Papa apela à negociação para superar «barbárie» da guerra

Celebrados os 25 anos do Tratado de Paz e Amizade entre Argentina e Chile, com mediação da Santa Sé

Bento XVI recebeu este Sábado, no Palácio Apostólico do Vaticano, as presidentes da Argentina e do Chile, Cristina Kirchner e Michelle Bachelet, para assinalar o 25.º aniversário da assinatura do Tratado de Paz e amizade entre os dois países.

O Papa citou uma expressão do Papa Pio XII – “Nada se perde com a paz. Tudo se pode perder com a guerra” – para apelar à negociação para evitar a “barbárie da violência”.

A iniciativa teve como motivo a celebração dos 30 anos da mediação de João Paulo II, que pôs fim às hostilidades entre os dois países pelo controlo do Canal de Beagle, formado por ilhas situadas no extremo sul do continente. Durante o conflito, ocorrido em 1978, Chile e Argentina eram governados por regimes militares. As hostilidades cessaram com a assinatura de um tratado de paz proposto pelo Vaticano.

Após uma audiência privada a cada uma das presidentes, o Papa proferiu um discurso às duas delegações, na Sala Clementina. Como pano de fundo, esteve sempre a gratidão pela mediação de João Paulo II e o Cardeal António Samoré, que “ajudaram os dois países, através da via do diálogo, a dissipar uma velha controvérsia territorial”.

A iniciativa de paz conduzida pela Santa Sé – sob o impulso de João Paulo II e o empenho pessoal do então Secretário de Estado, Cardeal Casaroli e do Enviado especial do Papa, o Cardeal Samoré – culminou na assinatura do Tratado de Paz, a 18 de Outubro de 1984, no Vaticano, com a presença dos respectivos Ministros dos Negócios Estrangeiros.

Em particular, Bento XVI destacou que o acordo “produziu frutos concretos de bem e de prosperidade para os dois povos irmãos e continua a servir de exemplo e de modelo para os países da América Latina e para a comunidade internacional”.

“Na realidade, Chile e Argentina não são apenas duas Nações vizinhas, são muito mais: são dois Povos irmãos, com uma vocação comum de fraternidade, de respeito e amizade, que em grande parte é fruto da tradição católica que está na base da sua história e do seu rico património cultural e espiritual”, disse o Papa.

Para Bento XVI, “o Tratado de Paz e Amizade é um luminoso exemplo da força do espírito humano e da vontade de paz perante a barbárie e a insensatez da violência e da guerra como meio para resolver as diferenças”.

O Papa apelou à “autêntica vontade de diálogo e de acordo, mediante pacientes negociações e necessários compromissos, tendo sempre em conta as justas exigências e os legítimos interesses de todos”.

Esta atitude construtivamente pacífica só será “possível se a causa da paz abrir caminho na mente e no coração de todos os homens”, especialmente dos responsáveis políticos, e se estiver “baseada em firmes convicções morais, na serenidade dos espíritos, por vezes tensos e polarizados, na busca constante do bem comum – nacional, regional e mundial”.

Segundo Bento XVI, a paz requer “a promoção de uma autêntica cultura da vida, que respeita a dignidade do ser humano em plenitude, unida ao fortalecimento da família como célula básica da sociedade”, bem como “a luta contra a pobreza e a corrupção, o acesso a uma educação de qualidade para todos, um crescimento económico solidário, a consolidação da democracia e a erradicação da violência e a exploração, especialmente contra as mulheres e as crianças”.

Concluída esta audiência, as duas presidentes sul-americanas deslocaram-se à cripta da basílica de São Pedro, para se deterem num momento de oração junto do túmulo de João Paulo II, ali depondo duas coroas de flores.

As duas Delegações encaminharam-se então, através dos jardins do Vaticano, até ao edifício onde há 25 anos teve lugar a assinatura do Acordo de Paz e Amizade entre a Argentina e o Chile, tendo sido descerrada uma placa comemorativa.

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