Como falará Bento XVI a quem não acredita?

Quando penso na Igreja, penso em gente, um povo de Deus que caminha e reza. Penso numa multidão que se une à volta da Fé que estrutura o corpo e a alma de quem vive a relação filial com o Deus em que acredita. Quando penso na Igreja e nas suas pessoas da hierarquia, penso em fidelidade, entrega, missão e humildade. Mas esta minha visão não é partilhada por quem não acredita e até pode ter um lugar na peregrinação da nossa vida. Quando penso nas pessoas que não acreditam nesta Igreja, penso no que pensarão sobre a vinda de Sua Santidade.

 Como apresentador de televisão tenho o papel de perguntar, como tal tenho indagado quem não acredita, sobre o que pensa desta visita papal. As respostas têm sido unânimes, todos gostavam que da visita viesse mais confiança para um país desacreditado.

Tenho uma leitura exigente, crítica e por vezes céptica de alguns testemunhos de fé que me aparecem no quotidiano. Testemunhos vindos de pessoas, sejam elas leigos, sacerdotes, ou os em voga católicos não praticantes. Sinto falta de convicção, de uma humilde convicção na mensagem redentora do Cristo Salvador que foi devir da morte em vida. Sinto falta de transpor para a vida dos empregos e desempregos a mensagem da Igreja para o seu povo. Eu explico melhor. Gostava de perceber mais o sentido da mensagem de Cristo na vida que nos rodeia, e nem sempre consigo. Certamente é também falha minha, mas esta necessidade tem sido partilhada com testemunhos que tenho encontrado nos meus dias. As pessoas deste século precisam de sentir a Igreja mais enraizada nas suas vidas, e também sei que este é um desafio presente no coração da mesma Igreja.

Bento XVI não trará a fórmula infalível da transposição da mensagem de Cristo para a realidade, mas gostava que trouxesse para a vida do Portugal vergado a confiança, o optimismo e a esperança que todos sentimos falta. Contudo, sinto ser importante que esta mensagem não chegue só a quem tem a bênção de Acreditar, e sente que a fé lhe assiste. Gostava que a mensagem de Bento XVI chegasse aos desacreditados do princípio deste meu texto. É fácil falarmos para quem nos ouve, difícil é falar para quem não nos quer ouvir.

“Contigo caminhamos na esperança”, leio na página online da visita papal. Um lema forte para esta peregrinação do Santo Padre! Palavras importantes, um caminho que não se faz sozinho, e que se envolve de esperança. A esperança, à semelhança da nossa saudade, não é invocada só por quem acredita, e vive na fé que Sua Santidade vem anunciar. Tem esperança quem vive, quem produz, quem cria, quem ama, quem peca e se reconverte, quem caminha, quem tem filhos e cadilhos, quem perde o norte, quem adoece, quem vive estigmas sociais. A esperança é de todos. Ora aqui poderá estar uma luz para que quem não acredita possa ter esperança. Sinto que falta encher esta esperança de experiências, de realidades, de factos, de emoções, de testemunhos convictos. Falta dar caminho atingível a esta fé. É esta falta que quem não é crente diz esperar que Bento XVI revele, proclame, e sobretudo convença. Convencer os desacreditados que a vida tem um lugar para a fé, e que com fé a luminosidade das coisas pode ser revelada.

A quem perguntei sobre a visita papal, disse que sim… era bom ter o Papa em três lugares de Portugal, é uma visita descentralizadora, era bom que a mensagem também nos focasse para um centro que temos dificuldade em perceber….dizem-me com seriedade no olhar. Por ter sentido a Igreja longe de mim, decidi colocar-me longe da Igreja, afirma uma mulher de 30 anos, gostava que a visita papal me envolvesse, me orientasse….continua a mulher. São estes testemunhos, partilhados por mais gente, que me fazem pensar sobre o sentido da vinda do Santo Padre para quem está longe do caminho da esperança!

Bento XVI chama, carinhosamente, a Maria “Estrela do Mar”. Que esta Estrela, que move um povo lusitano ao Seu altar do mundo, possa revelar-se a quem caminha na sua devota fé, ou a quem procura um caminho e ainda não se convenceu e comoveu pela bússola da Igreja de Cristo.

Hélder Reis, jornalista

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