Os surdos portugueses e a Igreja

No mundo há 59 milhões de surdos. Recentemente o Vaticano organizou um encontro sobre deficientes auditivos. O programa radiofónico “Caminho de Emaús” foi perceber como vivem os surdos católicos em Portugal. Isabel Chavinha é surda e tem dois filhos surdos.

A maior dificuldade que sente na vida em sociedade é a da comunicação. «Por exemplo, quando vou ao médico, ao hospital, nas finanças, no banco… Por exemplo, para comprar casa tive que efectivamente recorrer a um intérprete. Não havendo intérprete eu não conseguiria aceder com qualidade. Esse é realmente o meu principal objectivo: aceder à comunicação porque eu vivo numa sociedade que me incute algumas barreiras», afirma.

A falta de acesso à informação também existe na Igreja e nas celebrações. Isabel baptizou-se com 19 anos, um mês antes de casar. «Na verdade eu percebi que a vida dentro da Igreja estava relacionada com a fé. Coisas que eu não poderia ir contra, que eu teria de respeitar as leis para poder estar mais próxima de Deus», explica.

Mas a relação com Deus ao nível comunitário está limitada. Sendo as celebrações na Igreja sobretudo orais, os surdos não conseguem perceber o que se passa. Isabel vive a Eucaristia de uma forma diferente da que gostaria.

«A única coisa que eu faço para me distrair é olhar para as pessoas, para a igreja. Às vezes acontece fazerem alguns gestos e eu só nessa altura é que percebo que tenho que fazer esses gestos e vou copiando. Eu não me sinto nada integrada», lamenta.

Na Eucaristia, o acesso à informação pode ser feito com recurso a intérprete, mas e no sacramento da Reconciliação? Isabel nunca se confessou: «como é que eu iria… ainda por cima é uma coisa muito íntima. Nunca me confessei porque não poderia levar intérprete…».

Apesar das dificuldades, Isabel Chavinha mostra-se confiante. «Eu sinto que Deus é uma boa influência para mim e que a Igreja me pode dar muitas coisas. Mas para isso eu tenho que ter acesso a essa informação e sem essa informação eu sinto-me triste», afirma.

Isabel sugere: «era muito interessante para crianças surdas que se implementasse ou que houvesse algum acesso a informação através de um intérprete de Língua Gestual para que também essas crianças fossem educadas na fé. E era uma mais valia tanto ter padres que tivessem sensibilidade para tal como ter padres surdos ou que falassem Língua Gestual».

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