Participantes do I seminário nacional das capelanias hospitalares manifestaram o seu contentamento pelo primeiro reconhecimento, num documento oficial, da questão Os participantes do I seminário nacional das capelanias hospitalares, que terminou hoje na Faculdade de Medicina de Lisboa, manifestaram a sua satisfação pelo facto de o novo Plano Nacional de Saúde incluir, pela primeira vez, a questão da assistência espiritual e religiosa como “dimensão da qualidade em saúde e da humanização dos serviços”. O Pe. José Nuno, capelão no Hospital de São João (Porto) desde Outubro de 1998 e coordenador nacional dos capelães hospitalares católicos há quase dois anos, saudou mesmo o Ministério da Saúde pela “coragem de explicitar a questão”, lembrando que tal assistência “serve o homem na sua condição espiritual, que se pode definir religiosamente”. Aos jornalistas, o responsável explicou que este encontro serviu para afirmar, claramente, que “é necessário encarar a questão da potencialidade da assistência espiritual e religiosa aos doentes, nos hospitais em Portugal, com mais determinação e profundidade”. O seminário, que decorreu entre 17 e 18 de Fevereiro, teve como tema “Espiritualidade – um desafio no Hospital” e pretendeu recordar à sociedade portuguesa que deve enfrentar o desafio de levar a espiritualidade às unidades de saúde, afirmando a sua dimensão “terapêutica”. A reflexão sobre a matéria é tanto mais urgente quanto maior é o número de pessoas que morre nos hospitais. Em 1970, dos 87.995 óbitos registados no país, 19,9% aconteceram no hospital; trinta anos depois, em 2000, dos 101.044 óbitos nacionais, 55.756 (55,2%) foram registados em hospitais. D. José Alves, presidente da comissão episcopal para a acção social e caritativa da CEP, referiu à Agência ECCLESIA que “a espiritualidade pode ser vivida, no ambiente hospitalar, como um elemento fundamental na relação humana e no acompanhamento terapêutico dos doentes”. Para o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, Pe. Vítor Feytor Pinto, “é necessário envolver toda a gente que passa pelo hospital, atendendo às necessidades de doentes e profissionais da saúde”. Juntando-se aos elogios ao Ministério da Saúde, o Pe. Feytor Pinto aponta as páginas 102 e 103 do novo Plano Nacional de Saúde como um texto fundamental para se perceber a “importância da assistência religiosa nos hospitais”. SAÚDE E ESPIRITUALIDADE A ideia de que o conceito de saúde tem que abranger a dimensão espiritual do doente foi outra das conclusões que hoje saíram do seminário. O que tem como consequência o reconhecimento da necessidade de um interlocutor, no sistema de saúde, para as necessidades espirituais do doente. “As Capelanias desempenham um papel fundamental na humanização dos hospitais, sublinhando a importância da dimensão espiritual e promovendo acções concretas de formação em ordem a uma maior consciência dela por parte dos outros agentes de saúde e oferecendo-se à totalidade da Comunidade Hospitalar como espaço de ajuda e de vivência da sua própria experiência espiritual”, sublinharam os participantes. A importância da dimensão espiritual da pessoa na rede de saúde pública tem vindo a ser reconhecida pela comunidade médica, um pouco por todo o mundo. De facto, cada vez mais se afirma a insuficiência da definição de saúde como “bem-estar físico, mental e social”, e a necessidade de a complementar com a dimensão espiritual inerente a cada ser humano. “Esta nossa iniciativa visou responder à confiança que depositaram em nós, vincando que era necessária e era possível. A reflexão nesta área corresponde a uma necessidade efectiva, sentida pelas pessoas, tanto os doentes, como os profissionais de saúde ou os voluntários”, explica à Agência ECCLESIA o Pe. José Nuno. Para o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, Pe. Vítor Feytor Pinto, foi fundamental esta reflexão, onde se assumiu que “o ser humano não é apenas corpo, parte física, mas que a espiritualidade faz parta da vida humana, qualquer que seja a fé ou a prática religiosa”. “ INTERCONFESSIONALIDADE Outra perspectiva valorizada no encontro foi a inter-confessionalidade, com os participantes a constatarem a “grande sensibilidade e abertura” das várias confissões religiosas. O facto foi hoje concretizado com a presença de 5 responsáveis de várias Igrejas e comunidades religiosas, no primeiro painel da manhã, para falar do acompanhamento espiritual e religioso como um “direito de todos”. A nova Lei de Liberdade Religiosa prevê mesmo a integração de ministros de outras religiões, além da católica, na assistência hospitalar. A organização do seminário falou deste ponto como “uma das grande maravilhas do encontro”, por se ter verificado a convergência de “sensibilidades, disponibilidade e de diálogos”. Nesse sentido, as conclusões da iniciativa apontavam para “novas iniciativas concretas, de diálogo ecuménico e inter-religioso, de forma a garantir a assistência aos doentes, qualquer que seja o seu credo”.
