Papa visitou Sinagoga de Roma e lembrou acção dos católicos na II Guerra Mundial

Judeus e cristãos devem percorrer caminho do diálogo, diz Bento XVI

Bento XVI visitou este Domingo a Sinagoga de Roma, defendendo que o Vaticano ajudou os judeus, muitas vezes de forma “escondida e discreta”, durante a II Guerra Mundial.

O Papa abordou em particular a questão da Shoah: “Neste lugar, como não recordar os judeus romanos que foram retirados das suas casas, diante destes muros, e com horrenda tortura foram mortos em Auschwitz? Como seria possível esquecer os seus rostos, os seus nomes, lágrimas, desespero de homens, mulheres e crianças?”

“ O extermínio do povo da Aliança de Moisés, antes anunciado, em seguida sistematicamente programado e realizado na Europa sob o domínio nazi, chegou naquele dia tragicamente também a Roma. Infelizmente, muitos foram indiferentes, todavia muitos, também entre os católicos italianos, sustentados pela fé e pelo ensinamento cristão, reagiram com coragem, abrindo os braços para socorrer os judeus perseguidos e fugitivos, muitas vezes arriscando a própria vida, e merecendo uma gratidão perene”, indicou.

Bento XVI deixou claro que “também a Sé Apostólica desenvolveu uma ação de socorro, muitas vezes escondida e discreta”.

“A memória destes acontecimentos deve levar-nos a reforçar os laços que nos unem para que cresçam cada vez mais a compreensão, o respeito e o acolhimento”, assinalou.

A terceira visita do Papa tinha como objectivo consolidar o diálogo e o respeito entre as duas comunidades, procurando ultrapassar as dificuldades que têm surgido neste relacionamento.

“Com sentimentos de viva cordialidade encontro-me no meio de vós para manifestar a estima e o afecto que o Bispo e a Igreja de Roma, e toda a Igreja Católica, nutrem por esta Comunidade e pelas Comunidades Judaicas espalhadas pelo mundo”, indicou.

O Papa foi recebido pelo presidente da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Pacifici, pelo presidente da Comunidade Judaica Italiana, Renzo Gattegna, e pelo rabino-chefe da Sinagoga de Roma, Riccardo Di Segni.

Bento XVI, alemão, parou diante da lápide que recorda a deportação de 1021 judeus para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, a 16 de Outubro de 1943. O Papa deteve-se também diante da lápide que lembra o atentado de 9 de Outubro de 1982, em que perdeu a vida Stefano Taché, menino judeu de dois anos, e ficaram feridos 37 judeus que saíam do Templo.

No seu discurso, Bento XVI agradeceu ao rabino-chefe da Sinagoga de Roma pelo convite e lembrou a primeira visita papal ao local, que aconteceu há 24 anos, por iniciativa de João Paulo II, o qual quis, segundo o actual Papa, “dar uma contribuição decisiva em favor da consolidação das boas relações entre as nossas comunidades, para superar qualquer incompreensão e preconceito”.

“Esta minha visita insere-se no caminho traçado, para confirmá-lo e reforçá-lo”, assegurou.

Bento XVI recordou que Concílio Vaticano II representou para os católicos um ponto decisivo de referência constante na atitude e nas relações com o povo judeu, abrindo uma nova etapa: “O evento conciliar deu um impulso decisivo ao compromisso de percorrer um caminho irrevogável de diálogo, de fraternidade e amizade, caminho que se aprofundou e se desenvolveu nestes quarenta anos com passos e gestos importantes e significativos”.

O Papa sublinhou que “também eu, nestes anos de pontificado, quis demonstrar a minha proximidade e o meu afecto ao povo da Aliança”.

“Conservo bem vivo em meu coração todos os momentos da peregrinação que tive a alegria de realizar na Terra Santa, em Maio do ano passado, como também os vários encontros com comunidades e organizações judaicas, em particular os das sinagogas de Colónia e Nova Iorque”, sublinhou Bento XVI.

O Papa disse ainda que “a Igreja não deixou de condenar as faltas de seus filhos e filhas, pedindo perdão por tudo aquilo que ajudou a favorecer de algum modo as chagas do anti-semitismo e do antijudaísmo”.

“Cristãos e judeus possuem uma grande parte comum de património espiritual, rezam ao mesmo Senhor, possuem as mesmas raízes, mas continuam reciprocamente desconhecidos. Cabe-nos a nós, como resposta ao apelo de Deus, trabalhar para que permaneça sempre aberto o espaço para o diálogo, o respeito recíproco, o crescimento na amizade, o testemunho comum diante dos desafios do nosso tempo, que nos convidam a colaborar para o bem da humanidade neste mundo criado por Deus, o Omnipotente e Misericordioso”, ressaltou.

Bento XVI fez um apelo para que na cidade de Roma, onde há dois mil anos, convivem a Comunidade Católica com o seu bispo e a Comunidade Judaica com o seu rabino-chefe, tal vivência possa ser animada por um crescente amor fraterno, que se expressa também na cooperação, a fim de oferecer uma contribuição válida na solução de problemas e dificuldades.

O Papa concluiu o seu discurso invocando ao Senhor o dom precioso da paz na Terra Santa, no Médio Oriente e pediu a Deus para que reforce cada vez mais a fraternidade e o diálogo entre católicos e judeus.

De manhã, o Papa admitia a existência de “problemas e dificuldades” nesta relação, que nos últimos anos passaram pela polémica que rodeou a nova redacção da oração pelos judeus na Sexta-feira Santa – utilizada na liturgia pré-conciliar -, o caso “Williamson” ou a declaração de Pio XII, o Papa que guiou a Igreja Católica na II Guerra Mundial, como “venerável”.

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Agência ECCLESIA

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