Presidente da Conferência Episcopal destaca necessidade de diálogo e novas respostas face aos modelos do passado
Bento XVI encontrará em Portugal uma Igreja em mudança, que se insere num novo panorama social, cultural e mesmo religioso, como admite D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o Arcebispo de Braga sublinha que “a Igreja Católica já não é uma força maioritária”.
“Ela tem de se situar também num contexto de adversidades e contratempos, porque nem tudo facilita o encontro com a própria fé”, indica.
O confronto “com uma mentalidade nova” deve levar a Igreja a procurar “respostas, pelo diálogo e o conhecimento multidisciplinar”.
Abordando um caso específico, o da legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, D. Jorge Ortiga diz que “a Igreja nunca poderá ceder a essas novas tendências. É antes desafiada a compreender, acompanhar, a ajudar, a saber estar com essas uniões”.
Alfredo Teixeira, teólogo e antropólogo (UCP), sublinha, por seu lado, que se diversificaram “os modos de exprimir a identidade crente, diferenças bem patentes nas práticas paroquiais”.
“Na passagem de regimes de sociabilidade «comunitária» para regimes de sociabilidade «societária», as formas práticas de articulação do crer e do pertencer conheceram significativas mutações”, assinala.
D. António Marcelino, Bispo emérito de Aveiro, faz a ponte entre a visita que os Bispos portugueses realizaram ao Vaticano, em 2007, e a viagem do Papa.
“O desafio pastoral da evangelização, tarefa essencial e permanente da Igreja, ganhou contornos mais acentuados com o crescimento da indiferença religiosa, a emergência da modernidade, a dificuldade de os cristãos se situarem activos num contexto de pluralismo, a organização da vida influenciada pelo laicismo infiltrado nos dinamismos sociais mais activos, a instabilidade de instituições sociais antes indiscutíveis, como a família”, escreve.
No encontro de Novembro de 2007, o Papa afirmava que “é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado”.
D. António Marcelino considera que “por mais pressões que existam no terreno o caminho da Igreja, tal como o de Cristo, são as pessoas”.
Maria Carlos Ramos, do Graal, apresenta por seu turno uma visão feminina sobre os desafios da Igreja, afirmando que “as mulheres são hoje mais exigentes. Subestimá-las é um erro de estratégia e um pecado mortal”.
Fátima e Europa
Bento XVI é esperado no nosso país de 11 a 14 de Maio, para uma visita que se insere no quadro amplo da preocupação do actual Papa com a Igreja na Europa, mas que assume um relevo particular pelo simbolismo que o nosso país – sempre apresentado como uma nação católica – e Fátima assumem nesse contexto.
O próprio Papa tem recordado o significado especial dos acontecimentos da Cova da Iria e já em 2006, a 14 de Maio, lembrava “as aparições de Fátima”, onde em 1917 Nossa Senhora “se manifestou várias vezes a três crianças, os Pastorinhos Francisco, Jacinta e Lúcia”.
“A mensagem que lhes confiou, em continuidade com a de Lourdes, era uma forte chamada à oração e à conversão; mensagem verdadeiramente profética considerando o século XX funestado por inauditas destruições, causadas por guerras e por regimes totalitários, e por devastadoras perseguições contra a Igreja”, acrescentou.
“Se não faltaram preocupações e sofrimentos, se ainda permanecem motivos de apreensão pelo futuro da humanidade, é confortador o que a «Branca Senhora» prometeu aos pastorinhos: «No fim o meu Coração Imaculado triunfará»”, disse Bento XVI.
Até à visita de Bento XVI a Portugal, a Agência ECCLESIA publica um dossier semanal sobre a figura do Papa e os preparativos para o seu acolhimento.