Cinema: Invictus – Simplicidade, Carisma e Liderança

“Invictus”, o novo filme de Clint Eastwood, já muito aguardado entre os cinéfilos e os fãs do actor tornado realizador, vê as expectativas estenderem-se aos amantes duma modalidade desportiva que ganhou substancial impacto nos últimos anos entre nós: o râguebi.

Mas nem só de râguebi “Invictus” fala. A história do filme cruza dois momentos da História: a da República da África do Sul pós-Apartheid, com o carismático Nelson Mandela a liderar, incansavelmente, os destinos de uma nação no despertar de uma consciência social e política participativa; e a história da selecção nacional dessa mesma república que, pela primeira vez, se abalança a uma vitória sem precedentes no mais prestigiado torneio de râguebi do mundo. Destes resultados, eleita equipa e modalidade símbolos da unidade nacional, depende cada vez mais a auto-imagem de uma nação.

A destacar na concepção cinematográfica, está a sempre surpreendente capacidade de Eastwood de tornar extraordinariamente simples e subtil o que é profundo, dramático, heróico ou fracturante.

Uma história como esta, de dois capitães de equipa que, a liderar um povo ou um grupo de atletas, fazem convergir as aspirações de uma nação num punhado de homens entre as quatro linhas de um estádio, convidaria uma quantidade de outros produtores e realizadores a excessos de drama e heroísmo, com o sangue da discórdia, o suor do esforço físico e as lágrimas da desgraça ou da comoção da vitória a correr a fio pelo ecrã.

Eastwood, porém, ele mesmo uma personagem da história do cinema desenhada a traços progressivamente mais marcantes, crescendo em simplicidade, sabedoria e carisma, gere com invulgar subtileza um enredo cuja emoção se impregna mais e mais na pele do espectador.

Além da bela e discreta banda sonora do filho Kyle E. e da adequada direcção fotográfica de Tom Stern (com Clint desde os tempos de “Blood Work – Dívida de Sangue”), o filme conta com a excelente interpretação de Morgan Freeman.

Sem espectacularidade gratuita, “Invictus” é um filme de um charme discreto que coloca o verdadeiro desporto no seu lugar, como motor de união, concórdia e saudável espírito de desafio.

Margarida Ataíde

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