Crianças e jovens preparam-se para a missa no Terreiro do Paço
O Papa não passa por Algés, mas esta freguesia localizada na fronteira entre Lisboa e Oeiras é esta tarde ponto de encontro para muitas pessoas que vão participar na missa a que Bento XVI preside, às 18h15, no Terreiro do Paço.
Depois de uma manhã marcada por curiosos e fiéis idosos e de meia-idade, é aqui que a adesão ao Papa ganha um rosto jovem, com a formação de pequenos grupos que se preparam para apanhar a carreira 723 rumo ao Marquês de Pombal, de onde descerão para o local da celebração.
Este é o terceiro dia que Nuno Ganito, de 37 anos, falta ao trabalho: hoje e no Domingo ajudou a montar as mais de quatro mil cadeiras que foram dispostas diante do altar no Terreiro do Paço e encheu de divisórias este local e também a Avenida da Liberdade e a Praça do Município, trajectos por onde Bento XVI vai passar esta tarde.
“Para alguns jovens, a única relação que têm com a Igreja é através dos escuteiros”, diz este dirigente do agrupamento de Miraflores, que sublinha as implicações de pertencer a um movimento católico.
Às 3 da manhã de hoje enviou uma SMS para os “seus” “pioneiros” (rapazes e raparigas dos 14 aos 17 anos), reforçando a importância do encontro desta tarde, mas este gesto, diz, vem na continuidade de um trabalho paciente e que está a dar frutos.
“Na reunião de Sexta-feira, quiseram saber como podiam responder às acusações que os seus colegas na escola lhes atiram constantemente sobre o Papa alemão”, a começar pelo seu passado no regime nazi, refere.
E depois há a experiência de pertença a uma comunidade, essencial na formação dos jovens: “É importante que percebam que ser cristão é uma realidade global, e é nestes encontros ou nas Jornadas Mundiais da Juventude que se vão dando conta disso”, explica Nuno Ganito.
“É muito esquisito, às vezes até para mim, ir à missa na paróquia e só ver pessoas com mais de 50 anos”.
A 20 metros de distância, um grupo da paróquia de Caxias espera a chegada de mais jovens – 12 a 15, refere João Rodrigues, de 18 anos, para quem “a Igreja está a passar um momento em que os valores estão em crise” e por isso quer “dar força a Bento XVI e mostrar que somos católicos”.
“Vou ter com o Papa porque sinto-me chamado a ouvir o que ele diz e para ser imagem de Cristo no dia-a-dia”, acrescenta.
Luís Oliveira, de fato e gravata, destoa deste grupo vestido de t-shirts laranja: “Assumimos que era quase uma obrigação estarmos aqui”, salienta o catequista de 24 anos.
O comboio das crianças
À estação do Cais do Sodré vão chegando comboios de crianças, que se preparam para ocupar o espaço que lhes está reservado no Terreiro do Paço.
Na viagem de 10 minutos entre Algés e o terminal da linha de Cascais combinam-se encontros e pergunta-se pelos que faltam.
“Tanta gente”, “o Papa está lá dentro”, ouve-se na carruagem ao chegar à estação de Belém, de onde se avista o palácio do Presidente da República que Bento XVI visitava nesse momento.
Fátima Almeida, de 45 anos, pertence à paróquia de Carnaxide e traz a sua filha, Beatriz, de oito anos, e uma criança de 13 anos, a Catarina.
A catequista fala da curiosidade e da multidão como motivos para ir à missa, mas sublinha que “é uma questão de fé” ir ver o Papa, de quem espera palavras “que nos aqueçam”, tecidas de “conforto, paixão, amor e carinho”.
No átrio da estação, um grupo de várias dezenas de paroquianos de São Julião da Barra, em Oeiras, reúne-se em círculo: fazem-se os últimos avisos e ouvem-se os acordes de uma viola, que se cala para uma “Avé Maria” rezada antes da saída para o Terreiro do Paço.
A oração termina com um triplo “Viva o Papa!” e é então que a viola volta outra vez a cantar.