Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana considera que autarquia podia ter optado por solução mais inclusiva
O bispo de Beja, D. António Vitalino, considera que o município da cidade preferiu separar os ciganos alojados no Bairro das Pedreiras do resto da população em vez de optar por uma alternativa mais inclusiva.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana pronunciou-se sobre o muro de cimento de cerca de 100 metros de comprimento e dois de altura que isola a urbanização.
Segundo o prelado, a autarquia optou por uma solução “de maior segregação” no realojamento da comunidade, quando podia ter encontrado uma resposta que, “a longo prazo, ajudasse a integrar as pessoas na sociedade”.
D. António Vitalino está convicto de que é preciso “derrubar o muro” e substituí-lo por “uma simples rede e porta”, que são “muito mais baratas e esteticamente ficam muito melhor”, além de continuarem a salvaguardar a segurança das crianças, preocupação que terá motivado a construção da parede.
O prelado admite que a situação económica do município pode ser um obstáculo à remoção da barreira mas lembra que já houve oportunidades para resolver o problema, dado que ela foi construída há vários anos: “Na devida altura deviam ter-se feito as diligências necessárias. Mas vivemos num país do ‘faz e desfaz’”.
O presidente da Comissão Episcopal adiantou que já conversou sobre o assunto com os responsáveis autárquicos, incluindo o presidente da edilidade, tendo-lhes afirmado que “não custa muito ter algum diálogo” e fazer um plano “para que as coisas se alterem”.
Referindo-se à integração dos ciganos na sociedade, o prelado afirmou que “andamos nisto há 500 anos” sem que sejam desenvolvidas estratégias de diálogo e mediação contínuas contra “a discriminação que continua a existir”.
Presença da Igreja
“O bairro não tem só esse problema”, denuncia o bispo, que aponta defeitos na arquitectura das residências e terrenos envolventes.
“As habitações foram construídas não no sentido daquilo que é a vida dos ciganos mas da pessoa que tem uma família pequena e que procura viver mais em casa do que na rua”, assinala D. António Vitalino.
No entender do prelado, a área de 50 metros quadrados dos domicílios não é “convidativa” para os hábitos das famílias, que podem ter até 12 pessoas.
Quando chegam as chuvas, a terra que envolve as 53 habitações onde vivem cerca de 400 pessoas converte-se num “lamaçal”, situação que segundo o prelado pode ser resolvida com meios “bastante baratos”.
O responsável pela Comissão da Mobilidade Humana, departamento que coordena a Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, recorda que a Cáritas da Diocese de Beja tem assistentes sociais que trabalham diariamente no local.
Durante o Verão, a Câmara Municipal transporta oito crianças do Bairro das Pedreiras até às instalações daquele organismo de apoio social da Igreja Católica, para que elas “não percam tudo aquilo que foram adquirindo na escola durante o ano”.
O próprio D. António Vitalino lembra que já por diversas vezes visitou as casas e falou com as famílias, lamentando não poder deslocar-se à urbanização “tanto quanto seria necessário”.
“Os párocos é que às vezes descuidam um pouco isso. Embora os habitantes não sejam praticantes no sentido de irem à igreja, acho que é um trabalho pastoral sempre necessário”, sublinha o prelado, que acrescenta: “Somos poucos e há outras coisas que nos retiram o tempo de nos dirigirmos mais vezes a esse bairro”.