No processo de construção europeia, a identidade cultural de cada Estado pode enriquecer toda a comunidade, não devendo, por isso, ser sacrificada, afirmou Bento XVI neste Sábado, durante a audiência ao novo embaixador da Bulgária na Santa Sé.
No caso daquele país, há uma antiga herança cristã a ser usada no presente e no futuro, afirmou o Papa ao diplomata, Nikola Kaludov. Um tesouro de valores e convicções que deve impelir a Bulgária, bem como outros países europeus, a “criar condições para uma globalização com bom êxito”, que ultrapasse as fronteiras do continente.
Durante o seu discurso, Bento XVI afirmou que a queda do Muro de Berlim (1989) não deve fazer esquecer que a unidade entre os Estados do continente deve basear-se na solidariedade e no respeito pelos direitos, valores herdados da cultura cristã.
O cristianismo que permeia o povo búlgaro não é somente uma riqueza do passado a ser preservada, mas garantia de um futuro promissor, na medida em que protege o homem das tentações que ameaçam fazer-lhe esquecer a sua grandeza, a unidade do género humano e as exigências de solidariedade que tal cultura comporta, referiu o Papa.
Bento XVI reconheceu os esforços realizados pela Bulgária que, em 20 anos, iniciou e consolidou o seu processo democrático e alcançou, em 2007, a integração na União Europeia.
Globalização deve servir toda a humanidade
Para que a globalização “possa ser vivida positivamente, é necessário que sirva ao “homem todo e a todos os homens”, frisou o Papa, acrescentando que esse foi o princípio que quis evidenciar na sua recente encíclica, Caritas in veritate.
É essencial que o desenvolvimento legitimamente procurado não seja somente económico, mas tenha em consideração a pessoa humana por inteiro. A medida do homem não reside nas suas posses, mas no crescimento de seu ser segundo as potencialidades que a natureza encerra, recordou Bento XVI.
Nesse sentido, para que o desenvolvimento do homem e da sociedade seja autêntico, “deve necessariamente incluir uma dimensão espiritual” e ética, que se traduz na assunção, por parte de “todos os funcionários públicos”, de um “grande compromisso moral”, para que “administrem de modo eficaz e desinteressado a parte de autoridade que lhes foi confiada”.
Com estas palavras, o Papa evocou a corrupção na Bulgária, que o ano passado levou a União Europeia a retirar ajudas ao desenvolvimento no valor de 220 milhões de euros.
Recordando as “boas relações” existentes entre a Bulgária e a Santa Sé – para as quais a viagem apostólica de João Paulo II em 2002 contribuiu de modo determinante – Bento XVI fez votos de que as bases dessa relação sejam reforçadas e ampliadas. Por outro lado, o Papa assegurou que a Igreja búlgara “quer trabalhar pelo bem-estar de toda a população”.