Tanto tempo perdido! Tanto trabalho adiado!

Bento XVI, sucessor de Pedro, esteve connosco no Porto, num espaço público que congregou perto de 120.000 pessoas, a meio do ano da “Missão 2010”, e deu-nos um renovado impulso espiritual e encheu-nos de uma força capaz de fazer chegar a todos os corações o fogo do seu Amor. Foi belo este momento, de uma beleza que remove e arrasta, como a corrente de um rio, tudo o que há em cada um de nós, abrindo-nos horizontes de plenitude, confiança e paz.

Fomos muitos, mais do que os calculados, estivemos em silêncio, um silêncio que por vezes arrepiava, ouvimos a Palavra e olhamo-nos com confiança e partimos dali com renovada esperança.

Uma ou duas horas depois a azáfama voltou. Mas o que era preciso saborear era o eco daquele momento dentro de nós, em silêncio. E esse momento, mais cedo ou mais tarde, mais vale cedo do que tarde, é bom que venha. Neste século apressado, que tudo devora pelo caminho, em que a pressa é o próprio caminho, o recolhimento pode ser o melhor meio de acção, como a intensa luz do meio-dia pode ser o ambiente mais obscuro.
Retenho, nesta breve nota, dois pontos.

O campo da missão é hoje muito vasto e complexo. O Santo Padre referiu como prioritário e central chegar aos corações, porque eles são “os verdadeiros destinatários da actividade missionária do povo de Deus”. O caminho a seguir, disse, é o mesmo de Cristo, o da pobreza, da obediência e do serviço e da imolação própria até à morte. Afinal, já o sabíamos, os discípulos não são mais do que o Mestre. Como abrimos os nossos corações ao outro, como chegamos mesmo ao coração do outro e a cada vez mais corações, corações cada vez mais alienados, mas, de facto, os verdadeiros destinatários da nossa actividade missionária?

O segundo ponto é este: tudo isto não depende de nós, nem foi ideia nossa, nem em algum momento somos nós o centro da Missão 2010. A voz do celebrante bem o entoou: “Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15). Logo a seguir, a voz frágil de Bento XVI ecoou forte pelos Aliados e pela Cidade: “quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência neste ponto. Tudo se define a partir de Cristo (…)”.

O caminho que temos pela frente, já o sabíamos, não é nada fácil. Mas não fomos nós que o definimos, nem fomos nós que o traçamos. Somos nós que temos por missão percorrê-lo, com alegria e confiança. O Evangelista João acrescenta logo estas palavras: “E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros.”

Desconfiamos de tudo e de todos, porque isto, porque aquilo, porque a crise, porque o comodismo, porque as distracções, porque os outros, porque os meios de comunicação, porque….

Quis a história, que todos fazemos, que a presença de esperança de Bento XVI em Portugal coincidisse exactamente com o anúncio, por parte do Governo, de medidas muito difíceis e penalizadoras, sobretudo para os mais pobres, medidas tomadas em nome de uma via para melhorarmos a nossa vida em comum. Estas coincidências, que não foram propositadas, não são acasos, são sinais. Sinais dramáticos, mas sinais. Abrem, não fecham. Na sua obscuridade há muita luz!

Onde moram a esperança e a confiança que habitam cada um de nós? Talvez, nunca como hoje, este país precise da Igreja e da actualização da sua Vocação. Por intermédio de Cristo, Deus escolheu-nos para dizermos “presente”, “eu aqui estou”, disponíveis, confiantes, ao lado dos que mais precisam e mais vão precisar de cada um de nós. Bento XVI (vale a pena agora reler tudo o que ouvimos e já lemos) não podia ter vindo a Portugal em momento mais oportuno. Maravilhoso momento este, escolhido por Deus!

Joaquim Azevedo
Presidente do Centro Regional do Porto da UCP

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