Natal de Leste em Portugal

Cristãos de rito Bizantino, que seguem o calendário juliano, vivem nova celebração por estes dias

A ideia ainda pode parecer estranha, mas muitos já se habituaram a ela: há, em Portugal, quem apenas hoje e amanhã festeje o Natal, litúrgica e socialmente.

De acordo com o calendário juliano, ainda usado na Rússia e outros países do Leste europeu, apenas no dia 6 é véspera de Natal. Para muitos cristãos ortodoxos e católicos de rito bizantino, o nascimento de Jesus Cristo celebra-se esta Segunda-feira, dia 7, uma realidade que os portugueses já conhecem melhor, surgida com a vaga de imigração registada no nosso país durante os últimos anos.

Além dos ucranianos, há ainda russos, arménios, georgianos, romenos, búlgaros e várias outras nacionalidades que lutam por manter vivas as suas tradições. Esta nova realidade faz com que aumente também o número de lugares com celebrações litúrgicas de rito bizantino.

Além das celebrações promovidas pelas capelanias diocesanas de rito católico bizantino, no país haverá também celebrações das Igrejas Ortodoxas ligadas aos Patriarcados de Moscovo, Constantinopla, Grécia e Bulgária.

Segundo o rito bizantino, o nascimento de Jesus ocorre no dia 7 de Janeiro. Na véspera há a tradicional ceia, com comida típica, naturalmente e as celebrações da eucaristia para o dia seguinte.

No dia 6 vive-se uma festa familiar, com comidas sem gordura, destacando-se o trigo cozido, a que depois se junta o mel.

Esta manhã, no Vaticano, Bento XVI deixou aos cristãos do Oriente os seus votos natalícios. “Tenho a alegria de dirigir os meus mais cordiais votos aos irmãos e irmãs das Igrejas Orientais que amanhã celebram o santo Natal. Que o mistério de luz seja fonte de alegria e de paz para cada família e comunidade”, disse.

 

 

Tradições

A Natividade é celebrada pelos cristãos ortodoxos na Europa Central e de Leste e um pouco por todo o mundo a 7 de Janeiro, por causa da diferença do Calendário Gregoriano – 13 dias depois dos outros cristãos. No leste, a Natividade é precedida de 40 dias de jejum, que começam a 15 de Novembro. Este é um tempo de reflexão, contenção pessoal e cura pelo Sacramento da Reconciliação.

A Festa Ortodoxa da Natividade tem início na Véspera de Natal (6 de Janeiro) e termina com a Festa da Epifania.

Normalmente, na Véspera de Natal, os cristãos ortodoxos jejuam até tarde, ao anoitecer, até que a primeira estrela apareça. Quando a estrela é avistada, as pessoas preparam a mesa para a ceia de Natal.

A ceia da Véspera de Natal, ou “Sviata Vecheria” (Santa Ceia), junta a família para partilhar alimentos próprios e dá início à festa com vários costumes e tradições, que remontam à antiguidade. Os rituais da Véspera de Natal são dedicados a Deus, para protecção e bem-estar da família e em memória dos antepassados.

A mesa é coberta com duas toalhas, uma para os antepassados da família, a outra para os elementos vivos. Nos tempos pagãos, os antepassados eram considerados espíritos benévolos, que, sendo devidamente respeitados, traziam boa sorte aos elementos da família.

Debaixo da mesa, bem como debaixo das toalhas, é espalhada alguma palha para lembrar que Cristo nasceu num estábulo. A mesa tem sempre um lugar a mais para os membros da família já falecidos, cujas almas, de acordo com a crença, vêm na Véspera de Natal tomar parte na refeição.

Há doze pratos (iguarias) na mesa, porque, de acordo com a tradição cristã, cada prato é dedicado a cada um dos Apóstolos de Cristo. Na antiga crença pagã, os pratos correspondiam às doze luas-cheias do ano. Os pratos não têm carne, por causa do período de jejum pedido pela Igreja até ao dia de Natal. Porém, para os pagãos, a abstinência de carne era a forma de oferecerem sacrifícios a Deus sem derramamento de sangue.

Enquanto muitos costumes ortodoxos da Véspera de Natal se revestem de uma natureza solene, o costume de cantar é alegre e divertido. Os cânticos de Natal tem a sua origem na antiguidade, tal como muitos outros costumes praticados nesta quadra.

Há dois grupos principais de cânticos na Ucrânia: os “koliadky”, cujo nome deriva provavelmente do latim “calendae”, significando primeiro dia do mês, que são cantados na Véspera e no Dia de Natal; o segundo grupo, “shchedrivky”, que é uma derivação do significado “generosidade”, é cantado durante a festa da Epifania.

No Dia de Natal as pessoas participam na Divina Liturgia, no fim da qual, muitos se deslocam em procissão para mares, rios e lagos. Todos se juntam, na neve, para as cerimónias exteriores da bênção da água. Muitas vezes os rios estão congelados e as pessoas fazem buracos no gelo para a bênção. Então, em casa, há uma grande festa – todos se juntam para comer, beber e divertir-se.

Tal como há diferenças, há também semelhanças entre a Celebração do Natal no Leste e no Ocidente.

O Natal no Leste tem um grande significado familiar e social, tal como o tem no Ocidente. Junta as pessoas de todas as gerações para celebrarem o nascimento de Jesus Cristo.

Não importa em que cultura ou sociedade estamos – entendemos o nascimento de Cristo tal como S. João Crisóstomo escreveu: “Desde aquela altura, toda a alegria e júbilo! Eu também quero alegrar-me! Eu também quero participar do coro e da dança para celebrar a festa! Mas eu faço a minha parte: não tocando harpa nem flauta, nem erguendo a chama, mas erguendo nos meus braços o berço de Cristo. Aqui está toda a minha esperança! Aqui está toda a minha vida! Aqui está toda a minha salvação! Isto é a minha flauta e a minha harpa!”

Também eu, tendo recebido pelo Seu poder o dom da fala, eu também, com os anjos e os pastores, canto “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”!

Arquimandrita Philip Jagnisz, Vigário Geral de Portugal e Galiza – Patriarcado Ecuménico de Constantinopla

Tradução: Secretariado Diocesano das Migrações do Porto

 

Calendário juliano

É um calendário solar criado em 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César para trazer os meses romanos ao seu lugar habitual em relação às estações do ano, confusão gerada pela adopção de um calendário de inspiração lunissolar. César impõe 12 meses com duração predeterminada e a adopção de um ano bissexto a cada 4 anos.

No ano da mudança, para fazer a concordância entre o ano civil e o ano solar, ele inclui no calendário mais dois meses de 33 e 34 dias, respectivamente, entre Novembro e Dezembro, além do 13º mês, o “mercedonius”, de 23 dias. O ano fica com 445 dias distribuídos em 15 meses e é chamado “o ano da confusão.”

Esse calendário, que tem um desfasamento de 13 dias em relação ao nosso, começa a ser substituído pelo calendário gregoriano a partir do século XVI – a Rússia e a Grécia só fazem a mudança no século XX.

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR