Espírito de missão é o futuro da Igreja

Para já, o desafio passa por aplicar de forma eficaz as ideias da carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal»

Dois anos depois de ter sido pedida no Congresso Missionário de 2008, a carta pastoral “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal”, tem vindo a ser progressivamente lançada nas dioceses, ainda que não à velocidade desejada.

O padre Tony Neves, director das obras missionárias da diocese de Lisboa, defende que este espírito missionário que se está a criar é “um sinal de futuro” e uma “revolução silenciosa”, que pode, a curto prazo, “criar uma Igreja mais aberta e universal”.

Por isso, aponta aquele responsável, “este é um desafio que a Igreja tem de responder com alguma velocidade”.

O documento realça a importância de viver o espírito de missão também em território próprio, pondo de lado a ideia de que o projecto missionário só consiste em ir para fora, para junto dos povos mais desfavorecidos.

“Trata-se de uma evolução na teologia da missão”, garante o missionário espiritano, explicando que hoje em dia, “existem terras que outrora se chamavam cristãs, onde Cristo não é conhecido, onde o evangelho já não é anunciado e onde a vivência dos valores evangélicos deixa muito a desejar”.

“Portugal é neste momento uma terra de missão igual a África, por exemplo”, acrescentando o mesmo responsável.

O fenómeno do voluntariado missionário surge aqui como um pólo fulcral de dinamização deste conceito, sobretudo com a colaboração dos jovens.

De acordo com a Fundação Evangelização e Culturas, cerca de 400 jovens já receberam formação este ano, para participarem em iniciativas missionárias, em Portugal e além fronteiras.

Segundo o director das obras missionárias da diocese de Lisboa, “em 20 anos já apareceram 55 instituições, que de uma forma organizada, já preparam, enviam e acolhem, no seu regresso, leigos, jovens e menos jovens, que partem para experiências de um mês a meia dúzia de anos”.

Este é um dado positivo, mas representa muito pouco, “para uma Igreja com 2 mil anos de existência”, sublinha o mesmo responsável, já que “ainda se anda um pouco às apalpadelas, em termos do que fazer com a missão dos leigos, sobretudo os jovens”.

Não deixa de ser, ainda assim, “uma força enorme, porque esses jovens, ao partirem, levam um pouco do que é ser Igreja, e quando voltam trazem uma riqueza muito grande, que podem partilhar nos meios onde pertencem”, sublinha o padre Tony Neves.

Inês Souta e Nuno Fidalgo são dois jovens que fazem do espírito missionário uma parte integrante do seu dia a dia. Ambos integram o movimento dos Jovens sem Fronteiras (JSF), pertencente à congregação dos Missionários Espiritanos.

Nuno Fidalgo esteve em Izeda, na região de Bragança, com um grupo de cerca de 20 jovens, para fazer animação missionária junto daquela comunidade mais isolada, durante 10 dias.

“O contacto com as pessoas é muito importante e a mensagem que conseguimos deixar e passar marca-nos muito. Porque apesar de estarmos dentro de Portugal, são realidades e culturas um pouco diferentes”, refere o jovem.

O trabalho passa muito pelo contacto com crianças jovens e idosos, acompanhando aqueles que estão um pouco abandonados e, através de actividades lúdicas e educativas, ir introduzindo um pouco esta realidade missionária, transmitindo a Palavra de Deus às pessoas.

O trabalho da JSF não se circunscreve apenas ao território nacional, saindo também além fronteiras, através do projecto “Ponte”, que dá a oportunidade aos voluntários missionários de seguirem para um país diferente, e fazerem missão.

Para Inês Souta, “tanto uma realidade como a outra são experiências que fazem todo o sentido, para um jovem cristão. A vivência verdadeira do serviço, o estar disponível para o outro, o sair da casquinha de noz em que se vive para conhecer outras realidades, outras comunidades, outra forma de ser Igreja, dentro ou fora de Portugal”.

A jovem reforça que “esta vontade de partir e de ser serviço, partilhar e viver com o outro é o que faz procurar sempre estas experiências de missão”.

A procura desse espírito missionário começa pela realidade concreta de cada pessoa, ao nível das paróquias. Para responder a esse desafio, a carta pastoral “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal” defende também a criação de grupos missionários, a nível paroquial e diocesano.

“Uma ousadia à qual, neste momento, apenas uma ou outra diocese está a querer responder”, revela o padre Tony Neves, “mas que se espera ver criados, nos próximos tempos”.

Primeiro, é importante que a Igreja se consiga libertar da ideia de que a missão é uma competência exclusiva dos institutos e movimentos missionários, e procurar colaborar com eles.

Algo que “depende dos párocos e dos movimentos que cada diocese tem”, afirma o missionário espiritano.

“Não faz sentido fazer dinamismo missionário nas paróquias e dioceses sem convidar para isso aqueles que têm essa missão lá fora e capacidade para fazê-lo cá dentro” defende ainda aquele responsável, considerando que o rumo a seguir será a comunhão de ideias entre os movimentos missionários e a própria pastoral paroquial e diocesana, envolvendo toda a comunidade.

O testemunho de quem participa activamente nas actividades missionárias, em Portugal e lá fora, é visto assim como uma ferramenta vital, para que o espírito de missão possa chegar ao coração de mais pessoas.

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Agência ECCLESIA

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