Assembleia Plenária dos Bispos da Europa, em Paris, reflecte na relação Igreja/Estado
Vinte anos após a queda do muro de Berlim persistem no mundo “ideologias comunistas disfarçadas de outras nomenclaturas”. O acontecimento teve consequências no mundo Ocidental e Oriental e é perante esta realidade que os bispos europeus se querem situar.
O Pe. Duarte Cunha, secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), dá conta à Agência ECCLESIA dos trabalhos da Assembleia plenária da CCEE, que decorre em Paris até ao próximo Domingo.
Certos de que a queda do muro de Berlim “significou para a Igreja uma abertura a Oriente”, foi também um tempo “provocatório para a Igreja Ocidental que vivia na liberdade burguesa, que não dava valor ao martírio e não valorizava o dar a vida pelo Evangelho”, os bispos continuam a lamentar “a falta de uma elite católica formada e disponível para intervir política e socialmente”, regista o secretário geral da CCEE.
Agenda da Igreja
O materialismo marxista e o materialismo consumista são “sistemas que se cruzam na sociedade, impõem a busca do prazer e do ter como sentido da vida”. O desafio da Igreja, indica o sacerdote português, é “recordar a dignidade do homem” como valor cimeiro “e não sujeito de direitos conferidos por maiorias mas pela sua condição natural”.
“A Igreja pela sua missão de anúncio, não discute ideologias”, mas aponta a “dignidade e os direitos naturais do ser humano”.
Neste contexto, a Igreja católica enfrenta “desafios que pedem soluções criativas” em áreas como as relações globais, questões morais e comportamentais, de desenvolvimento tecnológico ou financeiro. “Há uma paleta diversa que se coloca à Igreja que tem, essencialmente, a preocupação de servir o homem”.
A missão de serviço, pela própria natureza do anúncio, é inserida no contexto das sociedades modernas, que partilham mecanismos mas que diferem na relação, de país para país, entre o Estado e a Igreja.
Isso mesmo vai exemplificar um estudo, nesta tarde de Sexta-feira, aos participantes da Assembleia Plenária dos bispos europeus. A análise feita nos países europeus apresenta diferentes relacionamentos entre Igreja e Estados consoante os diferentes países e faz a apreciação sobre a posição da Igreja em situações sociais.
Sublinha o secretário geral da CCEE que as relações Igreja e Estado, nos diferentes países, são “desafios e não problemas”.
“Enfrentamos tudo isso com esperança”, afirma o Pe. Duarte Cunha, apesar de reconhecer que há países, “especialmente aqueles onde a Igreja é minoritária e não é reconhecida, que passam verdadeiras dificuldades”.
Mas, indica o secretário da CCEE, o que é urgente é o anúncio do Evangelho. “Os desafios advêm da falta de conhecimento do que a Igreja acredita ser a verdade e a verdade de Cristo”.
O desrespeito pelo valor da vida, “o aborto, a eutanásia, as experiências com células estaminais, são propostas como valores de liberdade e direitos, mas na realidade são atentados à pessoa humana”.
Os bispos da CCEE apostam na colaboração e comunhão entre todos. “Assim como os problemas se multiplicam pela proximidade na globalização, a procura de soluções e de encarar desafios podem ser partilhados, dando lugar a sinergias”, elucida o Pe. Duarte Cunha. A Assembleia plenária é um encontro de testemunhos que “mostram como as várias Igrejas europeias estão a enfrentar os desafios”.
Ecumenismo, questões sociais, media, imigração, cultura digital são temas em cima da mesa que “podem surgir como propostas futuras”.
As dioceses são independentes assim como as próprias Conferências Episcopais da Europa. “As decisões não serão políticas, mas de sinergias e de comunhão”. Mas o Pe. Duarte Cunha assume que no Domingo, dia em que a Assembleia Plenária termina, “possa haver indicações, inclusive para o trabalho interno da CCEE”.
Encontro com Sarkozy
O início da tarde desta Sexta-feira levou uma delegação da Assembleia Plenária dos bispos da CCEE ao encontro de Nicholas Sarkozy. O habitual encontro entre as autoridades civis do país que acolhe a Assembleia plenária e os membros da CCEE, foi alterado pelo presidente francês que solicitou “o encontro com uma delegação para que se pudessem sentar à mesa e contrariar o discurso circunstancial”, dá conta o secretário geral da CCEE.
Necessariamente as relações Igreja/Estado, tema da Assembleia Plenária, estará em cima da mesa no encontro no Palácio do Eliseu. “A laicidade vai estar presente, certamente”. Mas também temas que interessam à própria França como a imigração e a família.
Esta será uma “oportunidade única para o Presidente francês estar em contacto com a Igreja, pois estarão presentes vários Cardeais e bispos”, sugere o secretário geral da CCEE.