O teólogo João Duque considera que o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – “Vós sois testemunhas destas coisas” – estimula o percurso ecuménico, na medida em que destaca a dimensão central do cristianismo e relega para segundo plano os aspectos que dividem as Igrejas.
Em Portugal, o diálogo entre as confissões cristãs intensificou-se nos dois últimos anos, tendo atingido uma “velocidade de cruzeiro”. Para o secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo, os passos dados já não têm recuo.
A nível local, no entanto, o ecumenismo ainda não é uma preocupação relevante nos planos pastorais. Além do relacionamento com os crentes de outras Igrejas cristãs, o professor da Faculdade de Teologia acredita que “seria bom” que os católicos conhecessem “outros modos de viver o cristianismo.
O docente universitário constata que é difícil envolver a participação das comunidades no programa da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos quando não há actividades ecuménicas ao longo do ano.
Nos países onde o catolicismo é hegemónico, uma hipotética paragem no dinamismo ecuménico em pouco ou nada alteraria a rotina das comunidades, o que para João Duque “é um perigo”.
Neste sentido, a prioridade da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo consiste no desenvolvimento de um trabalho a nível local, “porque o ecumenismo só avança a partir das comissões diocesanas”. São elas que podem constituir pontes com outras Igrejas cristãs.
O Grupo Ecuménico do Porto ou o Fórum Ecuménico Jovem são exemplos de iniciativas que decorrem ao longo do ano e que dão frutos permanentemente. Para o teólogo, este é o ideal a atingir nas dioceses com tenham comunidades cristãs não católicas.
Entre a uniformização e o sincretismo
[[v,d,797,Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos]]Os jovens manifestam uma grande sensibilidade ao “fundo comum” que marca todas as Igrejas cristãs. Para João Duque, esta atitude é a base de todo o ecumenismo.
O teólogo adverte, no entanto, para o risco de não se explorarem as especificidades de cada confissão, originando-se uma “espécie de sincretismo”. “Penso que isso não é benéfico para nenhuma das Igrejas”.
Hoje em dia admite-se, quase consensualmente, que a visibilidade da unidade da Igreja não implica a uniformidade nem a centralidade de Roma
O teólogo defende que se algum dia as outras confissões cristãs vierem a considerar o Papa como referência da unidade, teria que se criar outra configuração que não a católica.
“Seria claramente um empobrecimento se daí resultasse uma Igreja uniforme”, observa João Duque. Mas a solução – acrescenta – também não é a do sincretismo, isto é, uma instituição que resultasse da soma de aspectos parcelares de todas.
O fundamental é que as Igrejas se entendam em aspectos fundamentais, “dos quais não se possa abdicar”, sabendo que “pode haver modos diferentes de viver o cristianismo”.
O docente recorda que as disputas teológicas associadas às divisões e conflitos entre as confissões cristãs derivaram de desentendimentos culturais e políticos, entre outros. A relação entre católicos e ortodoxos, por exemplo, está muito próxima em termos doutrinais, embora se distancie no plano cultural. A aproximação aos protestantes, por seu lado, é muito mais cultural do que teológica.
O ecumenismo “é complexo” e tem “muitos factores em jogo”, sintetiza João Duque.