as suas visões e a falar delas em público, pelo que a partir de então o “prestígio espiritual de Hildegarda cresceu sempre mais, ao ponto de os contemporâneos lhe atribuírem o título de ‘profeta teutónica’”, recordou Bento XVI.
Os dotes “de mulher culta, espiritualmente elevada e capaz de enfrentar com competência os aspectos organizativos da vida claustral” manifestaram-se plenamente a partir de 1136, ano em que foi eleita superiora do mosteiro beneditino de São Disibodo.
Devido ao número crescente de raparigas que batiam à porta do mosteiro, Hildegarda fundou mais tarde uma comunidade monacal em Bingen, onde passou o resto da vida, tendo-se distinguido pelo modo como exercitou o serviço da autoridade, que Bento XVI classificou de “exemplar para todas as comunidades religiosas”.
O Papa referiu-se à Carta Apostólica “Mulieris dignitatem”, escrita em 1988 por João Paulo II, no excerto onde se assinala que “a Igreja agradece todas as manifestações do ‘génio’ feminino surgidas no curso da história, no meio de todos os povos e Nações”.
O trecho do documento citado por Bento XVI lembra “todos os carismas que o Espírito Santo concede às mulheres” e as vitórias que se devem “à fé, esperança e caridade das mesmas”, ao mesmo tempo que reconhece “os frutos de santidade feminina”.
Na breve alocução proferida em língua portuguesa no fim da audiência, Bento XVI mencionou um conjunto de religiosas salesianas de Portugal, Moçambique e Brasil que incluía duas irmãs das comunidades de Cascais e Chainça.
“Saúdo com grande afecto e alegria a todos os peregrinos de língua portuguesa, de modo especial ao grupo de irmãs salesianas e aos fiéis da paróquia de Évora. Seguindo o exemplo de Santa Hildegarda de Bingen, possais sempre colocar os dons de Deus a serviço da edificação das vossas comunidades. Desça a minha bênção sobre vós e vossas famílias”, disse Bento XVI.
A Agência ECCLESIA perguntou aos serviços da Cúria da Arquidiocese eborense qual a paróquia que teria estado em Castel Gandolfo, mas o Vigário Geral, Pe. Eduardo Pereira da Silva, afirmou desconhecer a presença de qualquer comunidade na audiência desta Quarta-feira.
De acordo com aquele responsável, a última comunidade da arquidiocese que se avistou com Bento XVI foi a Paróquia de Santo Antão, da cidade de Évora, que organizou um passeio-peregrinação a Itália entre 17 e 24 de Julho.
Na mensagem lida em castelhano, o Papa dirigiu-se aos participantes do 3.º Congresso Latino-Americano de Jovens, que se realiza entre 5 e 12 de Setembro, na Venezuela, sob o tema “Caminhemos com Jesus para dar Vida aos nossos povos”.
“Queridos jovens, que estes dias de convivência, oração e estudo sirvam para vos encontrardes pessoalmente com o Senhor e escutar a sua Palavra. Não ficareis defraudados, pois Ele tem para todos desígnios de amor e salvação. O Papa está do vosso lado e reitera-vos a sua confiança”, declarou Bento XVI.