Homilia do Bispo de Aveiro na celebração de Santa Joana Princesa

1.Celebramos hoje nesta Catedral a solenidade de Santa Joana Princesa, padroeira da cidade e da diocese de Aveiro. Juntam-se a nós as comunidades cristãs da Diocese que encontram em Santa Joana um dos mais belos exemplos de santidade e um dos mais nobres testemunhos de vida cristã e de amor a Aveiro, a sua pequenina Lisboa como tanto gostava de lhe chamar.

Este dia, grande para Aveiro, convida-nos a viver em comunhão com o Santo Padre Bento XVI, em visita a Portugal, e a sentir a alegria desta hora para a Igreja que acolhe o Pastor Universal, o sucessor de Pedro, e lhe testemunha o júbilo e o entusiasmo com que queremos ouvir a sua mensagem e seguir o seu magistério. Também nós, em Aveiro, dizemos com o lema desta Visita e com os sentimentos de todos os católicos portugueses: Contigo caminhamos na esperança. É também de sabedoria e de missão para nós esta Visita Apostólica do Sucessor de Pedro.

Em plena Semana da Vida e na Véspera da grande Peregrinação aniversária ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, somos convidados a alargar os horizontes da nossa celebração. Sabemos que somos como Diocese chão sagrado de milhares de peregrinos que aqui passam rumo ao Santuário da Mãe e que são igualmente muitos aqueles que, entre nós, se inspiram do carisma dominicano a exemplo de Santa Joana e são arautos da vida, mensageiros da fé e exemplos de santidade.

Todos conhecemos quanto Aveiro e os Aveirenses cultivam este sentido de pertença de Santa Joana a esta sua Terra adoptiva e como recordam todo o bem que ela aqui fez e que por nós continua a realizar.

A nossa alma aveirense foi-se moldando ao longo do tempo por este jeito próprio de viver, que em Santa Joana se inspira, conjugando a simplicidade e a nobreza, a humildade e a caridade, a sabedoria e a missão, o amor de Deus e o serviço aos irmãos, a devoção à cruz de Cristo e a permanente solicitude para aliviar o peso da cruz dos pobres e dos que sofrem.

Somos assim os aveirenses: simples e discretos no nosso modo de ser, mas empreendedores e dinâmicos no nosso modo de agir; pessoas que sabem sonhar e que têm coragem para partir. As adversidades e as marés da ria e do mar não metem medo aos aveirenses. A ria oferece-nos uma moldura ímpar de beleza e o mar um campo imenso de trabalho e de sonho. As crises e os sobressaltos da história não fazem vacilar nem temer os audazes. A fé tem sido para as nossas gentes uma âncora e continuará a ser no futuro um farol de esperança.

Os que assumimos a fé, assumimo-la por inteiro, com convicção e coerência. Com a sabedoria de quem a recebe como dom gratuito de Deus e de quem a fortalece diariamente com o esforço humano do trabalho. Acompanha-nos a certeza de que a fé tem um imenso espaço a desenvolver no campo da razão, da ciência e da cultura do nosso tempo. Sabemos, pela experiência que nos vem dos tempos apostólicos, que a fé sem obras é morta e sabemo-nos membros de uma Igreja que escolheu como seu lema: Amar a Deus é servir. É deste amor fiel a Deus e deste serviço efectivo ao Povo que devemos fazer, a exemplo de Santa Joana, o sinal maior da nossa identidade como cristãos e da nossa cidadania como aveirenses.

Saboreamos o valor da liberdade merecida e conquistada e conhecemos quanto a fé e a Igreja nos oferecem como profecia de um mundo melhor onde não baste cumprir a justiça que nos torna cidadãos mas se torna necessário afirmar a ousadia da caridade que nos faz irmãos.

Nos tempos difíceis de crise financeira e nas horas exigentes de inquietação e insegurança sócio-económica em que vivemos importa que saibamos ler com lucidez e sabedoria os sinais dos tempos que são caminhos de renovação e de profecia para a Igreja. À luz da Palavra de Deus sejamos capazes de abrir portas a um futuro diferente em que as nossas seguranças humanas não estejam apenas no progresso, no dinheiro, no poder, no individualismo de interesses ou no relativismo de valores.

Os que construíram o melhor de nós mesmos e delinearam o rumo firme da nossa história mais bela, souberam olhar para Deus e para o mundo e amar a Deus e servir as pessoas e as coisas. E se valorizaram as coisas, por mais necessárias e importantes que fossem, era para servir as pessoas e a sua dignidade e fortalecer os laços da comunidade que somos.

Propomo-nos como Igreja Diocesana para este ano pastoral valorizar a educação da fé como prioridade a assumir, como caminho a percorrer e como objectivo nunca plenamente alcançado mas permanentemente procurado. Só assim seremos para o mundo fundamento de esperança. É grande a missão de todos nós, Igreja de Aveiro, e desafiante o objectivo pastoral que se nos apresenta pela frente, rumo à Missão Jubilar Diocesana. Importa caminhar na esperança e radicar nas razões firmes da nossa fé o trabalho de renovação da Igreja e de serviço ao mundo.

Fortalece-nos, neste caminho de amor a Deus e de serviço generoso à nossa Cidade e Diocese a Palavra de Deus, hoje proclamada. Também na nossa Cidade e Diocese Deus estabeleceu morada entre nós e connosco, como nos dizia S. João. São vários os sinais da sua presença e inúmeros aqueles que em nome de Deus enxugam lágrimas de tantos olhares sofridos e libertam da morte, do luto e da dor todos os nossos irmãos. S. Paulo, na leitura de hoje, faz-nos um veemente apelo a olharmos como bem maior conhecer Jesus Cristo, meu Senhor, como tanto procurava Santa Joana. Só assim compreenderemos que o Reino dos Céus seja o verdadeiro tesouro, de que nos falava o Evangelho, que quando encontrado dá sentido a todas as coisas e oferece valor único à nossa vida e rumo firme à nossa história.

É à luz desta Palavra e obediente a esta missão que a Igreja de Aveiro sente a alegria do diálogo e da abertura à colaboração permanente com a Cidade e com todos quantos neste espaço diocesano exercem o serviço imprescindível à Comunidade e assumem a responsabilidade de construírem o bem comum.

Unido aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos (as), aos consagrados (as), aos seminaristas, aos leigos (as) da nossa Diocese de Aveiro sob o patrocínio de Santa Joana, nesta semana da Vida, semana de Fátima e de Bento XVI, peço a Deus, a graça e a bênção para a nossa Cidade e Diocese, para que todos, na alegria e na comunhão, sejamos em Cristo educadores da fé e fundamento de esperança para o mundo.

Catedral de Aveiro, 12 de Maio de 2010

+ António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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