Cardeal Cerejeira: superar as caricaturas

Biografia editada pela Esfera dos Livros

Irene Flunser Pimentel acaba de apresentar a sua obra “Cardeal Cerejeira. Príncipe da Igreja”, uma biografia editada pela Esfera dos Livros.

Ao longo de 361 páginas, a historiadora centra o seu olhar sobre o Patriarca de Lisboa, figura de referência da Igreja Católica e na sociedade portuguesa, inserindo-o na sua época e na história nacional com um longo conjunto final de notas explicativas sobre as questões afloradas no texto, uma cronologia e uma série de encartes fotográficos.

Irene Flunser Pimentel esclarece na nota introdutória que esta biografia do Cardeal Cerejeira não pretende centrar-se na revelação de “episódios privados ou desconhecidos”. A abordagem envereda por um carácter historiográfico que visa “uma tentativa de interpretação pessoal de episódios já conhecidos”.

A historiadora admite que o seu interesse por esta figura da Igreja Católica surgiu após ter realizado uma investigação e estudos para publicar uma Fotobiografia sobre D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
“Como para muitas da minha geração, do Cardeal Cerejeira eu vislumbrava apenas uma caricatura uniforme de um homem e de uma personagem que, à frente da hierarquia da Igreja Católica, era encarada como suporte e cúmplice do Estado Novo ditatorial”, confessa.

Ao começar a ler a obra historiográfica, religiosa e mesmo política de Manuel Gonçalves Cerejeira, Irene Pimental confessa que “a personagem foi ganhando densidade humana, contradições, complexidade e riqueza”.
A historiadora admite ter descoberto no Cardeal Cerejeira “um intelectual, acadé-mico e historiador, que nessa qualidade escolheu, aliás, como objecto de estudo da sua dissertação de doutoramento Clenardo, um humanista renascentista”.

Entre os livros que o Patriarca de Lisboa leu, refere Irene Pimentel, estavam muitos situados “nos antípodas das suas concepções morais e ideológicas” e não se furtava a debates com intelectuais com opinião bastante diferente da sua.

A contra-capa da obra deixa, aliás, algumas provocações sobre a diversidade de opiniões que existem a respeito do Cardeal Cerejeira: “Conservador e elitista ou renovador e humilde? Amante do luxo e da riqueza ou atento à pobreza e defensor dos mais oprimidos? Homem caloroso ou autoritário? Sinuoso ou insinuante? Alinhado com o Estado Novo ou defensor da independência da Igreja em relação ao regime de Salazar, seu amigo íntimo desde os tempos de Coimbra? Defensor da vida e dos direitos humanos ou silencioso perante a violência da PIDE, a guerra colonial e a censura?”

O livro está organizado cronologicamente e em treze capítulos, que vão desde o nascimento numa zona rural do Minho em 1888, até ao final da vida, a 1 de Agosto de 1977, após os anos como Cardeal-Patriarca de Lisboa entre 1929 e 1971.

Os seus últimos anos de vida, pós-25 de Abril, são também objecto de análise.

O último capítulo da biografia aborda o “legado” de D. Manuel Gonçalves Cerejeira: “Cerejeira iniciou, em 1930, a sua estada à frente do Patriarcado, com o magno propósito de recristianizar a sociedade portuguesa, reconstruir a diocese de Lisboa e formar novos padres cultos, ligados ao «seu» bispo, politicamente inactivos mas socialmente empenhados. No entanto, quando concluiu em 1971 a sua vida activa, o panorama era completamente diverso”.

“Não só a Acção Católica Portuguesa quase não existia, como a falta de padres continuava crónica e a cristianização dos anos 30 tinha sido substituída por uma laicização da sociedade”, defende a autora.
Irene Flunser Pimentel venceu em 2007 o Prémio Pessoa e é doutorada em História Contemporânea com uma tese sobre a PIDE/DGS, polícia política do Estado, entre 1945/74. Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, em 1984. Concluiu o mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigadora do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Publicou diversos artigos em jornais e revistas nacionais e estrangeiras, sobre o Estado Novo, a II Guerra Mundial, o nacional-socialismo alemão e o Holocausto, entre outros temas.

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