Histórias de vida relatadas no Programa da Igreja Católica na Antena 1
Preparar o Natal é sinónimo, na Igreja Católica, de Advento, o tempo litúrgico que antecede a celebração do nascimento de Jesus. Essas quatro semanas são vividas como uma espera, que poderia ser classificada como “virtuosa”, não apenas definindo os dias, mas como um apelo à prática das virtudes.
Ao longo das últimas duas semanas, foi isso que o programa da Igreja Católica na Antena 1 procurou mostrar com mais de uma dezena de testemunhos de pessoas empenhadas nas mais diversas áreas, que fazem da prática dessas virtudes uma espécie de “outro Natal”, que ultrapassa visões mercantilistas que domina muitas perspectivas mediáticas, colectivas e individuais sobre esta época.
Em Viana do Castelo, o Pe. Artur Coutinho procura dar uma oportunidade às crianças sem lar. O « Berço» da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Viana, procura dar resposta aos menores abandonados ou vítimas de maus-tratos. O sacerdote manifesta a sua satisfação por poder “fazer tudo” em favor destas crianças e ajudar a construir “um mundo melhor amanhã”.
A educação pode dar novos horizontes. Viver e trabalhar com jovens é a razão natural para a envolvência com a educação. Júlio Pedrosa, ex-reitor da Universidade de Aveiro, assume que é na educação dos jovens de hoje que pode surgir cada vez mais a consciência de olhar para o outro de forma igual, evitando “as distracções”.
Na área da saúde, é muitas vezes necessária uma mão amiga e um sorriso que nos aqueça o coração. Exemplo disso é a experiência da enfermeira Ondina Matos que, através da sua vivência de fé, nos testemunha o verdadeiro significado da palavra serviço, pela qual rege a sua vida, “ao serviço dos outros, do mundo e da Igreja”. Especializada em psiquiatria, procura ser “sinal de Jesus Cristo” olhando para cada um como “alguém único”.
Prisões
Entre quatro paredes e sem a luz do sol a vida fica sem cor. Para colorir a vida de tantos reclusos há pessoas que os visitam e acarinham. Fernanda Evangelho é um exemplo de uma visitadora de prisões que desde pequena se relaciona com muitos dos esquecidos da sociedade: “Eu tenho de perceber aquela gente, porque lhes faltou qualquer coisa na vida que eu tive”, afirma, destacando a importância de criar confiança e de promover a relação com a família dos reclusos.
Tomar as dores do outro dá forças para viver bem. É assim que Padre João Gonçalves, coordenador nacional da pastoral para as prisões, conta como é possível partilhar dores de todos os tipo dando apenas bom humor. Conhece os reclusos pelo nome e é conhecido no meio pela forma afável como os trata. Admite que “muitas interpelações e incómodos passam para nós”, pelo que considera ser necessário que o trabalho junto dos reclusos seja feito com “alegria”, para não “carregar mais o peso que eles já têm”.
A Irmã Louise Bounnet divide a sua vida entre acções de voluntariado e as visitas à prisão. Nesta vida de entrega ainda teve tempo de colocar mãos à obra e lançar um livro sobre a vida de um recluso. Atrás das grades, a religiosa descobriu “o rosto do nosso Deus que é um Deus que sofre connosco”.
“Durante dois anos e meio, tivemos encontros bíblicos semanais com as mulheres”, relata, destacando a fé que encontrou e a necessidade de respeito que as reclusas sentem.
Mais além
Seja por terras lusas ou noutros continentes é necessário estender a mão. A história de Paulo Neves mostra-nos que é possível dar-se aos outros em variadas formas, ajudando no caminho do bem e fabricando aos poucos um Mundo melhor. “A nível pessoa houve sempre alguma apetência para estas questões sociais”, admite, recordando em concreto uma experiência no âmbito do voluntariado missionário, através de um grupo da Diocese da Guarda. Por Angola e Moçambique deixou um pouco de si, junto dos meninos de rua e das populações rurais, sendo agora dirigente da Cáritas, destacando a necessidade da “partilha”.
O dom da vida é saboreado a cada momento nesta caminhada até ao Natal. Por isso, faz sentido ouvir o testemunho de uma profissional de saúde que a cada dia luta para valorizar a vida, até ao seu final. Lidar com este fim dia a dia requer uma entrega e uma aceitação da própria natureza. Isabel Galriça Neto, médica especialista em cuidados paliativos, diz que é um “privilégio” contactar com estas pessoas e que “em determinados dias há uma grande necessidade de viver intensamente a vida”.
A experiência pessoal dá ao ser humano a capacidade do entendimento. E é com um modo diferente de ver as coisas que surgiu a experiência pessoal de Henrique Joaquim, actualmente docente e investigador da Universidade Católica Portuguesa, que escolheu olhar o Mundo pela “janela social”.
Feliz expectativa
A chegada de um familiar, um nascimento de uma criança, o fim de um curso, o tempo da libertação de anos em cativeiro ou na prisão… são muitas as situações pessoais, familiares ou sociais que vivem na expectativa, na espera de momentos de felicidade.
Em cada ano, o Advento mais não é do que experimentar essa “feliz expectativa”… Ao longo de quatro semanas, as que antecedem o Dia de Natal, adiantam-se propostas para que chegue o momento sonhado, desejado, construído.
Pelo programa da Igreja Católica na Antena 1 passaram diversos tipos de esperas: o actor que espera para entrar em cena; a mãe que espera o momento de dar à luz o bebé; o candidato ao ministério ordenado, ao sacerdócio ou ao diaconado, espera o dia da ordenação; quem vive, no interior de uma prisão, numa capelania religiosa, e experimenta a urgência da liberdade daqueles a quem dá atenção.
Contextos diferentes onde a espera adquire contornos sempre urgentes para quem os vive. Esperas que explicam também que segredos existem para ultrapassar a ansiedade que o tempo de espera provoca. Para ouvir aqui
Nos próximos dias, as emissões serão dedicadas a campanhas, memórias e tradições de Natal. Às 06h00 de Domingo e às 22h45, de Segunda-feira, sempre disponíveis na página www.agencia.ecclesia.pt/radio