100% cristãos, mesmo nos dias normais

Nuno Folgado

A acção da Igreja direccionada especificamente aos jovens, comummente designada por Pastoral Juvenil (PJ), vive de ciclos. Uns mais intensos, outros mais constantes. Nestes dias de estiagem sucedem-se as propostas de actividades de PJ. Actividades de curta duração, uma semana ou pouco mais, que levam os jovens a fazer experiências fortes de oração, ou ao encontro com muitos outros jovens, e que permitem a experiência da multidão e a motivação daí resultante.

Estas actividades permitem a estes jovens experimentar a vivência da fé em ambientes propícios, com ritmos e pedagogias facilitadoras. Estas actividades dão aos jovens a possibilidade de viver a universalidade da Igreja de uma forma muito mais clara do que conseguem as actividades de dimensões paroquial ou diocesana.

É comum, nas avaliações feitas destas actividades, serem ressaltadas a certeza da pertença, a festa e a radicalidade como o que mais marca os participantes nestas actividades, realidades que, muitas vezes, a Igreja local descuida.

Estas actividades levam muitas vezes os jovens ao encontro de outras formas de ser Igreja. Formas de ser Igreja condicionadas e marcadas pela mentalidade, ou pelas condições socioeconómicas, pelos aspectos históricos ou pela realidade eclesial vigente. Levam-nos também ao encontro de comunidades eclesiais profundamente marcadas e motivadas pela realização da própria actividade que decorre, levam-nos por isso, ao encontro de grandes testemunhos de empenho e vivência cristãos capazes de despertar nos jovens a necessidade de uma vida mais conforme com as exigências do seu baptismo.

Têm ainda a mais-valia de permitirem “pescar fora do aquário”, por serem humanamente apelativas muitas vezes despertam interesse em jovens poucos ligados à Igreja e com uma prática de fé amolecida ou esquecida.

Mas estas actividades também representam perigos. O perigo de um jovem viver tão intensamente essa “maneira de ser Igreja” que depois não seja capaz de o ser na sua realidade quotidiana. O perigo de não conseguir adaptar-se a uma vivência da Igreja que não é só para jovens, mas que é para todos e que tem de atender a todas as sensibilidades, o perigo de querer transportar mimeticamente o que viveu sem a adaptação necessária à realidade concreta que o rodeia, em suma, o perigo da desilusão.

Nem só de grandes acontecimentos ou de actividades muito marcantes vive a PJ. a par destas actividades pontuais existem as actividades constantes na vida das comunidades cristãs.

Quando colocamos nos pratos da balança estas duas dimensões, a primeira vontade é a de perceber qual das duas é mais decisiva. Qual a mais eficaz na construção de adultos na fé, capazes de singrar no caminho da santidade, mas são indissociáveis. As actividades de PJ constantes, como as reuniões de grupos de jovens paroquiais ou de uma qualquer espiritualidade, sem momentos intensos e marcantes, facilmente se tornam rotineiras e sem interesse, as actividades intensas como jornadas mundiais da juventude, ou semanas em Taizé, Festival Jota ou Fátima Jovem, sem o lastro das actividades constantes, tornam-se numa de duas coisas, ou arrufos inconsequentes ou manipulações de consciências que por vezes convencem, mas não convertem.

Assim estas duas dimensões na vida da PJ devem convergir entre si, devem motivar para a outra dimensão, devem completar-se mutuamente. Devem estar de tal forma ligadas que o sucesso de uma possa ser a realidade da outra, ou seja, que o critério para a aferir do sucesso ou insucesso de um grupo de jovens seja a qualidade da participação nas jornadas mundiais da juventude ou que a avaliação destas tenha como critério a vida do grupo de jovens que nelas participou.

Assim sendo, nem é importante qual das duas dimensões aparece primeiro na vida dos jovens. Não é determinante se é um jovem que faz parte de um grupo paroquial que vai a uma destas actividades ou se a um que foi a uma destas actividades lhe é proposto que integre um grupo de jovens, desde que as duas estejam presentes na persecução do propósito de conduzir os jovens à idade adulta na fé.

O que importa é que ambas as dimensões concorram para que os jovens possam ser 100% cristãos, mesmo nos dias normais.

Pe. Nuno Folgado, Portalegre – Castelo Branco

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