D. António Carrilho espera fim das polémicas sobre a Lei das Finanças Regionais
O bispo do Funchal considera que as consequências do temporal vão “intensificar” a “linha da acção social da Igreja” assumida pela diocese.
D. António Carrilho está consciente de que os acontecimentos ocorridos a 20 de Fevereiro terão provocado “momentos de angústia, desespero, perplexidade e interrogação”. Mas simultaneamente “há testemunhos muito bonitos” em que a população “assume na fé” a dor e o sofrimento.
Depois de mencionar a importância da espiritualidade mariana na Ilha – “48 das 90 paróquias são dedicadas a Nossa Senhora” – o prelado sublinhou que a população tem sido capaz de desligar os acontecimentos de um hipotético castigo divino.
O apuramento dos motivos das enxurradas não é, aliás, a prioridade do bispo do Funchal. “É muito difícil numa ocasião como esta, e perante uma catástrofe desta ordem, estar a averiguar quais as causas e as responsabilidades”, declarou à ECCLESIA. “Uma tromba de água daquela dimensão teria, em qualquer parte, consequências muito graves”, acrescentou.
“Nesta hora, o que mais interessa é notar como se desenvolveu um espírito de solidariedade e comunhão entre as pessoas”, assinalou o prelado.
Na análise do bispo do Funchal, a relação de proximidade no interior das comunidades contribui para que a ajuda “não seja institucional mas personalizada, criando laços profundos”.
Para D. António Carrilho, “a Cáritas teve, desde a primeira hora, uma importância muito grande na recolha de donativos, na organização de grupos de voluntários e na distribuição do apoio aos desalojados”.
“Peço a Deus que este espírito de solidariedade se mantenha e cresça e não seja momentâneo”, referiu.
O prelado revelou a sua posição face à Lei das Finanças Regionais, questão que acredita estar “praticamente ultrapassada”. Depois de admitir que a Madeira tem um desenvolvimento superior à maior parte dos distritos de Portugal, D. António Carrilho ressalvou que o “investimento muito grande” ainda está a ser pago. Neste sentido, o bispo do Funchal defendeu que o Arquipélago precisa de receber mais fundos para depois poder partilhá-los.
“Olhar em frente” e “construir um futuro solidário” constituem as prioridades apontadas pelo prelado. “Temos de dar coragem para refazer vidas desfeitas e restituir a beleza à nossa Região, sobretudo nas zonas mais afectadas”. Esta perspectiva não significa “deixar de lembrar aqueles que pereceram nem esquecer o sofrimento, que deve durar por muito tempo”, reconheceu.