O Papa Bento XVI vem a Portugal, em Maio. Vem, peregrino, rezar nesse grande local de peregrinação do cristianismo que é Fátima, e vem, tanto quanto se sabe, reunir-se com representantes de vários sectores da sociedade portuguesa.
A visita de um Chefe de Estado é sempre um factor assinalável na vida dos países, mas na visita do Papa, acresce o facto de ser o chefe da Igreja Católica (que ainda é constituída em Portugal por uma larguíssima parte da população), de ser um inquestionável e incontornável filósofo do nosso tempo, cujas ideias são referenciais no pensamento contemporâneo.
O anúncio da sua vinda é sem dúvida um factor de grande alegria, e a sua realização é aguardada com grande expectativa. Sabe-se que o Papa, nas suas deslocações tem sempre uma particular atenção à situação da sociedade que visita, às problemáticas que a marcam, às características que a definem.
A nossa vida nacional recente tem sido e é marcada por uma agitação institucional (prenúncio de instabilidade?), por um agravamento das condições de vida das populações (aumento do desemprego, intensificação da pobreza), por índices de crescimento praticamente inexistentes, por um confronto de valores, alguns dos quais, matriciais (de que é exemplo o debate feito em torno do casamento e dos conceitos de família que lhe estão subjacentes).
Por outro lado, constata-se também uma fraca mobilização da sociedade para pensar, enquadrar, contribuir para ser parte activa na construção comum.
A vinda do Papa pode ser uma oportunidade para todos, católicos e não católicos, no contexto actual recuperarem, aprofundarem, destacarem, o apelo que vem a ser feito nas mais recentes mensagens, desde a carta encíclica Caritas in Veritate até à mensagem de ano novo, nomeadamente no que tem a ver com o combate sustentado à pobreza, com a recuperação da solidariedade assente em princípios fundamentais de justiça, com a alteração de paradigmas de comportamento face ao consumo e à fruição dos bens comuns, com a defesa dos valores fundamentais da vida e da família.
De facto esta alteração de paradigma representa um enorme desafio quer aos comportamentos individuais, quer institucionais, no que se refere à recuperação de uma necessária sobriedade e contenção em tempos de crise.
Será também uma oportunidade para provocar a (re)dinamização das estruturas da Igreja, nomeadamente no que se refere à necessária aproximação às circunstâncias concretas dos tempos em que vivemos, para que seja referência permanente e segura da mensagem de Cristo.
Mas para que as oportunidades se efectivem é preciso que nos preparemos, que estejamos alerta, e que o queiramos. Mas também é preciso que sejamos incluídos, que sejam construídas as condições para que as oportunidades se realizem. A visita tem pois que ser uma visita a todos nós.
Maria do Rosário Carneiro