Uma história com futuro

Joaquim Reimão, Diocese do Porto

VER

Que dizem da Acção Católica?

Que dizemos nós da Acção Católica?

Quais são as causas?

Quais são as consequências da actual situação da Acção Católica?

 

JULGAR

Quais são os actuais aspectos positivos e negativos da Acção Católica?

A Acção Católica à luz da Exortação Apostólica “Christifldeles Laici” do Papa João Paulo II

Entre as várias formas de apostolado dos leigos, que têm particular relação com a Hierarquia, expressamente mencionaram os Padres sinodais vários movimentos e associações de Acção Católica, onde os ‘leigos se associam livremente de forma orgânica e estável, sob o impulso do Espírito Santo, na comunhão com o Bispo e com os sacerdotes, de forma a poderem servir, no estilo próprio da sua vocação, com método particular, o crescimento de toda a comunidade cristã, os projectos pastorais e a animação evangélica de todos os sectores da vida, com fidelidade e operosidade (n°31).

Da Mensagem do Papa João Paulo II ao Congresso Internacional Acção Católica (Agosto de 2004)

“Ter a coragem do futuro” é uma atitude que não nasce de uma opção da vontade, mas que adquire consistência e impulso a partir da memória do dom precioso que, desde o seu nascimento, foi a Acção Católica. Tendo brotado, segundo o meu predecessor o Papa Pio Xl, de veneranda memória, de uma «inspiração providencial”, ela constituiu uma força congregadora, estruturante e impulsionadora da “promoção do laicado’, que encontrou a solene confirmação no Concílio Vaticano II. Nela, gerações de fiéis amadureceram a sua vocação ao longo de um itinerário de formação cristã que os levou à plena consciência da sua corresponsabilidade na construção da Igreja, estimulando o seu impulso apostólico em todos os ambientes de vida. Como deixar de recordar, nesta circunstância, que o Decreto conciliar sobre o apostolado dos leigos reconheceu esta venerável tradição, recomendando-a profundamente (cf. “Apostolicam actuositatem”, 20) A Exortação Apostólica pós-sinodal “Christifideles laici”, assim como as minhas numerosas intervenções por ocasião das diversas Assembleias da Acção Católica Italiana, retomaram com vigor as recomendações conciliares, favorecendo a superação de situações de apagamento e de dificuldade.

Hoje, desejo reiterar mais uma vez: a Igreja tem necessidade da Acção CatólIcal A memória não pode reduzir-se a uma referência nostálgica ao passado, mas deve tomar-se a tomada de consciência de um dom precioso que o Espírito Santo concedeu à Igreja, uma herança que, neste alvorecer do terceiro milénio, é chamamento a suscitar novos frutos de santidade e de apostolado, difundindo a “plantatio” da Associação em numerosas outras Igrejas locais de diversos países.

Chegou o momento para aquele relançamento de que dão testemunho as vossas realidades multiformes. Muitos são os indícios que fazem esperar no Kairós de uma nova primavera do Evangelho! Esta grande responsabilidade que compromete todos vós, juntamente com os vossos Pastores, e que empenha toda a Igreja, exige uma decisão humilde e corajosa de “recomeçar a partir de Cristo”, na consciência de serdes sustentados pela força do Espírito. Podem participar nesta grande tarefa todos os fiéis conscientes da sua própria vocação baptismal e dos três compromissos, sacerdotal, profético e real, que daqui brotam. Confiantes na graça de Deus e sustentados por um profundo sentido de pertença à Igreja, como “casa e escola de comunhão”, os leigos põem-se à escuta dos ensinamentos e das directrizes dos Pastares para poderem ser seus colaboradores eficazes na edificação das comunidades eclesiais a que pertencem.

Cada cristão está comprometido em dar testemunho do modo como a sua própria vida foi transformada pela graça e impelida pela caridade. Isto só será possível se os fiéis leigos souberem ultrapassar em si mesmos a ruptura entre o Evangelho e a vida, restabelecendo na sua actividade quotidiana, em família, no trabalho e na sociedade, a unidade de uma vida que no Evangelho encontra inspiração e força para se realizar plenamente (cf. “Christifideles laici”, 34). A Acção Católica foi sempre, e mesmo hoje deve ser, um centro de formação de fiéis que, iluminados pela Doutrina Social da Igreja, estão comprometidos na linha de vanguarda na defesa do dom sagrado da vida, na salvaguarda da dignidade da pessoa humana, na realização da liberdade educativa, na promoção do verdadeiro significado do matrimónio e da família, no exercício da caridade para com os mais necessitados, na busca da paz e da justiça, e na aplicação dos princípios de subsidiariedade e de solidariedade nas diversas realidades sociais em que vivem…

Do discurso do Papa Bento XVI à Acção Católica Italiana (4 de Maio de 2008)

“A Acção Católica nasceu como uma particular associação de fiéis leigos que se distingue por um especial e directo vínculo com o Papa, tornando-se depressa uma preciosa forma de “colaboração dos leigos no apostolado hierárquico”, recomendado “vivamente” pelo Concílio Vaticano II, que indicou as suas irrenunciáveis ‘características’ (cf. Decreto “Apostolicam actuositatem”, 20). Esta sua vocação permanece válida ainda hoje. Encorajo-vos portanto a prosseguir com generosidade o vosso serviço â Igreja. Assumindo a sua finalidade apostólica geral, em espírito de íntima união com o Sucessor de Pedro e de laboriosa corresponsabilidade com os Pastores, encarnais uma ministerialidade em equilíbrio fecundo entre Igreja universal e Igreja local, que vos chama a oferecer uma contribuição incessante e insubstituível para a comunhão.

Este amplo alcance eclesial, que identifica o vosso carisma associativo, não é o sinal de uma identidade incerta e ultrapassada; ao contrário, atribui uma grande responsabilidade à vossa vocação laical: iluminados e amparados pela acção do Espírito Santo e radicados constantemente no caminho da Igreja, sois solicitados a procurar com coragem sínteses sempre novas entre o anúncio da salvação de Cristo ao homem do nosso tempo e a promoção do bem integral da pessoa e de toda a família humana..

Numa Igreja missionária, colocada diante de uma emergência educativa como a que se verifica hoje na Itália, vós que a amais e a servis sabei ser anunciadores incansáveis e educadores preparados e generosos; numa Igreja submetida a provas também muito exigentes de fidelidade e obrigada a adaptações, sede testemunhas corajosas e profetas de radicalidade evangélica; numa Igreja que quotidianamente se confronta com a mentalidade relativista, hedonista e consumista, sabei alargar os espaços da racionalidade no sinal de uma fé amiga da inteligência, quer no âmbito de uma cultura popular e difundida, quer no contexto de uma busca mais elaborada e reflexiva; numa Igreja que chama ao heroísmo da santidade, respondei sem receio, confiando sempre na misericórdia de Deus…

Intensificai a oração, modelai o vosso comportamento com os valores eternos do Evangelho, deixando-vos guiar pela Virgem Maria, Mãe da Igreja”.

 

AGIR

Tendo em conta: o “ver” e o “julgar” que fizemos, a celebração dos 75 anos da Acção Católica em Portugal (Novembro de 2009) e a “Missão 2010” na diocese do Porto:

– Qual é o meu compromisso pessoal no sentido de uma maior fidelidade ao carisma da Acção Católica?

-E qual deve ser o compromisso da nossa equipa no que diz respeito à sua vida apostólica; ao recrutamento e integração de novos militantes, de todos os lugares ou zonas da paróquia; e até no fazer surgir novas equipas da Acção Católica na nossa vigararia?

A Acção Católica define-se pelo método?

Penso que um Movimento de Acção Católica não se define pelo método de revisão de vida. O clássico ver, julgar e agir, “nascido”, na Acção Católica, foi apresentado à Igreja Universal pelo Papa João XXIII na encíclica “Mater et Magistra” (cf. N.° 232). Depois, a revisão de vida, surgida na JOC, rapidamente foi adoptada pelos outros Movimentos

da Acção Católica especializada. Não ficou método exclusivo da Acção Católica pois outros Movimentos eclesiais (que não são de Acção Católica) o adoptaram e o Concílio Vaticano II considerou-o como método do Povo de Deus (cf. GS, 11 e AA, 29).

O método de revisão de vida é fácil?

A revisão de vida não é um método fácil. Para o “ver” não é difícil apresentar acontecimentos mas para o julgar do acontecimento à luz do Evangelho não é fácil. Começa pela palavra julgar quando o Evangelho nos diz “não julgueis” (Mt 7,1): depois encontrar a passagem do Evangelho que ilumine aquele acontecimento exige familiaridade com a Palavra de Deus (o que não é vulgar) e exige um cuidado especial para não se instrumentalizar o Evangelho. O “agir”, para ser apostólico, na linha do Evangelho, tem sempre a exigência do “convertei-vos e acreditai no Evangelho’ (Mc 1,15). Creio que esta familiaridade com o Evangelho poderá ser adquirida se não se ficar exclusivamente no partir “da vida para o evangelho’ (revisão de vida) mas também do “evangelho para a vida», sobretudo pela atenção ao Evangelho da Eucaristia de cada dia que a Igreja, na sua sábia pedagogia, seleccionou como ‘ementa” da Mesa da Palavra de Deus… Todavia o método da revisão de vida, “nascido na Acção Católica, está reconhecido no Magistério da Igreja e a Acção Católica deve continuar a ser o “campo” em que ele se deve manter e praticar na fidelidade à sua originalidade sem pretender ser a característica que a defina.

A Acção Católica define-se pela especialização?

Também penso que a Acção Católica não se define pela especialização porque esta não consta do conjunto das quatro notas características que o Concilio Vaticano II definiu a Acção Católica (cf. AA, 20). Em síntese, creio que um Movimento de Acção Católica é uma associação de fiéis-leigos que querem viver a sua vocação laical (cf. LG, 31) em estreita cooperação com a Hierarquia (cf. AA, 20)

Neste raciocínio a Acção Católica especializada pode ser uma modalidade, que em alguns casos até deverá ser mais autêntica, mas esta não deve impedir que surjam Movimentos de Acção Católica não especializada. Penso numa Acção Católica de Adultos e numa Acção Católica de Jovens, em ambos os casos sem distinção de condição social, porque a “globalização” das substantivas realidades de vida para isso nos obrigam.

 

A celebração dos 75 anos da Acção Católica em Portugal

Oxalá a celebração dos 75 anos da Acção Católica em Portugal seja ocasião para concretizar o apelo de João Paulo II “a Igreja tem necessidade da Acção Católica! A memória não pode reduzir-se a uma referência nostálgica ao passado mas deve tomar-se a tomada de consciência de um dom precioso que o Espírito Santo concedeu à Igreja, uma herança que, neste alvorecer do terceiro milénio, é chamamento a suscitar novos frutos de santidade e de apostolado, difundindo a “plantatio” da Associação em numerosas outras Igrejas locais de diversos países. Chegou o momento para aquele relançamento de que dão testemunho as vossas realidades multiformes… (da Mensagem de João Paulo II ao Congresso Internacional da Acção Católica – Agosto de 2004).

Joaquim Reimão, Diocese do Porto

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