Drama duro baseado no romance “Push”, escrito por Sapphire, de publicação quase incógnita em 1996, “Precious” conta a história de Claireece Precious Jones, uma adolescente negra cuja vida é assombrada por um ciclo doentio de desamor e abusos quotidianos, físicos e psicológicos, por parte dos progenitores.
Porém, a sua adaptação ao cinema pelo argumentista Geoffrey Fletcher e a supervisão do realizador Lee Daniels dão um fabuloso impulso ao filme, tornando famosa a dramática história de Clareece ao mesmo tempo que a candidata aos melhores galardões do cinema internacional: das categorias de melhores actrizes principal e secundária à de melhor realização, passando pelo elogio à adaptação do argumento e qualidade da montagem, o filme soma já seis nomeações para Oscars, quatro para BAFTAs (os prémios da Academia Britânica de Cinema) sendo seleccionado pelas melhores actrizes principal e secundária por parte de círculos restritos e exigentes como os dos críticos americanos ou londrinos.
Não admira o impacto, pois além da qualidade extraordinária das interpretações há um estilo de realização simples e tocante, ainda original, a que estamos pouco habituados em longas-metragens: um registo negro muito moderno, com a mão visível de Oprah na produção executiva e onde à crueza das sequências de violência doméstica se sobrepõem, em forte contraste, os momentos mais brilhantes de evasão e sonho de Clareece – sonhos que sabemos nós e ela, jamais serão alcançados.
O mais extraordinário e comovente na história de Clareece, é porém a forma como ela supera o seu horizonte taciturno, a importância dos pequenos grandes gestos que recebe e que, com ajuda da sua força interior – registada numa vontade de desejar e projectar que comunica, por transcendência, a outrem sem que este seja alguém visível – a fazem agarrar à vida, acreditar de novo no amor, nunca perder a Esperança e, sobretudo, focar tudo isto na importância de amar os filhos e por eles ser amada, como nunca foi.
Margarida Ataíde
