Braga: inovar na formação de novos padres

Ao tempo de Jesus, muitos quiseram saber onde morava. Hoje, continua a haver quem deseje ficar com ele, não um dia, mas toda a vida

Mais do que uma casa, o Seminário “é a relação com uma pessoa”. Do Pré-Seminário ao Seminário Maior, há idades, caminhos, certezas e indecisões, todas diferentes mas todas iguais na certeza de que a vida se decide a partir da escuta, encontro e seguimento de Cristo.

Para o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, estas instituições não são uma escola de formação para determinadas funções, mas para uma experiência que se concretiza no chamamento de Deus (vocação) e na resposta ao seu convite, que “deve ser dada permanentemente”.

Esta relação manifesta-se numa vida fiel à mensagem do Evangelho e na prática pastoral, isto é, numa acção inspirada na imagem dos pastores que amam, acompanham e cuidam das suas ovelhas.

Mudar o modelo formativo

As instituições dedicadas à formação do clero têm que passar por uma “grande mudança de paradigma”, constata o reitor do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, Pe. Vítor Novais.

O projecto formativo dos seminários da arquidiocese de Braga procura responder à diversidade das histórias de vida daqueles que querem ser ou que gostariam de saber o que é ser padre. Esta é, aliás, uma das transformações mais significativas face a um passado recente, em que os meios e as oportunidades eram escassas quando comparadas com a variedade actual de propostas ao nível da educação, actividade profissional e modos de vida.

A realidade exige uma mudança de arquitectura, não só dos edifícios, concebidos para acolher muitos alunos, mas também das relações: de espaços onde cabia muita gente, a casas onde a relação massificada está a dar lugar a um encontro personalizado. Mais importante do que o número de seminaristas, indica o Pe. Vítor Novais, “têm que ser as histórias de cada um como histórias de Deus”.

Num tempo em que a Igreja reorientou as suas prioridades para a qualidade do clero, afastando-se importância antes conferida à quantidade, a importância dos Seminários não se esgota na percepção de que deles depende a continuidade da acção de Cristo no mundo. Está também em jogo a renovação da acção apostólica, nos seus meios, argumentos e pedagogias.

Por isso, a diocese de Braga procura entender que “muito da sua renovação passará pela centralidade a partir do Seminário”, refere o Pe. Vítor Novais.

Pré-seminário

“A finalidade do Pré-Seminário é acolher jovens que estão interessados em saber o que é o Seminário, que não é uma realidade tão conhecida como nós esperávamos que fosse”, afirma o director daquele organismo.

 “Acolho-os, recebo-os, ajudo a compreender o que está a ser a história deles”, diz o Pe. Paulo Terroso dos rapazes que se interrogam sobre o seu futuro vocacional. A partir deste conhecimento, pretende-se que eles percebam “como Deus está a agir neles”.

Por vezes, o itinerário formativo não desperta grande interesse nos jovens. Mas o Director do Centro Cultural e Pastoral Arquidiocesano recorda que não foi fácil para Jesus ser entendido pelos seus discípulos, e que estes também tiveram dificuldades em perceber o que lhes era proposto. “Isso não impede que alguns se entusiasmem” e sejam fiéis a um percurso que inclui reuniões mensais e, ocasionalmente, a participação em actividades de fins-de-semana.

[[v,d,668,Seminário da Arquidiocese de Braga]]

Seminário Menor

Os alunos do Seminário Menor “estão à procura de perceber aquilo que Deus quer e espera deles, que se questionam e que colocam como possível o seguimento de Jesus Cristo na vocação sacerdotal”, explica o director do Seminário Menor de Nossa Senhora da Conceição, Pe. Avelino Amorim.

Para quem entra no Seminário ou começa a orientar a sua existência para aquela instituição, a grande novidade é a vida comunitária, mesmo quando a formação se faz no contexto da família e do local de origem.

O primeiro momento do acompanhamento consiste em revelar aos seminaristas que Deus tem para eles um projecto que se pode integrar num dos modos de seguimento de Cristo. Nesta fase, todas as opções estão em aberto.

Na segunda etapa, começa a aprofundar-se o significado e as implicações da vocação à vida sacerdotal.

Seminário Maior

O desenvolvimento da vertente humana, intelectual e espiritual é o primeiro objectivo do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, refere o seu reitor.

O Pe. Vítor Novais fala da pedra angular do futuro sacerdote: “O padre não pode deixar de fazer uma experiência de relação pessoal com Deus, para que se perceba que “quando o padre fala de Deus ao mundo, é porque já falou muito a Deus acerca do mundo”.

É no Seminário Maior que decorre grande parte da formação dos seminaristas, e é dele que “nascem” os padres, através do sacramento da Ordem. O programa ECCLESIA ouviu também os testemunhos de alguns dos seus alunos, que destacaram os aspectos que consideram mais relevantes na sua formação.

Rui Sousa, de 20 anos, sublinha a dimensão intelectual, que é proporcionada sobretudo pela Faculdade de Teologia, “porque nos ajuda a estruturar o pensamento”, visando o crescimento pessoal e ajudando “os outros a perceber melhor aquilo que é o nosso ministério”.

Além da aprendizagem de Grego, Latim, Filosofia e Teologia, Rui Sousa salienta a participação numa oficina de escrita criativa, que o vai ajudar a alargar as suas competências na área da comunicação, essencial para quem é chamado a transmitir a mensagem de Cristo e da Igreja.

Paulo Jorge prefere acentuar a atenção às novas linguagens. Este estudante do 2.º ano lembra que a pertinência do cristianismo na contemporaneidade passa pelo diálogo com as variadas expressões da cultura.

A formação musical foi um dos aspectos referidos por José Miguel Cardoso. Quase a terminar o seu percurso no Seminário, este estudante de 23 anos mencionou também a relação que estabeleceu com doentes e reclusos, no âmbito das actividades pastorais previstas no itinerário formativo.

O Diác. João Paulo recorda que o Seminário contribuiu para o desenvolvimento das suas aptidões humanas e espirituais, e o ajudou a discernir as suas opções de vida, num confronto que é comum a todos os que passam pela instituição.

Pré-Seminário de adultos

“Não há dúvida que nestes últimos 20 anos há um maior número de candidatos ao Seminário em idade adulta, que vêm muitas vezes do mundo universitário”, constata o responsável pelo Pré-Seminário de adultos, Pe. Joaquim Félix.

“Nunca houve uma atenção particular a estes candidatos, porque havia uma fonte abundante de vocações juvenis”, diz o professor da Faculdade de Teologia. “Hoje, num regime de maior autonomia e liberdade, eles aparecem e amadurecem cada vez mais tarde”, acrescenta.

A entrada no Seminário numa idade mais avançada não implica maior firmeza na decisão de ser padre: “A fragilidade e a fortaleza convivem tanto numa expressão mais juvenil como numa expressão mais adulta”, explica o vice-reitor do Seminário Maior.

Continuar a semear depois da ordenação

D. Jorge Ortiga gostaria que os sacerdotes não considerassem os Seminários como “casa do passado, como uma recordação”, mas aceitem-nos “como a sua casa, por onde passam para estar, conviver e sentirem-se parte desta família”.

O arcebispo primaz de Braga lembra que os padres devem situar-se sempre numa dinâmica de crescimento espiritual, psicológico e formativo. O Seminário pode ser um dos espaços privilegiados para esse aperfeiçoamento, que, segundo o Pe. Vítor Novais, “não é algo acessório na vivência do ministério”.

Para este responsável, “o Seminário forma o presbitério (conjunto de padres) em gestação, mas depois da sua ordenação não vive indiferente ao modo como o sacerdote está no mundo”.

Foto: Seminário Maior de Braga

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