Minorias religiosas sofrem com o crescimento do extremismo islâmico
Dois irmãos cristãos acusados de escrever um panfleto blasfemo contra o Islão e o profeta Maomé foram assassinados esta Segunda-feira no Leste do Paquistão, refere a agência AsiaNews.
Rashid Emmanuel e o seu irmão Sajid Masih Emmanuel foram mortos a tiro quando regressavam à prisão, depois de terem comparecido numa audiência judicial realizada na cidade de Faisalabad.
O primeiro-ministro paquistanês, Yousaf Raza Gilani, expressou a sua preocupação com o incidente e ordenou ao chefe da província do Punjab para tomar as medidas necessárias ao restabelecimento da ordem na cidade.
Os responsáveis locais das forças de segurança comprometeram-se a capturar os presumíveis culpados, que também feriram gravemente o agente da polícia que escoltava os dois irmãos.
Para o Ministro das Minorias do Paquistão, Shahbaz Bhatti, as acusações contra os dois cristãos, entre eles um pastor protestante, foram forjadas, convicção que é partilhada por fontes locais, segundo as quais a polícia estava prestes a ilibar os irmãos.
O porta-voz da Fundação Democrática das Minorias do Paquistão, Atif Jamil Pagaan, realçou que “não foi apresentada nenhuma prova” e não apareceu “nenhuma testemunha”, acrescentando que os panfletos foram escritos à mão, fotocopiados e distribuídos anonimamente.
No início do mês, perto de 400 manifestantes queimaram pneus e manifestaram-se em Waris Pura, uma área pobre de Faisalabad habitada por cerca de cem mil cristãos, pedindo a pena de morte para os dois acusados.
A 15 de Julho, foram convocadas marchas que percorreram a cidade, durante as quais se repetiram os apelos à execução dos irmãos.
No dia seguinte, após o fim das orações de Sexta-feira, líderes religiosos instigaram os fiéis a manifestarem-se contra os cristãos, apelo que teve como resultado o apedrejamento de uma igreja católica.
Também na semana passada muitas famílias cristãs fugiram do bairro com medo da violência.
O duplo homicídio coincidiu com a visita ao Paquistão da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que decorreu a 18 e 19 de Julho.
Legislação sobre a blasfémia causa “cada vez mais vítimas”
A lei paquistanesa sobre a blasfémia prevê a pena de morte, que no entanto não foi aplicada aos irmãos.
Os defensores dos Direitos Humanos exigem a eliminação da legislação, que, segundo eles, é explorada para fins pessoais e encoraja o extremismo islâmico.
De acordo com um relatório sobre as condições das minorias religiosas, recentemente publicado pela Comissão Justiça e Paz do Paquistão, os abusos à interpretação da lei sobre a blasfémia continuam em todo o país.
Em 2009 foram registados 112 casos, que atingiram 57 membros da seita ‘ahmadi’, grupo que as autoridades paquistanesas não reconhecem como muçulmano, assim como 47 muçulmanos e oito cristãos.
Entre 1987 (quando a lei entrou em vigor) e 2009, 1032 pessoas foram injustamente atingidas, assinala a Comissão Justiça e Paz.
O secretário executivo daquele organismo da Igreja Católica renovou o apelo à eliminação da lei e criticou o Governo por não evitar os abusos deste quadro legal, tendo salientado a “profunda preocupação” da comunidade cristã do país.
Com agências