Igrejas vivem semana dedicada ao diálogo

Da família à música, muitos são os espaços concretos para o ecumenismo

As Igrejas cristãs vivem, de 18 a 25 de Janeiro, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, naquela que representa a grande referência para a prática do diálogo ecuménico entre nós. Ano após ano são formulados votos para que esta preocupação esteja presente na vida dos cristãos ao longo de todos os Domingos, mas é fundamentalmente nestes oito dias que a Unidade dos cristãos provoca encontros de oração, partilha e reflexão.

O Movimento Ecuménico é hoje um dado adquirido para os cristãos em geral. Afirmou-se primeiro fora da Igreja Católica, mas desde o Vaticano II que os católicos se encontram também empenhados, a todos os níveis, em promover a unidade visível entre todos os cristãos.

A celebração mundial deste tempo de oração começou na Igreja Episcopal (Anglicana), nos EUA, em 1908, por iniciativa do Reverendo Padre Paul Wattson. O espaço temporal compreendia as festas litúrgicas da cátedra de São Pedro e do apóstolo São Paulo.

Actualmente, a Semana de Oração é celebrada por milhões de cristãos no mundo. O decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II, promulgado em 1964, considerou a oração como a “alma” do movimento ecuménico e animou esta celebração.

A iniciativa não pretende ser, contudo, apenas um conjunto de celebrações, assumindo-se como uma oportunidade única para educar as comunidades cristãs no caminho da reconciliação e planear acções ecuménicas em permanência, dentro das mesmas.

No seu Dossier para esta celebração, o semanário Agência ECCLESIA apresenta várias abordagens à questão ecuménica, a começar por uma história de vida: o casamento entre Elizabete e Pedro, ela católica, ele pastor presbiteriano. “O nosso dia-a-dia passa para as outras pessoas e nós nem nos apercebemos. Fazemos com simplicidade, tal como os outros casais. A base é o respeito. Não é muito diferente de outros casais”, assegura Elizabete.

O sacerdote dominicano José Nunes, professor de teologia na UCP, afirma, a respeito da celebração do Oitavário em 2010, que “a divisão na Igreja de Cristo não é apenas um pecado em si mesma. É também um pecado e um escândalo que afecta a missão eclesial”.

“Por isso, toda a tarefa ecuménica tende a superar a divisão interna dos cristãos mas também a criar as condições de possibilidade de uma missão/evangelização credível”, assegura.

O papel da música no panorama ecuménico mundial e português é apresentado por Rui Aleixo, o qual adianta que já está a caminho o segundo CD Ecuménico, que reúne música litúrgica de quatro confissões cristãs (Igreja católica, lusitana, metodista e presbiteriana). “A letra das músicas é o português e este projecto promovido pelo Grupo Ecuménico Juvenil reuniu jovens do norte e do sul do país, vindos das comunidades cristãs representadas no CD”, indica.

Perspectivando um dos momentos altos para o ecumenismo no nosso país, durante 2010, o Irmão David, de Taizé, fala sobre o Encontro Ibérico que o Porto irá receber no Carnaval.

Na mesma cidade, o Hospital de São João procura oferecer condições para que todas as confissões religiosas possam prestar assistência espiritual aos doentes e tenham um espaço condigno para celebrar a sua fé.

 

Missão

Durante o século passado a reconciliação entre os cristãos tomou formas bastante diferentes. A espiritualidade ecuménica mostrou como a oração é importante para a unidade dos cristãos. Grande impulso foi dado à pesquisa teológica, levando a um grande número de acordos doutrinários.

A cooperação prática entre as Igrejas no campo social fez nascer frutuosas iniciativas. Juntamente com essas conquistas mais amplas, a questão da missão assumiu um lugar especial. Nem todos fazem naturalmente a ligação entre o empenho missionário e desejo da unidade cristã. Ainda assim, o compromisso missionário da Igreja deve caminhar passo a passo com seu compromisso ecuménico.

Historicamente, o facto de a questão da unidade cristã ser frequentemente abordada por missionários deve-se a razões práticas, para evitar a competição diante da necessidade de grandes recursos humanos e materiais.

O território a ser evangelizado era partilhado e tentativas ocasionais eram feitas para realizar algo mais do que ter actividades desenvolvidas paralelamente e para favorecer projectos comuns. Missionários de Igrejas diferentes poderiam, por exemplo, combinar os seus recursos para elaborar uma nova tradução da Bíblia e essa cooperação ao serviço da Palavra de Deus levou a reflexões sobre as divisões entre os cristãos.

Sem negar as rivalidades existentes entre missionários enviados por Igrejas diferentes, deve também ser reconhecido que aqueles que estiveram primeiro no campo da missão foram também os primeiros a reconhecer a tragédia da divisão dos cristãos.

A Europa habituou-se às divisões entre Igrejas, mas o escândalo da desunião parecia terrível aos missionários que estavam a anunciar o Evangelho a pessoas que nada sabiam sobre Cristo até então. No meio do caminho que as novas Igrejas locais estavam a descobrir, seria difícil deixar de notar a lacuna entre a mensagem de amor que queriam viver e a real separação entre os discípulos de Cristo.

O lema para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2010 é “Vós sois as testemunhas disso.” Vem do capítulo 24 do Evangelho de Lucas, que é o ponto central da celebração. Esse é também o lema que os cristãos da Escócia escolheram para celebrar o centenário da Conferência Missionária de Edimburgo.

Em 1910 participantes do encontro em Edimburgo ouviram o testemunho profético que mostrava como as divisões entre cristãos não apenas enfraqueciam a eficiência missionária, mas também debilitavam a Igreja como corpo de Cristo na sua missão.

Em 2010 os cristãos da Escócia convidam os grupos ecuménicos a ler em voz alta todo o capítulo 24 de Lucas, vendo a Ressurreição de Cristo como fonte de comunhão eclesial, de envio para a missão, do laço intrínseco entre missão e unidade e, portanto, da contínua necessidade de renovar o compromisso com a unidade cristã.

Foi precisamente essa demanda recíproca por evangelização e ecumenismo que os pioneiros do movimento ecuménico do século XX enfatizaram com força e clareza.

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