Resposta à crise só com novos paradigmas

A resposta à actual situação não pode surgir “dentro do paradigma em que a crise se instalou”, defendeu a economista Manuela Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP).

Durante o seminário «A Caminho de uma Nova Ordem Económica?», que decorreu em Lisboa, esta responsável sublinhou que a iniciativa do Grupo de Trabalho «Economia e Sociedade», criado no âmbito da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), traduz uma preocupação com o “conceito de desenvolvimento, a qualidade do desenvolvimento”, no sentido da dimensão humana e na sua componente de sustentabilidade, ecológica e social.

Em declarações à ECCLESIA, Manuela Silva fez questão de sublinhar que a pobreza e o desemprego não são uma “fatalidade” e que é necessário rever os indicadores utilizados para medir o desenvolvimento.

José Castro Caldas, José Manuel Pureza e Mário Murteira foram os intervenientes desta iniciativa, integrada no projecto de investigação-acção que tem por tema «Democratizar a Economia para um Desenvolvimento Humano Sustentável». Para breve está programado outro seminário sobre a regulação financeira.

Regular a globalização

Na sua intervenção, Mário Murteira sublinhou que caminhamos para uma “forma muito específica” de mercado, globalizado, e que hoje já não faz sentido falar em três mundos, pois estamos cada vez mais “enredados uns nos outros”.

Para o economista, a crise resultou do desajustamento entre a “globalização do conhecimento” e o que decorre das tecnologias da comunicação com a “globalização financeira”.

Após destacar a desproporção entre as forças que querem ao regresso do “business as usal” e as que querem “alguma coisa diferente”, Mário Murteira apontou os contornos duma nova ordem económica “apenas esboçada”.

Nessa nova ordem incluem-se o reforço da economia solidária, a valorização da identidade local, novos sistemas reguladores das economias, a desocidentalização da economia mundial e um novo modelo para a ONU e o sistema monetário internacional

José Castro Caldas, no seu comentário, frisou que “a liberdade dos movimentos de capitais financeiros e reais deu origem a uma concorrência entre governos para atrair esses mesmos capitais”. Daqui resultou uma distorção da base fiscal, cujo peso recaiu “sobre o trabalho”.

Nesse sentido, apelou a uma “regulação global” e ao combate do que chamou de contra-movimento que “explora o medo”.

José Manuel Pureza, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, afirmou por seu lado que “estamos num tempo de nova ordem internacional” e o que tem de vir “não é repetição do que estava atrás”.

“Os povos mais pobres têm de ter peso, presença real” nessa nova ordem, assinalou, apontando como dimensões centrais “a autodeterminação, a reciprocidade, a justiça ambiental (com o pagamento de dívidas ambientais que o Norte tem com o Sul) e a democracia”.

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Agência ECCLESIA

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