Bento XVI apelou ao testemunho dos cristãos e lamentou a existência de «corações insensíveis e fechados à novidade de Deus»
Bento XVI presidiu esta Quarta-feira à celebração da solenidade da Epifania, no Vaticano, recordando ainda os cristãos do Oriente que no dia 7 de Janeiro celebram o Natal.
“Tenho a alegria de dirigir os meus mais cordiais votos aos irmãos e irmãs das Igrejas Orientais que amanhã celebram o santo Natal. Que o mistério de luz seja fonte de alegria e de paz para cada família e comunidade”, disse.
Na homilia da Missa, na basílica de São Pedro, Bento XVI afirmou que “as personagens vindas do Oriente não são as últimas, mas as primeiras da grande procissão dos que, através de todas as épocas da história, sabem reconhecer a mensagem da estrela, sabem caminhar sobre os caminhos indicados pela Sagrada Escritura e sabem assim encontrar Aquele que aparentemente é débil e frágil, mas que tem, pelo contrário, o poder de doar ao coração do homem a maior e mais profunda das alegrias”.
O Papa falou num Deus “que nos conhece e está junto de nós e cuja grandeza e poder não se exprimem na lógica do mundo, mas na lógica de um menino inerme, cuja força é unicamente a do amor que se confia a nós”.
“No caminho da história sempre houve pessoas iluminadas pela luz da estrela, que encontram o caminho e chegam até Ele. Todas essas pessoas vivem, cada uma a seu modo, a mesma experiência dos Magos”, assinalou.
Bento XVI apelou ao testemunho dos cristãos e sublinhou que “o que nos é dito e procuramos reproduzir no presépio não é um sonho, nem um vão jogo de sensações e emoções, sem vigor nem realidade. É, isso sim, a Verdade que se irradia no mundo”.
O Papa interrogou-se ainda sobre o que falta “àqueles que permanecem à estrela”, afirmando que há quem viva com “demasiada segurança em si mesmos, a pretensão de conhecer perfeitamente a realidade, a pretensão de ter já formulado um juízo definitivo sobre as coisas”, o que torna “os seus corações insensíveis e fechados à novidade de Deus”.
“Estão seguros da ideia que se fizeram do mundo e já não se deixam abalar no íntimo pela aventura de um Deus que os quer encontrar. Põem a sua confiança mais em si mesmos do que nele e consideram que Deus não é suficientemente grande para poder fazer-se pequeno, para poder sequer aproximar-se de nós”, prosseguiu.
Pouco depois, na Praça de São Pedro, antes da recitação do Angelus, Bento XVI classificou os Magos como “modelos dos que procuram efectivamente a verdade”.
“Eram homens sábios, que perscrutavam os astros e conheciam a história dos povos. Eram homens de ciência, em sentido amplo, que observavam o cosmos considerando-o como um grande livro cheio de sinais e de mensagens divinas para o homem. O seu saber, longe de se considerar auto-suficiente, estava aberto a revelações e apelos divinos”, indicou.
O Papa acrescentou que os Magos “teriam podido dizer ‘actuamos por nossa conta, não precisamos de ninguém’, evitando, segundo a mentalidade actual, qualquer contaminação entre a ciência e a Palavra de Deus”.
Para Bento XVI, o agir dos Magos vindos a Belém “confirma uma perfeita harmonia entre a investigação humana e a Verdade divina, uma harmonia que encheu de alegria os seus corações de autênticos sábios”, “abertos ao mistério que se manifesta de maneira surpreendente”.
Na cerimónia do dia de Reis, o Papa continuou a aproximar-se dos fiéis, apesar de serem visíveis algumas mudanças no espaço da nave central por onde passou, rodeado por vários homens do corpo de segurança.