“A agricultura está praticamente reduzida a zero e a indústria também tem estado em crise”. É com estas palavras que D. José Alves traça o quadro laboral da diocese de Évora. Em 2009, os vinte pólos que a Cáritas tem na região ajudaram cerca de mil famílias.
Além da falta de emprego, a realidade social é afectada pela diminuição do número de habitantes e pelo envelhecimento, fenómenos que fomentam o isolamento. “A solidão tem por vezes efeitos mais nefastos do que a pobreza material”, sendo “um dos maiores problemas da nossa sociedade”, assinala o prelado.
Em entrevista ao programa “No Caminho das Dioceses”, da Rádio Renascença, D. José Alves referiu que a Igreja tem alargado a sua rede de lares de terceira idade e centros de dia. Algumas paróquias criaram inclusivamente “centros de noite”.
“Estamos longe de dar cobertura a todos os casos”, admitiu o arcebispo de Évora ao mencionar as “extensas” listas de espera para a admissão às instituições de apoio social geridas pela Igreja.
A escassez do número de padres diante das necessidades das comunidades foi outro dos assuntos referidos pelo prelado. A arquidiocese tem 158 paróquias mas os sacerdotes são cerca de metade. E alguns já com idade “um pouco avançada”.
Referindo-se ao número de seminaristas – 14 – D. José Alves considera que “não estamos muito bem mas já estivemos pior”. E há um detalhe “emblemático e consolador”: “as vocações que temos neste momento são originárias da própria diocese, o que antes não acontecia”. Para o prelado, esta evolução “é sintoma de que há um amadurecimento cristão dentro das comunidades”.
A escassez de clero implica rever as incumbências que lhe são atribuídas, sem no entanto desvirtuar a sua identidade. O arcebispo defende que “seria desejável” que algumas das actividades exercidas pelos padres passassem a ser assumidas pelo laicado.
“Na nossa diocese temos já um núcleo apreciável de leigos que colaboram directamente com os sacerdotes”, assinalou D. José Alves, que deu como exemplo desta cooperação as celebrações dominicais na ausência de presbítero e a missão realizada pelos ministros extraordinários da comunhão quando visitam os doentes.
O vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social entende que a formação dos cristãos é um dos principais desafios da Igreja portuguesa. “Há muita gente que tem fé, mas é uma fé pouco esclarecida”, constata o prelado. Por outro lado, a cultura contemporânea deixou de proporcionar “apoio para a prática da vivência cristã”, chegando mesmo a ser-lhe “adversa”.
No que diz respeito à visita do Papa a Portugal, D. José Alves está convencido de que a presença de Bento XVI vai promover a “comunhão” e suscitar uma “fé mais sólida”.