Diaconado permanente em Portugal assinala 25 anos

Apoio da família é essencial para um ministério chamado a retomar as suas características originais

Aos utentes que passam pela consulta de cardiologia, Luís Brízida pergunta pela saúde do coração. Mas interiormente faz um questionamento que só ele escuta: “Em que é que poderei ajudar também no coração espiritual?”.

O chamamento ao diaconado permanente que Deus e a Igreja dirigiram a este médico nasceu do contacto com os doentes. O cardiologista recorda-se de “olhar para as pessoas e vê-las, por vezes, completamente perdidas perante Cristo”.

Foi a 8 de Dezembro de 1984 que a diocese de Setúbal iniciou um caminho que é hoje abraçado por muitos católicos e respectivas famílias.

Da transição à estabilidade

O serviço às mesas das refeições – que evoluiu para o que actualmente é designado de actividade sócio-caritativa – caracterizou a instituição do diaconado, ainda na primitiva comunidade cristã de Jerusalém.

Com a passagem do tempo, a Igreja passou a considerar o ministério como uma etapa prévia à recepção da ordenação presbiteral, tornando-o transitório.

O Concílio Vaticano II, terminado em 1965, restaurou o carácter permanente do primeiro dos três graus do sacramento da Ordem. A novidade chegaria à Igreja portuguesa dezanove anos mais tarde.

Primeiro diácono permanente em Portugal

[[v,d,722,Diaconado Permanente: um percurso com 25 anos em Portugal]]Inácio da Silva foi o primeiro diácono permanente a ser ordenado em Portugal, precisamente na solenidade da Imaculada Conceição.

Tudo começa em 1963, com uma notícia sobre a restauração do ministério. O assunto voltou a ganhar vida muitos anos depois, quando o bispo da diocese de Setúbal visita a paróquia onde trabalhava. “Vá pensando nisso”, desafiou D. Manuel Martins.

O convite ficou em “banho-maria”. Até que um dia recebe uma carta do prelado, perguntando “se estava interessado” em tornar-se diácono permanente. Após a aceitação, seguiu-se a preparação, durante três anos.

O pároco da Cova da Piedade, onde Inácio da Silva exerce o seu ministério, sublinha que o diaconado “não é para suprir a falta de padres, mas para dar seguimento a uma tradição que já é apostólica”. “Hoje, a Igreja tem que apostar no testemunho”, observa o Pe. Ricardo Gameiro.

Evangelização da cultura

Ao olhar para as tarefas desempenhadas pelos diáconos, quais são os traços mais relevantes que as comunidades apreendem dos dons que lhes foram transmitidos e da missão que lhes foi confiada?

O coordenador da selecção e formação dos candidatos ao diaconado permanente no Patriarcado de Lisboa, Pe. José Miguel, defende que o ministério manifesta “de forma bem concreta, através do serviço, aquilo que é próprio de toda a Igreja” – ou seja, “a configuração a Jesus Cristo, que veio para servir e não para ser servido”.

“Da parte do senhor Patriarca – continua o vice-reitor do Seminário dos Olivais – há a intuição muito importante de acentuar o papel do diácono na evangelização da cultura, uma vez que ele está inserido no mundo do trabalho e no mundo social”.

Por outro lado, o ministério deve salientar o serviço da caridade, “e não ficar apenas centrado na liturgia, onde a maior parte dos diáconos exerce o seu ministério”, assinala o Pe. José Miguel.

Família é essencial para o crescimento espiritual

O diaconado permanente, quando envolve homens casados, passa também pelas suas esposas. São elas que acompanham de perto o percurso vocacional dos maridos, e é delas que depende, em grande medida, o seu crescimento espiritual.

“Inicialmente o projecto não me agradou, apesar de eu ser católica praticante”, conta Laura Brízida. “Se eu já tenho pouco tempo com o meu marido, porque a sua profissão exige muitas ausências, então vou ficar sem ele”, pensou.

Com o tempo, foi-se apercebendo de que não podia dizer não ao “chamamento de Deus”; mas “no início foi-me difícil dizer que sim”, admite a esposa do médico cardiologista

Anabela Moutinho também passou por uma transformação na sua maneira de entender a vontade do marido. Começou por pensar que a decisão “era uma coisa só dele”; aos poucos, descobriu que precisava de se comprometer com o ministério a que o esposo é chamado.

“Nunca senti que o ser diácono fosse um estorvo para a minha família. Antes pelo contrário”, declara Inácio da Silva, vinte cinco anos após a sua ordenação.

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