Braga, «capital» da Semana Santa

A crise actual e condições climáticas adversas podem afectar as celebrações da Semana Santa na cidade de Braga, que se encontram entre as mais importantes do nosso país.

“O tempo no norte do país tem estado muito ingrato e vamos ver se à noite haverá condições para a procissão da burrinha sair”, disse esta Quarta-feira à Agência ECCLESIA o Cón. Jorge Coutinho, presidente da Comissão das Solenidades da Semana Santa em Braga.

Durante a Semana Santa, assim chamada por causa dos mistérios que celebra e pela opção de vida a que deve conduzir, é o fecho do tempo litúrgico da Quaresma, itinerário de preparação para a grande festa da Páscoa, a cidade de Braga recebe muitos visitantes vindos de vários pontos do país e até de Espanha. “Às vezes não sabemos se estamos em Portugal ou na Galiza porque ouvimos falar mais «galego» do quer português”.

Para ajudar nesta mobilidade humana, a Comissão destas celebrações fez um acordo com os Comboios de Portugal (CP) que “disponibiliza comboios especiais ou reforço das linhas regulares” – sublinhou o Cón. Jorge Coutinho.

A cidade de Braga “está toda decorada” com um “roxo bastante leve”. E acrescenta: “As pessoas vivem estas celebrações e algumas até se ajoelhem quando passam as procissões”.

Na Idade Média, a dramatização da Paixão de Jesus fez com que se lhe chamasse “semana dolorosa”. Esbateu-se, então, o seu aspecto salvífico e de vitória sobre a morte mediante a ressurreição. Iniciada no Domingo de Ramos, a Semana Santa vai até à tarde de Quinta-feira, momento em que começa o Tríduo Pascal.

Quarta-feira Santa

Nos últimos anos, foi recuperada e antecipada para a Quarta-feira da Semana Santa uma procissão que se realizava na noite de Sábado Santo: a “Procissão da Burrinha”, assim chamada por nela se incorporar uma imagem da Santíssima Virgem, montando um franzino jerico. Esta procissão constitui hoje um dos mais conseguidos momentos catequéticos da Semana Santa.

A “Procissão da Burrinha” regressou à Semana Santa em 1998, após uma suspensão de 25 anos. Na altura em que foi suspensa, realizava-se na noite de Sábado Santo, entre a igreja de São Victor e a da Misericórdia, mas o seu conteúdo não tinha a força do actual.

Quinta-feira Santa

A Quinta-feira Santa é o último dia da Quaresma — com a Missa da Ceia do Senhor começa o Tríduo Pascal).

Antigamente, na manhã deste dia celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes, a quem tinha sido imposto o cilício em Quarta-feira de Cinzas. Agora, a manhã é preenchida pela Missa Crismal e a bênção dos óleos, que hão-de ser utilizados na administração dos sacramentos do Baptismo, Crisma (ou Confirmação) e Santa Unção.

É vulgar que, na homilia, o bispo diocesano sublinhe alguns aspectos da vida do presbitério, mormente glosando a Carta do Papa aos Sacerdotes, anualmente publicada, expressamente, para esta ocasião.

Durante a tarde celebra-se, na Missa Vespertina da Ceia do Senhor, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio e também a proclamação solene do Mandamento do Amor, na sua nova dimensão: «Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei», como ordenou Jesus, que, para dar exemplo palpável do amor declarado, lavou-lhes os pés.

Lavar os pés era um dever de hospitalidade num país de viajantes descalços ou usando sandálias. Chegavam cobertos de pó, que os escravos deveriam retirar. Percebe-se, por isso, o espanto dos apóstolos, traduzido por Pedro: «Senhor, tu vais lavar-me os pés? Não; nunca…». Jesus insiste, contudo, no serviço humilde, num gesto que anuncia a entrega mas que só horas depois se perceberá.

No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.

A procissão do Senhor Ecce Homo

É a procissão do princípio da noite de Quinta-feira Santa, lembrando o momento em que Pilatos apresentou à multidão Jesus flagelado e coroado de espinhos.

“Ecce Homo” (Eis o homem), disse o Procurador, porventura acolhendo a secreta esperança de que tudo pudesse terminar por ali. Mas não; não se comoveram os circunstantes, que continuaram a reclamar, e conseguiram, a condenação à cruz.

Também se lhe chama “Procissão dos fogaréus”, lembrando os tempos em que era precedida por um grupo de mascarados que transportava tigelas acesas e acusava, impiedosamente, os moradores das ruas por onde o cortejo passava.

Sexta-feira Santa

Este é o dia em que não é celebrada a Eucaristia. Sexta feira dedica-se à Paixão um especial rito comemorativo, normalmente com início às 15h00, mediante o cumprimento de um minuto de silêncio, que convida a um exame de consciência e consequente contrição. Divide-se pela proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da Cruz e comunhão.

Na Sé de Braga, no final da celebração da Paixão, o Santíssimo Sacramento é encerrado no caixão, que será conduzido na Procissão Teofórica, até à capela onde vai ficar resguardado.

A procissão do enterro do Senhor estabeleceu-se em Portugal nos fins do século XV ou princípios do XVI. Foi trazida de Jerusalém pelo padre Paulo de Portalegre, tendo começado a fazer-se no convento de Vilar de Frades, em Barcelos, donde se propagou por todas as catedrais.

No caixão ia uma das hóstias consagradas em Quinta-feira Santa (daí o nome de “teofórica”, ou seja a que leva Deus). Na Sé de Braga, as naves são escurecidas e assistem ao passar da procissão, enquanto pequenos cantores entoam lamentos: «Heu, heu Domine; heu Salvator Noster» (Ai, ai Senhor; ai Nosso Salvador).

Ouvindo estes lamentos, podemos lembrar que nos funerais do tempo de Jesus as lamentações dos mortos cabiam aos parentes, amigos e conhecidos. Às vezes, a todo o povo. Também se chegava a pagar a pessoas, geralmente mulheres.

Procissão do Enterro

Braga participa nesta solene procissão na noite de Sexta-feira Santa. É uma procissão vivamente contrastante com a da noite da Quinta-feira Santa: não há fogaréus, os participantes vão de rosto coberto e os estandartes das confrarias e irmandades não vão desfraldados, mas caídos sobre os ombros de quem os transporta. O silêncio é quase total, apenas quebrado, aqui e ali, pelo gemido de uma lamentação.

À frente de cada grupo de pequenos figurantes, um anjinho transporta o letreiro identificativo. Eis alguns exemplos: Moisés acompanhado pelos israelitas; Jesus com os apóstolos; Jesus a caminho do Monte das Oliveiras; Agonia de Jesus no Horto; Conforto; Prisão de Jesus; Jesus açoitado e coroado de espinhos; Jesus consola as mulheres de Jerusalém; Jesus recomenda a sua mãe o discípulo amado; Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito; Jesus morre na Cruz; Descimento da Cruz; Esquife com a imagem do Senhor morto; Última dor de Nossa Senhora; Resignação; Penitência; As minhas palavras hão-de cumprir-se a seu tempo; Darei meu coração a todos os que invocarem meu nome; Paixão; Calvário…

Sábado Santo

O significado do Sábado Santo está patente na apresentação que dele faz o Missal: a Igreja permanece neste dia junto do túmulo do Senhor, meditando na Sua paixão.

A única celebração primitiva parece ter sido o jejum. Actualmente, como dia de oração e repouso, encontra na oração da Liturgia das Horas o seu único momento. Deste modo, no Ofício de Laudes saboreia-se a salvação universal anunciada aos justos no Antigo Testamento; nas Vésperas, poucas horas antes da Vigília Pascal, domina a esperança perante a iminente ressurreição.

Uma deficiente interpretação do Sábado Santo chegou a antecipar para o período da manhã a celebração da vigília. A partir do século XIV passou para as primeiras horas da manhã; mas tudo foi reconduzido ao significado primitivo com Pio XII, em 1951.

Domingo da Ressurreição

O Domingo da Ressurreição é, fundamentalmente, a Vigília Pascal. É uma celebração nocturna, que dá cumprimento ao pedido do Senhor: «tende as vossas lâmpadas acesas».

Esta noite santa rompe com o jejum e inaugura a grande festa da alegria. É a noite da celebração sacramental da Páscoa pela Palavra, o Baptismo e a Eucaristia.

A grande vigília atinge o seu cume precisamente na celebração da Eucaristia, que inicia o Domingo da Ressurreição. É a Eucaristia por excelência, na qual o neófito e cada cristão são absorvidos na comunhão com Cristo, nossa Páscoa, enquanto esperam a vinda gloriosa do Senhor. A vigília termina antes do amanhecer. Inicialmente era a única celebração do Domingo; e na liturgia romana foi-o seguramente até ao século V.

Esta Missa da Vigília Pascal, mesmo que termine antes da meia-noite, é a missa pascal do Domingo da Ressurreição.

Compasso ou Visita Pascal

O Domingo de Páscoa é, em muitas terras, dia para o Compasso ou Visita Pascal: através das ruas festivamente adornadas, o pároco, ou alguém que o represente, leva, de casa em casa, a Cruz florida em visita às famílias. Foguetes e campainhas avisam que «já aí vem…», de modo que familiares e amigos se possam perfilar, atempadamente, para beijar a Cruz.

Em 21 de Fevereiro de 1942, o Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, referia-se assim a este costume: «A Santa Igreja quer que o seu representante nas freguesias, anjo custódio e pacificador das almas que lhe foram confiadas, percorra os lares do seu rebanho, aspergindo-os com a água lustral, que os guarde, proteja e defenda, como foi defendido o povo de Deus, assinalado na saída do Egipto, pelo sangue do Cordeiro, figura de Jesus Cristo. É nesta nobre e santificadora missão que o pároco leva a todas as casas e aos seus filhos espirituais que nelas vivem os seus votos paternais de ressurreição espiritual, eficaz e duradoura».

Mais informações em www.semanasantabraga.com

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Agência ECCLESIA

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