Do meu ponto de vista, quando o Papa se desloca a um País onde haja cidadãos que professam a religião católica é para esses cidadãos que se orienta toda a componente pastoral da presença papal.
Por isso desejo que haja muitas oportunidades de o Papa nos dizer, a nós, os católicos, como vê o futuro do catolicismo – e do cristianismo em geral – nesta Europa que parece ter esquecido as suas raízes que, durante séculos, beberam a seiva dos valores cristãos.
Tempo, também, para o Papa nos dizer o que devemos fazer para que a morte do homem pelo homem desapareça da cultura europeia, designadamente em Portugal onde, todos os dias, pelo menos uma pessoa é morta por outra pessoa. Como combater o ódio que continua a germinar no coração de homens e mulheres, que se dizem crentes mas matam para satisfazer paixões doentias
Bento XVI vai falar para nós e connosco das suas preocupações pastorais com a fidelidade aos diferentes ministérios, dos que se consagram à transmissão da Palavra e dos que têm como missão educar para a Fé os jovens que se preparam para a vida profissional
A sua presença é, por isto, uma ocasião soberana para confrontar ideias e propostas, para nos recordarmos que o catolicismo tem de ser, para nós, reflexão e acção e para nos ajudar a reconhecer, com humildade intelectual, os nossos erros, a nossa enfatuada omnisciência e a nossa propensão para tratar as questões da convivência social no plano abstracto das teorias e dos conceitos.
Na sua primeira Encíclica como na mais recente, Bento XVI enfatiza o significado da relação entre as pessoas concretas como via real para a descoberta de Deus. Se é certo que nunca ninguém viu a Deus em si próprio, Ele está a revelar-se no interior do amor que uma pessoa manifesta a outra pessoa.
Este amor há-de manifestar-se de muitas maneiras, mas todas hão-de conduzir ao melhor bem do outro que é meu irmão. Bento XVI vai recordar-nos este seu ensinamento luminoso e, por isso, a sua visita é momento bem apropriado para que estes dois documentos sejam lidos e comentados; e, depois, reflectidos na nossa vida de todos os dias. Para além da erudição filosófica e teológica há neles uma linha directa que nos conduz à acção.
Bento XVI estará entre nós para uma pastoral de dinamização da moderna cultura católica. A sua presença e a sua palavra terão um efeito poderoso nas acções dos católicos em todos os campos de intervenção como os cuidados de saúde, a educação para a felicidade e o optimismo, e o apoio a todos os vulneráveis, do embrião humano ao idoso dependente.
Por isto, é nosso dever, como católicos, ouvir a sua palavra e transformá-la em acção.
Se os portugueses que não se consideram católicos se dispuserem a ouvi-lo, reconhecerem, nas suas palavras e gestos simbólicos algo de bom e decidirem levar à prática as suas propostas – alguém poderá dizer que se trata de manipulação das consciências ou intromissão na política?
Certamente que ninguém.
Portanto será bom que o Papa dialogue com a cultura laica e apresente a sua leitura pessoal dos grandes temas sociais como contribuição qualificada para a sua compreensão. Sem nenhuma arrogância intelectual mas com o empenho de tornar claro um pensamento que tantas vezes tem aparecido deformado por quantos lhe prestam uma atenção distraída.
Para além das celebrações litúrgicas dirigidas aos católicos que nelas rememoram os mistérios da Fé, Bento XVI estará entre nós como a pessoa simples que é. Como o intelectual e o estudioso da cultura cristã, que também é, e como o farol que ilumina muitos milhões de pessoas em todos os Continentes.
Que seja bem-vindo, é o meu voto de católico e a minha disposição como cidadão.
Daniel Serrão