D. António Marto condena «crimes hediondos», mas pede confiança. D. Manuel Clemente condena «generalizações» indevidas e defende celibato
Vários Bispos do nosso país saíram em defesa dos seus padres, condenando o clima de desconfiança que se vive por causa dos recentes escândalos de pedofilia envolvendo membros do clero católico em diversos países.
A ocasião escolhida foi a homilia da Missa Crismal, que anualmente reúne o clero de cada Diocese, na manhã de Quinta-feira Santa.
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima e vice-presidente da Conferência Episcopal, falou num “momento doloroso” marcado pelo “sofrimento e a vergonha por crimes hediondos de alguns sacerdotes e a suspeição generalizada resultante da exploração mediática de tais casos”.
“O pecado de alguns não ofusca a abnegação e a fidelidade de que a imensa maioria dos sacerdotes e religiosos dá prova quotidiana e que as nossas comunidades testemunham e reconhecem”, atirou.
No Porto, D. Manuel Clemente defendeu a “condição celibatária”, admitindo que “a mentalidade geral parece contrariá-la, encontrando em graves contrafacções de alguns clérigos o reforço da sua crítica, como se o celibato sacerdotal fosse inadequado ao ministério e até um óbice à maturidade pessoal”.
O Bispo do Porto mostrou-se seguro de que, com o tempo, “virá ao de cima a verdade dos factos, decerto mais «verdadeira» do que as generalizações absolutamente indevidas, que entretanto se propalam, com gritante injustiça”.
“A grande maioria do clero vive de modo sereno e feliz o seu celibato «pelo reino dos céus», assim participando na própria condição existencial e pastoral de Jesus Cristo, como Ele a quis viver também”, prosseguiu.
D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego, frisou que “a Igreja sofre nos últimos tempos uma dolorosíssima provação que não pode deixar-nos insensíveis”.
“Amemos muito a nossa Mãe, a Igreja, santa, mas também pecadora, e rezemos por todas as vítimas inocentes, porventura irremediavelmente marcadas para toda a vida; amemos a Mãe Igreja e rezemos e sacrifiquemo-nos por todos os culpados que por vocação deveriam apresentá-la pura e imaculada, e com o seu torpe comportamento a conspurcam”, disse.
“Amemos a Santa Igreja e rezemos por aqueles que com falsidades a insidiam, infamando-a e caluniando-a, na pessoa dos que, por vocação, ministerialmente a servem, com o exclusivo objectivo de desacreditá-la”, alertou ainda.
D. António Francisco dos Santos pediu aos seus diocesanos que acolham Bento XVI “na sua próxima vinda a Portugal, com afecto agradecido e com presença expressiva que lhe dê coragem e ânimo nesta hora dolorosa da vida da Igreja”.
Condenação precipitada
O Bispo de Viseu, por seu lado, sublinhou que “nada justifica a condenação precipitada, superficial e unilateral, a generalização fácil e injusta ou a marginalização tendenciosa e abusiva”.
Numa carta escrita aos padres da Diocese, D. Ilídio Leandro admite que “a Igreja, enquanto Instituição temporal e enquanto formada por homens e mulheres, frágeis e sujeitos a quedas e a pecados, tem muitos limites e imperfeições”.
Já na homilia da Missa Crismal, falou em dias nos quais “a Igreja é vista com tamanha desconfiança e em que todo o mal é aumentado, generalizado e provocador de escândalos, com um juízo desproporcionadamente injusto – ainda que o mal seja sempre mal e seja sempre de lamentar e de reparar”.
Em apoio dos seus padres saiu também D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, segundo o qual, “devido a alguns escândalos lamentáveis cria-se um ambiente de suspeita e de acusação que pesa sobre todos”.
“Embora os acusados sejam raras excepções que não desfazem a dignidade do sacerdócio, todos carregamos com o pecado da Igreja e da sociedade, como Cristo carrega com os pecados do mundo”, afirmou.
Nestes “momentos conturbados e agressivos em relação ao clero”, D. Manuel Pelino assegura que “a Igreja aposta na verdade, pois só a verdade nos torna livres e nos ajuda a praticar a justiça”.
No Algarve, D. Manuel Neto Quintas reconheceu “fragilidades” e deixou um apelo: “Conhecer Cristo, em ambiente de intimidade e amizade, particularmente na oração pessoal, como resposta à leitura orante da Palavra, supera tudo o que possamos desejar ou aspirar, inclusive as nossas debilidades”.
D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, aludiu na sua homilia à “fraqueza dos irmãos que caíram”.
“Confessamo-la, dela pedimos perdão e por eles rezamos. Afinal, todos nós somos débeis; se eles se mancharam na baixeza de actos, escandalosos para quem os padeceu, quem de nós poderá negar as suas falhas em outros campos: porventura o abandono da oração, a rudeza no trato, o descuido na preparação do ensino?”, perguntou.
Na Madeira, D. António Carrilho quis deixar “uma palavra de reconhecimento e muito apreço pela vida e ministério” de cada um dos padres presentes, “nomeadamente pela generosidade da vossa entrega e dedicação ao Povo de Deus, pelo esforço de fomentar uma comunhão sempre maior no nosso presbitério, por todo o vosso empenho em viver o sacerdócio e testemunhar a alegria”.
Na Sé de Lisboa, D. José Policarpo apelou a um “ministério da alegria” na sociedade contemporânea.
Para o Cardeal-Patriarca, essa alegria “brota da experiência da reconciliação e do perdão”.
“Numa sociedade de violência e de dificuldade em perdoar, este serviço da Igreja é bálsamo para tanta dor, semente de transformação progressiva da sociedade, redescoberta da alegria de viver”, declarou.