Bodas de prata da pastoral juvenil

No Domingo de Ramos de 2011, completam-se 25 anos de um diálogo particularmente fecundo entre a Igreja e os jovens, iniciado por João Paulo II, à volta das Jornadas Mundiais da Juventude.

Na sequência do Jubileu da Redenção (1983), o Santo Padre entregou aos jovens a Cruz peregrina (22 de Abril de 1984). Esta cruz esteve também presente no primeiro Encontro mundial de jovens (e estará em Portugal entre os dias 8 e 20 de Agosto do corrente ano), que decorreu no Domingo de Ramos, a 30 de Março de 1985, Ano Internacional da Juventude por iniciativa da ONU.

Nessa mesma ocasião assinou e entregou a Carta Apostólica aos Jovens de todo o mundo: «Queridos amigos («Dilecti amici»)…» e, a 22 de Dezembro desse mesmo ano, anunciou a realização de uma Jornada Mundial da Juventude, a decorrer todos os anos nas igrejas locais, no Domingo de Ramos, e com uma celebração internacional com intervalo de dois ou três anos. 

Buenos Aires (Argentina) foi a primeira cidade anfitriã (1986) e a ela se seguiram Santiago de Compostela (Espanha, 1989), Czestochowa (Polónia, 1991), Denver (USA, 1993), Manila (Filipinas, 1995), Paris (França, 1997), Roma em contexto de Ano Jubilar da Encarnação (2000), Toronto (Canadá, 2002), Colónia – onde será Bento XVI a presidir, pela primeira vez, a esta Jornada (Alemanha, 2005), Sidney (Austrália, 2008) e a próxima está agendada para Madrid, em 2011 e para ela existe já uma enorme mobili-zação nacional.

Constatamos assim que a Pastoral Juvenil que se gerou à volta desta «intuição do Espírito», como lhe chamou o seu fundador na Carta que escreveu em 1996 a respeito do Congresso de estudo sobre as JMJ realizado em Czestochowa, está de bodas de prata. E só isso bastaria para revisitar o texto extraordinário do Papa dos jovens (a editora Paulinas e o DNPJ estão a preparar uma reedição para o Domingo de Ramos) e as consequências e desafios da sua acção. E não será exagerado dizer que a pastoral juvenil em geral, como sector da teologia e da pastoral especializada, se não nasceu nessa data, sem dúvida encontrou aí uma grande alavanca de desenvolvimento. Na verdade, qualquer agente pastoral poderá constatar, com dor ou júbilo de acordo com as implicações antecedentes e consequentes das mesmas, que as Jornadas Mundiais da Juventude provocam um movimento de desinstalação, ousadia e entusiasmo a que as Igrejas locais dificilmente conseguem alhear-se.
Quais são os desafios que se colocam à Pastoral Juvenil de hoje e, particularmente, em Portugal? Creio que os podemos englobar em três: vastidão de recursos humanos e pastorais, nova linguagem e verdadeira paixão.
Estamos certamente cansados de ouvir que os jovens são a prioridade da Igreja. E oxalá que o fossem. A verdade é que a pobreza de recursos humanos que se colocam à disposição da pastoral juvenil dizem o contrário. É uma questão de opções e convicções. E surpreende que as Igrejas locais tenham sempre um pres-bítero parcial ou mesmo totalmente (na maioria dos casos) disponível para a Vigararia Geral mas, para os jovens que «são a prioridade», tenham sempre um com três paróquias ou mais dois secretariados porque «só os jovens é pouco» ou «não podermos dar-nos esse “luxo” nos tempos que correm de falta de vocações». Nessa ordem de ideias, o que é preciso é mesmo uma prioridade prática e não teórica. Todos sabemos quão cansativo é este trabalho e como se não bastasse a dificuldade do mesmo, ainda se lhe juntam os espinhos eclesiais. É justo dedicar aqui, e a este respeito, uma palavra de gratidão e felicitação a tantos animadores juvenis, leigos e sacerdotes, dos secretariados diocesanos e dos movimentos, que numa generosidade sem limites, fazem o que podem e o que não podem pela evangelização da geração estafeta da Igreja… João Paulo II não mandava recado, nem mandava emissários ao encontro dos jovens: ia ele mesmo. E soubemos, com alegria, que o Cardeal António Rouco, de Madrid, está a acompanhar pessoalmente os trabalhos do Comité da JMJ: participa nas reuniões que chegam a demorar doze e catorze horas, conhece pessoalmente os responsáveis de cada secção, opina e toma decisões sobre as formas concretas de acção do evento. «Obras son amores y no buenas razones» – dizem os espanhóis.

Também a pastoral juvenil precisa de uma nova linguagem e isto significa não apenas uma nova forma de dizer mas também de fazer. E sem medo assumir a mudança e aceitar a diferença. Torna-se claro que as relações humanas longas e profundas estão em crise no nosso tempo, a personalidade dos jovens parece hoje formar-se (ou não) através de experiências intensas mesmo que arriscando a fugacidade se não são trabalhadas a posteriori. E esta que é uma fraqueza do nosso tempo pode ser também uma potencialidade se não nos limitarmos ao queixume irresponsável. Se não é possível fazer hoje como há vinte anos atrás, também é verdade que outros campos se abriram e novas manifestações culturais e religiosas nasceram. «É como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas…» (Mt 13,52)

Finalmente uma verdadeira e universal paixão. E eu tenho-a encontrado nos leigos e presbíteros que se dedicam à juventude. Mas é preciso que este fogo alastre a todos os cantos e dimensões da Igreja. Os jovens não podem ser apenas presença viçosa para embelezar as grandes manifestações eclesiais quando nos conselhos pastorais paroquiais e diocesanos, nos projectos e programas diocesanos e nacionais, nas directrizes operativas e até económicas são uma sombra. Na sua carta Queridos Jovens, João Paulo II alertava a «geração precedente» sobre a sua enorme responsabilidade e dizia: «a Igreja olha para si mesma de modo especial nos jovens» (n.º 15). E, neste olhar, como se vê e gostaria de ver-se a si mesma a Igreja em Portugal no século XXI?

Estou profundamente convencido, de alma e coração, que as palavras do mais jovem evangelista permanecem actuais: «escrevi-vos, jovens, porque vós sois fortes e a Palavra de Deus permanece em vós» (1 Jo 2,13).

Pe. Pablo Lima
Director do DNPJ

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top