Missão: desafios e horizontes

“O compromisso urgente e inadiável de anunciar o Evangelho” (Mensagem para o Outubro Missionário/2009) são palavras que fazem ressoar na nossa mente o início da encíclica “Redemptoris Missio” de João Paulo II: “uma visão de conjunto da humanidade mostra que a Missão de Cristo Redentor, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento, está ainda no seu começo e devemos empenhar-nos com todas as forças no Seu serviço”.

A missão assim compreendida em contexto de urgência, suscita naturalmente muitas questões: como podemos continuar a proclamar Lc. 4,18, ao mundo: “o Espírito do Senhor me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres (…)”? Como pode a Igreja ajudar a minimizar a marginalização causada pelo processo de globalização? Como pode a Igreja contribuir para o esforço global de uma globalização civilizada, solidária e respeitadora da pessoa humana? Enfim, como contribuir para que a acção de Deus fermente nossa cultura globalizada?

Uma vez que a salvação operada por Jesus através do Mistério Pascal é única e universal, o mesmo é dizer global, e que o Espírito Santo está activo em cada tempo e lugar e, por isso, a operar globalmente, até podemos compreender a missão dentro do paradigma da globalização, encarando-a como oportunidade única para a missão.

Quando há alguns anos atrás a Comissão Nacional Justiça e Paz organizou o Fórum “Globalizar a Paz – Construir um Mundo Justo”, o enunciado das sessões temáticas apontava justamente para este novo olhar sobre a missão: trabalho, economia e sociedade; Direitos Humanos: utopia ou realidade? aprender a Paz: a escola, os media, a família, a Igreja; as religiões e a construção da Paz. Recordo bem que perplexidade e esperança foram sentimentos que constantemente se cruzavam naquele Fórum, não para paralisar consciências mas para reafirmar que, segundo a perspectiva cristã, o jeito cristão de estar no mundo, isto é, a missão, não é para gerir o possível mas para tornar possível o necessário.

Tendo em conta os desafios que se colocam á missão hoje, que horizontes se lhe abrem? Os colaboradores da missão, – que é sempre, só e apenas Missão Trinitária – parecem perceber que  o Espírito lhes está  a sugerir alguns  movimentos:

Um movimento para fora. Ao encontro com outros povos, culturas e religiões.

Um movimento para todos. O Espírito não exclui ninguém; Ele quer a todos envolver, como o vento, que ninguém sabe de onde vem, nem para onde vai.

Um movimento para os pobres. O Espírito faz-nos olhar para o rosto dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos. Mas, ao mesmo tempo, desperta dentro de nós um inexplicável sentido de solidariedade que nos faz trabalhar pela paz, pelo respeito pela dignidade humana, pelos Direitos Humanos, pela justiça e reconciliação e pela integridade da criação.

Um movimento para o futuro. O Espírito gera esperança no futuro, mesmo nas situações mais caóticas de dor, violência e cenários de morte.

Um movimento para a terra. O Espírito estimula-nos a assumir uma atitude de responsabilidade para com a casa comum, isto é, o planeta terra: respeito pelas criaturas justiça ambiental, defesa da Amazónia, novo relacionamento com a natureza, superação da lógica do mercado, etc.

A agenda da missão é determinada pela leitura dos sinais dos tempos, isto é, pela compreensão actualizada e contextualizada d`”as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (G.S. 1). A esta luz vale a pena referir que uma das grandes realizações dos tempos pós-concilares, os Sínodos por continentes, têm como primeiro objectivo perguntar-se: onde nos conduz o Espírito, neste momento da vida do povo do nosso continente? É nesses momentos eclesiais de escuta, partilha e discernimento que se vai percebendo quais os novos horizontes da missão hoje. Na América Latina, continente da esperança, a missão percorre caminhos novos. Na América do Norte, a missão passa pela questão dos valores. Na Ásia, a missão é sobretudo diálogo. Na Europa, a missão supõe acolher, com humildade, novos apelos missionários. Na Oceânia, a missão é ponto de encontro entre a cultura aborígene e a modernidade. Na África, a missão é serviço da reconciliação, da reconstrução da justiça, da paz e da integridade da criação.

Carregar os desafios e abrir-se aos novos horizontes da missão hoje, supõe uma atitude fundamental de contemplação: acreditar profundamente no Cristo Ressuscitado e proclamar, à luz da plenitude escatológica, “um novo céu e uma nova terra”. O Deus connosco é sempre o Deus que caminha diante de nós. Ele é o futuro para a criação, para a humanidade e para a Igreja. Esta é a atitude própria dos missionários/as que, com a força do Espírito de Cristo, aceitam andar em contra-mão nesta sociedade globalizada, para semear vida e esperança.

Pe. Eduardo Miranda, Conselheiro Geral dos Missionários Espiritanos

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