Intervenção de D. Carlos Azevedo na Sessão de abertura da Semana Social 2009
Senhor Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Aveiro
Senhor Bispo de Aveiro e Senhores Bispos
Senhor Presidente da Comissão Coordenadora das Semanas Sociais
Irmãos e Irmãs
Aqui nos congrega o bem comum de todos os cidadãos, sem excluir ninguém. Aqui nos traz, a esta terra de Aveiro acolhedora e respeitadora da liberdade, a determinação de nos responsabilizarmos, cada um ao seu nível, na construção de caminhos para um país mais solidário, onde a caridade faça caminho político através do bem comum, a desinstalar-nos do já feito e já visto. Uma saudação muito grata ao Senhor Bispo de Aveiro, D. António Francisco, à Caritas, ao P. João Gonçalves e aos que colaboraram para nos acolherem neste belo auditório. Senhor Presidente da Câmara, em vossa excelência saudamos a cidade que nos recebe de modo tão simpático e generoso.
A Semana social de Aveiro encerra um ano cheio de oportunidades de reflexão, levadas a efeito pela Comissão Episcopal de Pastoral Social. Foi o Simpósio Reinventar a solidariedade, em Maio. Foram as Jornadas Pastorais do Episcopado, em Junho. Foram artigos e debates sobre a luminosa e inspiradora encíclica Caritas in Veritate, publicada em Julho. Foi a significativa delegação portuguesa a Gdansk, para os Dias sociais católicos europeus, e é este encontro aqui anunciado há um ano à comunicação social. Ao seu nível, a Comissão Nacional Justiça e Paz e a Caritas, organismos tutelados por esta Comissão Episcopal, têm promovido encontros de análise e estudo de respostas aos graves problemas sociais, multiplicados pela crise.
Considero estes sucessivos encontros actos de uma necessária pedagogia social, que insista oportuna e inoportunamente em temas que formem sobretudo as novas gerações numa cultura da responsabilidade, de participação. Romper a indiferença e abater o individualismo, convocar para o sonho de novos dias e permitir nova configuração das respostas é o objectivo destes espaços. Saúdo todos os Senhores bispos presentes e os representantes de cada diocese, aos quais se dedica este serviço da Comissão Episcopal.
Para levar por diante este encontro constituiu-se uma Comissão Coordenadora, presidida pelo Senhor Prof. Manuel Porto, a quem agradeço o desejo de querer servir esta causa social. A toda a equipa manifesto profunda gratidão pela disponibilidade e auxílio para pôr de pé esta sexta edição das Semanas Sociais Portuguesas.
Muito agradecemos à comunicação social por ampliar este debate, por o levar mais longe e se constituir parceira no trabalho de promover uma consciência cívica atenta e interventiva.
É hora para olharmos de frente o crescimento assustador e preocupante do desemprego, sem seguirmos ilusões de diminuição a curto prazo, e nos interrogarmos o que significa, neste contexto, bem comum. Qual o papel de cada um para garantir os direitos sociais?
É hora para verificarmos tanta corrupção oculta, minadora da cultura da honestidade e da competência, e encontrarmos modos para lhe resistir e lhe dar luta em virtude da defesa clara do bem comum.
É hora para repensar o papel do Estado na sociedade da dimensão social, com serenidade para redefinir uma intervenção reguladora e vigilante da qualidade, mas não castradora e amesquinhante das iniciativas da sociedade civil e das instituições com inspiração religiosa. Bem comum não significará omnipresença do Estado, impedindo o desenvolvimento do existente, criado com tanto esforço para responder ao vazio de soluções. O apoio criterioso ao empreendedorismo local, o incentivo à criatividade e à inovação, criadores de desenvolvimento sustentável e socialmente responsabilizado, serão passos do Estado no futuro próximo.
É a hora da religião assumir um papel decisivo para um desenvolvimento integral do ser humano e por isso, na educação da liberdade, a questão de Deus não é de parede, mas de interioridade expressa em sinais, ritos e estilos de vida.
É hora para a Igreja Católica, sempre chamada a ser serva e pobre, na defesa e aceitação de uma laicidade aberta e sadia, não temer pôr-se em causa nos modos de atender aos problemas sociais para deixar a radicalidade evangélica marcar a identidade das intervenções. Será mesmo o bem comum a nortear todas as instituições sócio-caritativas?
Estou certo que muito aproveitaremos dos conferencistas e dos animadores de grupos de trabalho para alargar e aprofundar as razões que hão-de pautar a nossa operacionalidade na construção do bem comum. Muito lhes agradecemos porque sabemos que se prepararam cuidadosamente e nos vão oferecer princípios firmes e pensamento claro.
Como verificam no programa teremos longo tempo para debate. Estes dias são apelo à participação para esclarecer ideias, trocar experiências, apontar caminhos. Desde já digo a cada um e cada uma: obrigado por terem vindo participar activamente.
É a hora de calar e desejar fecundos trabalhos e acolhermos já a primeira conferência.
D. Carlos A. Moreira Azevedo, Presidente da Comissão de Pastoral social