Coordenador Nacional sublinha que a dor deve ser aliviada através dos cuidados paliativos
A Igreja Católica celebra esta Quinta-feira o XVIII Dia Mundial do Doente, data a que o Papa se refere para falar na “exigência de uma presença eclesial atenta e capilar junto dos doentes” e de uma presença na sociedade que transmita “os valores evangélicos em defesa da vida humana em todas as fases, da sua concepção à sua morte natural”.
“Não é o evitar o sofrimento” e “a fuga diante da dor” que cura o homem, mas “a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com amor infinito”, lembra Bento XVI na mensagem que escreveu para este dia.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Mons. Vítor Feytor Pinto defende que, acima de tudo, é “importante garantir suficiente qualidade de vida aos doentes. Perante o sofrimento intransponível, vamos tentar aliviá-lo através dos cuidados paliativos.” “Devemos fazer tudo o que tecnicamente for possível para que a dor não seja de tal maneira violenta que incapacite a vivência em união com Jesus Cristo”, acrescenta.
O texto papal recorda que a experiência da enfermidade pode tornar-se “escola de esperança”, desde que, como refere o coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, os doentes “aprendam a sofrer”.
Em nota pastoral, o bispo de Setúbal reforça a mesma certeza. D. Gilberto Reis afirma que o “tempo de doença não é tempo perdido”, mas “oportunidade de crescimento e santificação”.
Além de estimular a confiança pessoal no futuro, uma espiritualidade cristã que associe a fé ao sofrimento beneficia toda a Igreja. É com base nesta convicção que Bento XVI pediu aos enfermos para que, ao longo do Ano Sacerdotal (2009/10), rezem e ofereçam as suas provações pelos padres, “a fim de que possam manter-se fiéis à sua vocação e o seu ministério seja rico de frutos espirituais”.
Conselho Pontifício faz 25 anos
O Dia Mundial do Doente pretende “sensibilizar profundamente” a Igreja sobre a importância do “serviço pastoral no vasto mundo da saúde”, tarefa “que faz parte integrante da sua missão”, sublinha Bento XVI na mensagem.
Neste sentido, o Papa saúda o 25.º aniversário do Conselho Pontifício para a Pastoral no Campo da Saúde, entidade que resulta da acção eclesial em favor dos enfermos e dos sofredores, que se tem manifestado “de múltiplas formas ao longo dos séculos”.
Para o Mons. Vítor Feytor Pinto, aquele Organismo possibilitou “uma nova forma de evangelizar”. Antes, “tínhamos apenas o cuidado pelo doente; hoje, estendemos essa preocupação à saúde, globalmente entendida”, explica o sacerdote.
As perspectivas abertas há 25 anos “conduziram ao apoio explícito às unidades de saúde e seus profissionais, à prevenção da doença e ao incremento do voluntariado nos hospitais e nas comunidades paroquiais”, afirma o coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde.
O sacerdote refere que a fundação do Conselho Pontifício contribuiu igualmente para a “reorganização, em todos os países, dos serviços de capelania hospitalar” e permitiu a sua abertura ao “movimento ecuménico e ao diálogo inter-religioso”.
Curar feridas do corpo e do espírito
Bento XVI pede aos presbíteros que não se poupem no cuidado e conforto oferecidos a quem se encontra em situação de doença. “O tempo transcorrido ao lado de quem se encontra na prova revela-se fecundo de graça para todas as demais dimensões” da missão a realizar pelos padres, salienta o Papa.
O acompanhamento dos doentes “é uma preocupação fundamental do sacerdote”, diz o presidente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde. “Na encíclica «Spe Salvi» é chamado o ministério da compaixão, palavra que significa ‘sofrer com’. E também é designado de ministério da consolação, na medida em que ajuda a vencer as solidões a que os doentes tantas vezes estão sujeitos”.
“O trabalho que nós desenvolvemos, como padres, junto dos enfermos é sempre uma oração de esperança, rezando para que eles ultrapassem a dor e adquiram novamente a qualidade de vida que sempre tiveram. Por outro lado é uma presença de amor e de carinho junto daquele que está em sofrimento”, conclui Mons. Feytor Pinto.
Para D. Gilberto Reis, a “Igreja não pode deixar de dedicar especial atenção aos doentes”, “para os integrar bem na comunidade” e para os ajudar a “descobrir a sua vocação”. Por isso o prelado pediu às comunidades da diocese que criem um núcleo dedicado à Pastoral da Saúde.
O bispo de Setúbal quer também que se estabeleça “um diálogo, quanto possível organizado” entre as capelanias hospitalares e as paróquias, para que as duas instâncias conheçam o movimento de entrada e saída nos internamentos que ocorrem nas unidades hospitalares.
O Dia Mundial do Doente ocorre na mesma data em que a Igreja evoca a memória de Nossa Senhora de Lourdes. No ano de 1858, a Virgem Maria apareceu a Bernadette Soubirous na gruta de Massabielle, perto daquela cidade francesa. A mensagem mariana apelou à conversão e despertou um intenso movimento de oração e acção caritativa, sobretudo em benefício dos doentes e dos pobres.