Inicia esta sexta-feira a Semana Social 2009 para debater a responsabilidade da pessoa, da Igreja e do Estado na construção do bem comum
A cidade de Aveiro acolhe, de 20 a 22 de Novembro, no Centro Cultural e de Congressos, a Semana Social 2009, subordinada ao tema “A construção do bem comum: responsabilidade da Pessoa, da Igreja e do Estado”. Esta é uma organização da Comissão Episcopal da Pastoral Social. Logo após dois actos eleitorais e em época de crescente crise, a Igreja convoca “cristãos activos” em várias instituições e iniciativas, atentos aos graves problemas da sociedade portuguesa, para reflectir e partilhar modos responsáveis, criativos e eficazes de vivência solidária.
D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, refere à Agência ECCLESIA que “ao escolher a temática da construção do bem comum, quisemos sobretudo lutar e intervir, pedagogicamente, contra uma certa consciência colectiva de que os outros é que têm de resolver os nossos problemas e, portanto, a nossa responsabilidade é a de todos os cidadãos”.
“Sabemos que a consciência cívica em Portugal é débil e que, por isso, é necessário reforçar e encontrar modos para fazer” o bem comum, “porque a análise em muitas das dimensões já está feita, mesmo daquilo que falta ao papel do Estado”.
A Igreja, acrescenta o Bispo auxiliar de Lisboa, também tem necessidade de “renovar as suas estruturas para corresponder a esse bem comum”.
Com esta iniciativa, pretende-se “esclarecer, reflectir sobre o papel que compete a cada um dos intervenientes na construção do bem comum”, algo que D. Carlos Azevedo considera “fundamental para não andarmos a passar culpas da situação, mas cada um assumir as suas responsabilidades numa cultura de exigência”.
Pedindo que cada um seja “intelectualmente honesto” para ver o que tem a fazer e o modo como o faz, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social admite que a própria Igreja deve procurar essa renovação, dado que “o modo como intervém nas questões sociais pode não corresponder àquilo que lhe é pedido”.
“Ela tem de inovar, encontrar uma liderança que tem desempenhado ao longo da histórica e continuar a desempenhá-la, mas também com um olhar muito atento sobre a realidade presente”, declara.
As Semanas Sociais apresentam-se como espaços de “reflexão” sobre a realidade, para poder posteriormente “intervir do modo mais adequado, de modo mais evangélico”.
D. Carlos Azevedo considera que falta “alguma identidade” à intervenção com marca eclesial, que deve ser “exemplar” e “radical”. “Temos sempre de fazer exame de consciência, quer pessoal, quer eclesial, e também chamar o Estado à sua responsabilidade”, acrescenta.
Quanto a este último ponto, o prelado refere que, após uma fase de “alheamento”, passamos para “uma estatização de toda a intervenção social” que não se coaduna com a Doutrina Social da Igreja nem com a “perspectiva de bem comum que inclui todas as dimensões da vida das pessoas”.
Neste sentido, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social lembra que uma das dimensões em causa no bem de cada pessoa é a espiritualidade. “O Estado também deve estar atento, porque faz parte do ser humano, embora sem intervir nas modalidades dessa vivência da dimensão espiritual”, aponta.
É a concepção de ser humano que está, segundo D. Carlos Azevedo, por detrás da “acção política, da intervenção do Estado”, apelando a “uma visão mais global, mais integral do que é o desenvolvimento humano”, não cedendo à tentação de o Estado “querer absorver toda a dimensão social”, mas assumir a sua missão essencial de “regulador”, sem intervir na identidade das diversas instituições.
Com larga história na Igreja moderna, estas Semanas Sociais constituem um lugar privilegiado para a sensibilização social dos cristãos e das suas comunidades. Em Portugal acontecem de três em três anos (a última foi em Braga, em 2006, e teve como tema “Uma sociedade criadora de emprego”), abertas a todos, mediante inscrição, reunindo algumas centenas de pessoas.
Estado, Igreja, Pessoa
No seu Dossier desta semana, a Agência ECCLESIA apresenta um conjunto de textos sobre o tema central da Semana Social, o Bem Comum. João Meneses, que se centra na missão do Estado, lembra que “ao longo da história, encontraram-se mecanismos de condicionamento dos Estados, que supriram a necessidade de revoltas violentas – desde logo, eleições, divisão do poder, primado da lei e livre acesso à informação. Mas o ‘bom poder’ só acontece quando estes mecanismos se encontram alinhados com elevados padrões éticos, da parte dos líderes e funcionários do Estado, e com uma sociedade civil empenhada e exigente”.
Henrique Joaquim assinala, por seu lado, que a responsabilidade da Igreja passa, para lá da denúncia, pelo “anúncio de possibilidades e trilhos de esperança que ajudem o homem e a mulher a encontrar motivos e razões que os levem a sair de si para, em conjunto com outros próximos, construírem estruturas de comunhão onde ninguém fique para trás”.
Sobre a responsabilidade de cada pessoa, Joana Rigato indica que “o Homem, cuja natureza necessita da relação com os outros, pretende crescer actualmente sem que essa relação o afecte, julga poder desenvolver a sua identidade na escuta somente de si mesmo e não dos outros e da colectividade. E assim, como uma planta que precisa de sol e se encontra a crescer à sombra, vai mirrando, definhando gradualmente”.
Programa
Desde a manhã de Sexta-feira, 20, à de Domingo, 22, intervirão António Barbosa de Melo (mudança na relação do Estado com a sociedade), D. José Policarpo (o lugar da religião na edificação do bem comum), Joaquim Azevedo (religião e educação para o bem comum), Isabel Neto (saúde e assistência religiosa no Serviço Nacional de Saúde), João Meneses (novo rosto para as instituições de solidariedade social), Maria Lúcia Pinto Correia (direitos e deveres sociais), António Matos Ferreira (Caminhos para uma laicidade esclarecida), Fernando Catroga (consequências da evolução da laicidade no empenhamento na justiça e na paz), Afonso Vaz (implicações sociais da Concordata para a Igreja), Júlio Pedrosa (educação da liberdade) e Ludgero Marques (Pequenas comunidades e iniciativas empresariais em tempo de globalização.