Políticas neo-liberais na economia são incompatíveis com a luta contra a pobreza
O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa, considera que o confronto da cultura contemporânea com os valores da Igreja leva a que os “cristãos em Portugal façam uma leitura pouco exigente do Evangelho”.
Para o professor universitário, a incoerência entre a Doutrina Social da Igreja e as opções de vida das comunidades cristãs revela “contradições que ultrapassam o nível do compreensível”.
“A nossa austeridade depende não só dos nossos bens, mas dos bens que os outros têm”, afirmou o responsável da CNJP. Essa distinção, acrescentou, é algo “que não estamos habituados a fazer”.
Em entrevista à ECCLESIA, Alfredo Bruto da Costa defende que as “políticas neo-liberais na economia” e a prevalência dos interesses dos “países mais fortes” são incompatíveis com a luta contra a pobreza.
O autor da obra «Exclusões Sociais» contrapôs a corrupção e as burlas económicas à crítica que alguns políticos dirigem à “subsídio-dependência” dos mais carenciados.
[[v,d,779,Entrevista ao Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa]]“Em vez de nos preocuparmos mais com as fraudes, que têm consequências gravosas para a sociedade, centramos por vezes a nossa atenção em coisas mínimas, como o Rendimento de Inserção, como se aí estivesse o grande mal do desperdício das verbas públicas”, observou.
Por outro lado, a pobreza é essencialmente um problema de natureza económica, antes de ser uma questão social: “Cerca de um terço dos nossos pobres são pessoas empregadas”, o que significa que “têm salários baixos”.
O antigo presidente do Conselho Económico e Social aludiu também à oposição entre o estabelecimento de políticas de ordem social e a necessidade de reduzir o défice público.
“Sem mudanças estruturais na sociedade portuguesa não podemos ter a ilusão de combater a pobreza”, resumiu.